Funcionários haitianos e norte-americanos pretendem julgar, nos Estados Unidos, os dez norte-americanos que foram detidos quando tentavam retirar um ônibus com 33 crianças do Haiti sem documentos ou permissão para o transporte.
A abortada "missão de resgate" realizada por fiéis de igrejas batistas de Idaho (EUA) tornou-se um problema para um governo que tenta fornecer serviços básicos para milhões de sobreviventes do terremoto. O tribunal e o Ministério de Justiça foram destruídos pelo terremoto, que também matou vários funcionários judiciais.
O governo afirmou que os norte-americanos embora bem-intencionados devem ser processados para que haja uma forte mensagem contra o tráfico de crianças. "Não deve haver questões sobre tirar nossas crianças das ruas e de nosso país", disse a ministra das Comunicações, Marie-Laurence Jocelin Lassegue.
Segundo a ministra, "é o juiz que decidirá se serão processados aqui no Haiti ou nos Estados Unidos, baseando-se na lei haitiana.
A transferência seria realizada por uma questão logística, já que o terremoto do último dia 12 destruiu o prédio do Ministério de Justiça e matou vários funcionários do governo.
Em declarações à imprensa, a ministra ressaltou que o Haiti tem seu sistema judiciário e seus procedimentos e pediu respeito às normas do país.
Desde a prisão, na sexta-feira, perto da fronteira, o grupo de fiéis é mantido dentro de duas salas de concreto no mesmo quartel-general judicial onde os ministro têm escritórios de campanha e recebem informações sobre o terremoto. Os integrantes do grupo não haviam sido acusados formalmente até o fechamento desta edição.
Um de seus advogados disse que eles são maltratados. "Não há ar-condicionado, nem eletricidade", disse o advogado Jorge Puello, na República Dominicana, onde os batistas esperavam abrigar as crianças num hotel alugado.
O grupo de batistas disse que estava apenas tentando resgatar crianças abandonadas, mas investigadores tentavam descobrir como eles conseguiram as crianças e se algum traficante está envolvido no caso. O grupo, formado por cinco homens e cinco mulheres, integra a ONG New Life Childrens Refuge.
"Órfãos"
Além da acusação de sequestro, algumas das crianças haitianas levadas por norte-americanos, em uma tentativa de tirá-las do país, teria família, segundo relatos da imprensa nesta segunda-feira.
A ministra Lassegue afirmou ainda que as autoridades haitianas estão conscientes de que, após o terremoto, houve muitas tentativas de roubos de crianças. Citando dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), ela disse que há crianças haitianas sendo vendidas por US$ 25 mil.
A ministra ressaltou que a vigilância nas fronteiras e no aeroporto da capital foi reforçada para evitar a saída de crianças sem documentação adequada.
Estima-se que o terremoto tenha matado 200 mil pessoas e deixado mais de 1 milhão de desabrigados no Haiti. Autoridades locais temem que o caos estimule a atuação de traficantes de menores.