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Monge medita no fim da tarde no templo Wat Dhamm­akaya, em Bangk­ok | Lauren Decicca/NYT
Monge medita no fim da tarde no templo Wat Dhamm­akaya, em Bangk­ok| Foto: Lauren Decicca/NYT

Esse é o templo da nova Tailândia: limpo, sem adornos, de alta tecnologia e sem vergonha de rezar pela riqueza.

“Sente aqui e fique rico”, diziam as medalhas encravadas no chão abaixo de cada cadeira de plástico branco em um enorme centro de meditação. Em seus sermões, o carismático líder do templo, Phra Dhammachayo, de 72 anos, muitas vezes clama: “Fique rico, fique rico, fique rico!”

Com seu apoio aos confortos mundanos e sua abordagem pragmática do ritual, o templo, conhecido como Wat Dhammakaya, o maior da Tailândia, atraiu o apoio de um número crescente de seguidores em um movimento cuja popularidade incomoda o governo e a hierarquia budista.

O templo é manifestação espiritual das transformações econômicas e sociais que abalaram a Tailândia. O boom econômico dos anos 1980 gerou uma classe média endinheirada para quem ganhar dinheiro era um valor tão importante quanto as tradições budistas. Eles precisavam de algo que unisse as duas coisas.

Caixas eletrônicos foram convenientemente instalados ao lado do salão de meditação com telas que dizem: “Atalho para o mérito”, a importante virtude de fazer o bem. E para que o mérito seja ainda maior, os pontos do programa de fidelidade do cartão de crédito conquistados com a transação são transferidos diretamente para o templo.

“Buda nunca nos ensinou a viver uma vida de negação”, afirmou o porta-voz do templo, Phra Pasura Dantamano, acrescentando que “Buda ensina a moderação, mas existem diferentes níveis da sociedade. Se eu fosse um empresário, ou um agricultor, eu definiria a moderação em termos diferentes”.

Essa perspectiva é bastante diferente do Budismo Tailandês tradicional, que geralmente aceita menos a riqueza, de acordo com Suwanna Satha-Anand, professora de Filosofia na Universidade Chulalongkorn.

“Eles criaram a possibilidade de uma nova forma de budismo que é amigável ao capitalismo e à riqueza. Essa é a voz da classe média ou da classe alta da cidade, em busca de uma imagem moderna do budismo.”

Sites bem desenvolvidos prometem uma forma de meditação que é “simples, fácil e eficaz”. O próprio templo manifesta a limpeza e a eficiência de braços dados com a sofisticação tecnológica. Os enormes prédios quadrados são ostensivamente simples, com acabamento de concreto cinza sem pintura. Não há pináculos, existem poucos sinos e quase nenhum incenso.

O que não significa que falte grandiosidade. A peça central é um enorme domo achatado que o próprio templo afirma ser parecido com um disco voador. Tudo tem aparência de riqueza. A superfície do domo consiste em 300 mil estatuetas de Buda feitas de ouro e silício, cada uma delas do tamanho de uma mão aberta, exibindo o nome do doador – e sugerindo a doação de cem mil baht, ou cerca de US$ 300.

Em ocasiões especiais, o grande pátio em torno do domo se torna o cenário de encontros espetaculares – dezenas de milhares de monges vestidos de laranja e fiéis em vestes brancas –, assemelhando-se à maior das cerimônias de abertura dos Jogos Olímpicos. Os monges andam em volta do domo como se as estatuetas tivessem ganhado vida e, então, se sentam em filas perfeitamente retas, que parecem se alinhar até o horizonte. À noite, andam com lanternas nas mãos, e milhares de balõezinhos iluminados sobem aos céus.

Para ficar em harmonia com o design do templo, até mesmo essas amostras extravagantes são marcadas por uma ordem e precisão quase militares.

Frequentadores do templo Wat Dhammakaya em um sino da sala de meditaçãoLauren Decicca/NYT

Ameaça

A mesma ascensão rápida que inspirou a popularidade de Wat Dhammakaya também destaca as divisões políticas e os casos de violência que abalaram a Tailândia nos últimos anos.

Essas divisões estão sendo mantidas sob controle pela junta militar que tomou o poder em 2014. “Quando centenas de milhares de devotos vêm para cá, algumas pessoas poderosas ficam assustadas”, afirmou Phra Pasura.

Ele comparou o movimento Dhammakaya à ascensão populista de Thaksin Shinawatra, o primeiro-ministro que foi derrubado em outro golpe, em 2006, e que agora vive exilado.

“As pessoas temem que nos tornemos uma ameaça, se continuarmos a crescer”, afirmou Phra Pasura. Embora não dê estimativas precisas do número de seguidores, ele afirma que há centenas de milhares.

Neste momento, o governo abriu inúmeros processos contra Phra Dhammachayo, entre os quais o mais importante é a acusação de fraude de US$ 40 milhões junto à união de crédito. Ele afirma que não tinha ciência da fonte do dinheiro e que seus seguidores já pagaram a dívida.

Contudo o governo ainda tenta levá-lo aos tribunais.

Phra Dhammachayo continua a ser uma figura magnética que atrai a devoção intensa de seus seguidores.

“Sou o que sou por causa dele”, afirmou Watjana Suriyatham, de 51 anos, professor assistente de Inglês na Universidade Thammasat.

Mirella Kampus, de 34 anos, cidadã suíça que faz parte da equipe, afirmou que já vive no templo há seis anos e que encontrou sua missão no local.

“Se eu não o tivesse conhecido, minha vida seria difícil. Eu não teria razão para viver.”

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