Técnicos da agência espacial russa, Roscosmos, ainda estão tentando retomar o contato com a sonda Phobos-Grunt, lançada na noite de terça-feira com destino a uma das luas de Marte. Os motores da nave não funcionaram depois de sua separação do foguete lançador, provavelmente devido a uma falha em seu sistema de orientação. Isso impediu que a sonda entrasse na rota para o planeta vermelho, deixando-a presa na órbita da Terra.
Até agora, os controladores da missão russos não conseguiram estabelecer contato com a nave não tripulada US$ 163 milhões, deixando pouca esperança de recuperação da ambiciosa missão que visava reafirmar o lugar da Rússia na linha de frente da exploração espacial. O objetivo da Phobos-Grunt era dos mais ousados: trazer à Terra, pela primeira vez, amostras do solo de um dos satélites do planeta vermelho. Mas a missão que poderia mostrar ao mundo a supremacia russa - num momento em que a Nasa atravessa uma das piores fases de sua história - está se transformando num pesadelo.
"Até agora todos os esforços para se comunicar com a nave não tiveram sucesso - disse à Reuters o cientista líder da missão, Alexander Zakharov, do Instituto de Pesquisa Espacial de Moscou. - Eles estão tentando de tudo, incluindo métodos visuais, para tentar avaliar o que está errado com ela, mas está claro que a situação não inspira muita esperança.
Os cientistas russos têm só três dias - duração prevista das baterias de emergência da Phobos-Grunt - para solucionar o problema. Se ele for na programação, são maiores as chances de isso acontecer, mas se for no equipamento elas diminuem consideravelmente. Uma alternativa para ganhar tempo seria desdobrar os painéis solares da nave, mas ainda não se sabe se é possível fazer isso, sem contar o risco de eles serem danificados na viagem até Marte, pois não poderão ser recolhidos novamente. Ainda assim, o prazo para achar uma solução continuaria limitado, já que a "janela" da melhor rota para o planeta fica aberta por apenas mais duas semanas, após as quais ou a sonda não conseguiria alcançá-lo ou passaria direto por ele.
Para complicar ainda mais a situação, os técnicos têm apenas algumas horas por dia para tentar contactar a sonda devido à capacidade limitada da rede de comunicações espaciais do país. Diante disso, a Agência Espacial Europeia (ESA) anunciou que também tentará se conectar com a Phobos-Grunt.
"Hoje (quinta-feira) colocarem para trabalhar nossas estações em Kourou (Guiana Francesa) e na Austrália em busca de sinais da Phobos-Grunt", disse René Pichel, chefe do escritória da ESA em Moscou, à agência Interfax. "Se conseguirmos obter informações do equipamento, nós as enviaremos a nossos colegas russos."
Ainda assim, a ESA terá apenas entre seis e nove minutos para tentar contactar a sonda, já que ela se encontra em uma órbita baixa, destacou Pichel, acrescentando que a agência está à disposição para prestar ajuda também no processo de retomada do controle da nave caso o contato seja feito. Especialistas europeus participaram consideravelmente da criação da Phobos-Grunt, em particular do desenho de seu sistema magnético de plasma, do espectrômetro de nêutrons e outros instrumentos a bordo.
A Phobos-Grunt é a primeira missão interplanetária projetada pela Rússia em mais de uma década e o incidente arrisca incluí-la em uma longa lista de fracassos na história da exploração de Marte pelo país. A "maldição" marciana vem desde os anos 60, época em que a extinta União Soviética travava uma verdadeira corrida espacial com os EUA. De lá para cá, nenhuma das 16 missões do país para o planeta vermelho pôde ser considerada um completo sucesso, mas muitas foram fracassos retumbantes, explodindo logo após o lançamento, como a última, a Mars-96, lançada 15 anos atrás, ou sendo perdidas no espaço.
A nave de cerca de 13 toneladas também carrega o Yinghuo-1, primeiro satélite chinês destinado a estudar Marte, e alguns dos mais resistentes micro-organismos da Terra como parte do experimento "LIFE", destinado a estudar a resistência de organismos vivos a viagens interplanetárias. A Phobos-Grunt corre o risco ainda de se tornar uma das mais perigosas peças de lixo espacial na órbita da Terra. Com 12 toneladas, a maior parte de sua massa é composta por combustíveis altamente tóxicos que deveriam ser gastos na viagem para Marte e que poderiam se espalhar pelo ambiente em caso de queda.
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