Foi tudo muito bonito e emocionante. A vitória do filme tailandês Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives ("Tio Boonmee Que Consegue Se Lembrar de Suas Vidas Passadas", em tradução livre), foi o triunfo do cinema de autor, celebrado pelo presidente do júri do Festival de Cannes deste ano, o cineasta norte-americano Tim Burton. Na coletiva de apresentação do júri, integrado, entre outros, pelo diretor espanhol Victor Erice, pelo ator Benício Del Toro e pelas atrizes Kate Beckinsale e Vittoria Mezzogiorno, ele já afirmara seu compromisso com a diversidade, dizendo que queria ser surpreendido pelo cinema não hollywoodiano. Burton colocou-se à frente dos próprios críticos, que premiaram um filme meio autoral, meio comercial Tournée, do também ator Mathieu Amalric, astro de O Escafandro e a Borboleta.
A escolha de Burton foi por um dos filmes mais radicais desta edição. O vencedor, Apíchatpong Weerasethakul, declarou-se não apenas feliz e honrado com a Palma, mas também disse esperar que ela seja um elemento de pacificação em seu país, dividido por conflitos políticos.
A política, aliás, dera o tom à cerimônia de premiação. Logo na abertura, a apresentadora Kristion Scott Thomas apontou para a poltrona vazia de Jafar Panahi e lembrou que o diretor iraniano, preso em seu país sem acusação formal, completou ontem nove dias de greve de fome. Juliette Binoche, vencedora do prêmio de melhor atriz por Copie Conbforme, de Abbas Kiarostami de quem Panahi foi assistente , levantou um cartaz com o nome do cineasta. O ator italiano Elio Germano dividiu o prêmio de interpretação masculina com o espanhol Javier Bardem, de Biutiful, de Alejandro González-Iñárritu. Germano ganhou seu prêmio por La Nostra Vita, de Daniele Luchetti. Enquanto Bardem dedicava seu prêmio a Penélope Cruz ela ficou meio sem graça quando ele a chamou de "mi amor, mi vida" , Germano bateu forte na classe dirigente italiana. Dedicou o prêmio à Itália e aos italianos, que lutam por uma vida melhor, apesar "de nossos governantes".