O governo de Israel anunciou ontem que não deve transferir os impostos arrecadados neste mês de novembro em nome da Autoridade Nacional Palestina (ANP) em reação à decisão da Organização das Nações Unidas (ONU) que concedeu à Palestina o status de Estado observador não membro.
É a mais nova retaliação de Tel Aviv contra a liderança palestina. No dia seguinte à votação na sede da ONU, em Nova York, o governo do premiê Benjamin Netanyahu já havia autorizado a construção de 3 mil imóveis novos em áreas da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental que foram ocupadas na Guerra dos Seis Dias (1967).
O montante bloqueado chega a US$ 100 milhões (R$ 213 milhões) e representa cerca de 50% do exíguo orçamento palestino. Com problemas financeiros e um comando limitado sobre a Cisjordânia ocupada, a ANP depende amplamente do dinheiro mensal para pagar o funcionalismo público.
"Eu não penso em transferir dinheiro neste mês. Vou usá-lo para pagar pelas dívidas que a ANP contraiu com a empresa de eletricidade", disse o ministro das Finanças de Israel, Yuval Steinitz, numa reunião de gabinete, de acordo com o site do jornal Yedioth Ahronoth.
Em virtude dos Acordos de Paris de 1995, protocolo econômico dos Acordos de Oslo, o Ministério da Fazenda de Israel é que arrecada todos os meses para a ANP taxas de produtos que entram na Cisjordânia e também de palestinos que trabalham em Israel.
Segundo o ministro israelense, a arrecadação do mês de novembro, que deveria ser repassada por volta do dia 5, será usada para pagar a dívida de 700 milhões de shekels (R$ 392 milhões) que a ANP acumulou nos últimos anos com a empresa nacional de eletricidade de Israel.
Steinitz qualificou o pedido dos palestinos à ONU de "provocação" e disse que, com o respaldo internacional, o que os palestinos buscam é "conseguir um Estado sem ter de reconhecer Israel, sem [se comprometer] com o desarmamento e sem mecanismos de segurança" para os israelenses.
Fontes diplomáticas israelenses que pediram para não ser identificadas disseram que o Ministério das Finanças não cobrava a dívida em um "gesto de boa vontade".
Na semana passada, a empresa israelense de eletricidade teve de pedir um empréstimo especial aos bancos, com garantia do governo, para tapar um rombo de mais de 1 bilhão de shekels (R$ 560 milhões).
Abbas prega reconciliação nacional
Folhapress
Uma multidão em festa recebeu ontem o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, no seu retorno à Cisjordânia depois da conquista na Organização das Nações Unidas (ONU), por 138 votos contra 9, do status para a Palestina de "entidade observadora" para o de "Estado observador não membro".
"Nós agora temos um Estado", disse Abbas ao iniciar o seu discurso televisionado, no centro da cidade de Ramallah, que é a maior da Cisjordânia e a sede do governo da ANP. "A mensagem foi clara. Não estamos sós. O mundo está conosco, e Deus todo-poderoso também."
No discurso, Abbas enfatizou a necessidade de unidade nacional, em um sinal de disposição para negociar novamente com o movimento radical islâmico Hamas, que governa a faixa de Gaza. "O mundo escreveu a certidão de nascimento do Estado da Palestina", disse. Segundo ele, a iniciativa é uma vitória de todos os palestinos, "de todas as forças políticas".
O Hamas surpreendeu ao dar apoio ao pedido de elevação de status na ONU. A reconciliação entre o Hamas e o partido Fatah, de Abbas, é importante para colocar ambos os territórios palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza sob a mesma liderança.
Para o governo de Israel, a elevação foi uma derrota, já que ele defende que o Estado palestino só pode ser reconhecido no âmbito das negociações de paz. No dia seguinte à votação, o governo do premiê Benjamin Netanyahu autorizou a construção de 3 mil imóveis em assentamentos judaicos situados na Cisjordânia e Jerusalém Oriental ocupadas na Guerra dos Seis Dias (1967), pelo que foi bastante criticado.
Os assentamentos judaicos em territórios palestinos ocupados são vistos pela comunidade internacional como obstáculos à paz na medida em que visariam anexar território e, consequentemente, inviabilizar a declaração de Jerusalém Oriental como capital do Estado palestino, a exemplo do que Abbas reivindicou na ONU.
No seu discurso, ontem, ele chamou Jerusalém de "eterna capital do Estado da Palestina".
Disse ainda que não teria ido à ONU se temesse alguma das ameaças que recebeu. Tanto Israel quanto os EUA ameaçaram cortar repasses à ANP caso a votação na ONU ocorresse e aliados de Abbas, como a Liga Árabe, saíram em sua defesa, se oferecendo para lhe dar dinheiro.