Estudantes reúnem fotos e vídeos com agressões
Caracas Um grupo de estudantes prepara-se para apresentar ao Ministério Público da Venezuela provas e denúncias dos ataques de que foram vítimas na quarta-feira quando quatro deles foram feridos a bala.
Ricardo Sánchez, vice-secretário do grêmio estudantil da Universidade Central da Venezuela (UCV), disse ontem que está de posse de 14 vídeos e 126 fotografias dos episódios de violência, principalmente registrados por celulares.
"Todos estamos incomodados, sentimos raiva e impotência ante os acontecimentos, mas continuaremos protestando de forma pacífica. Todos sabemos de que lado estão as armas", disse Sánchez a um grupo de jornalistas e estudantes no campus universitário.
Ele destacou que "tem contabilizado ao longo da semana mais de 120 estudantes feridos (a maioria ferimentos leves) e 85 detidos" em incidentes registrados nas universidades do país.
Sánchez disse que entre os episódios mais graves, além do registrado ontem na Universidade Central, estão os dos Estados andinos de Táchira e Mérida (sudoeste).
Ontem de manhã um grupo de estudantes da Universidade Metropolitana foi dispersado com granadas de gás lacrimogêneo a leste de Caracas. Alguns foram detidos e levados em caminhões pela polícia de choque.
Segundo o vice-ministro do Interior, Tarek El Aissami, 56 policiais foram feridos nos confrontos.
O Governo dos Estados Unidos classificou como "vergonhosos" os disparos efetuados durante o protesto de estudantes.
Caracas A menos de um mês do referendo sobre a reforma constitucional, a tensão aumenta cada vez mais na Venezuela. Ontem, um dia depois de um ataque dentro do campus da Universidade Central da Venezuela (UCV), as autoridades universitárias acusaram o presidente Hugo Chávez de incentivar a violência.
Quatro estudantes foram baleados por homens armados que invadiram o campus da UCV, a maior universidade do país. Dois dos feridos estão em estado grave.
"Pedimos às autoridades, ao presidente Chávez e aos representantes do governo que deixem de incentivar a violência", declarou o vice-reitor da UCV, Eleazar Narvaez, durante uma entrevista coletiva. "Chega desse incentivo à violência, desta linguagem de promoção do enfrentamento entre os grupos: os ricos contra os pobres. O país pede paz, harmonia, coabitação entre todos os venezuelanos", prosseguiu.
No fim de semana passado, Chávez preconizou "linha dura" contra os estudantes contrários a sua reforma da Constituição, que prevê o fortalecimento de seus poderes e a instauração de um estado socialista. "Não vamos tolerar que esses filhinhos de papai nascidos com uma colher de prata na boca venham devastar o centro de Caracas", declarou então o presidente.
De acordo com os dirigentes universitários, cerca de 60 pessoas que circulavam de moto entraram no campus antes de abrir fogo contra estudantes que voltavam de uma manifestação contra a reforma. Depois de terem incendiado um ônibus, os autores da agressão, que não foram identificados, se entrincheiraram num edifício universitário e atiraram pelas janelas, constatou um jornalista da AFP.
"O grupo armado seqüestrou durante várias horas professores, estudantes e funcionários", afirmou Narvaez. "Essas pessoas, mascaradas e armadas, foram auxiliadas por vários veículos que irromperam repentinamente e com violência no recinto universitário, apesar da presença de policiais na entrada", observou.
Os estudantes, que pedem o adiamento do referendo popular sobre a reforma constitucional previsto para o dia 2 de dezembro, anunciaram a intenção de prestar queixa no ministério público depois do ataque da universidade.
O ministro do Interior, Pedro Carreño, garantiu que o governo rejeita "categoricamente esses atos de violência", e incentivou as autoridades universitárias a "refletir". "Diante desta situação de desestabilização, os reitores devem assumir sua responsabilidade para garantir a ordem", declarou.
A nova Constituição dá ao chefe de Estado, reeleito em dezembro passado para mais um mandato de seis anos, a possibilidade de se candidatar à eleição presidencial quantas vezes quiser. Uma disposição também permite decretar um "estado de exceção" que autoriza a censura pura e simples da imprensa. No âmbito econômico, a reforma acaba com a autonomia do banco central e proclama o prosseguimento das nacionalizações.