O presidente dos EUA, Donald Trump, está incitando uma guerra comercial, minando a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e pintando a Europa como um inimigo. Não é de admirar, então, que a União Europeia esteja à procura de amigos em outros lugares que não os EUA.
Em Tóquio, fechou seu maior acordo: um pacto com o Japão que vai reduzir os direitos aduaneiros sobre produtos como vinhos e queijos europeus com uma redução gradual das tarifas sobre os carros. Cobrirá um quarto da economia global – em certos aspectos, a maior área de livre comércio do mundo – e é a mais recente de uma série de medidas já realizadas, ou em negociação, com países como Austrália, Vietnã e mesmo a China.
Esse e outros acordos que estão sendo negociados, apontam para uma Europa mais assertiva, que está deixando de lado os laços tênues com os Estados Unidos e até mesmo a saída iminente do Reino Unido do bloco. Nos últimos meses, os dirigentes da UE vêm transmitindo uma retórica cada vez mais confiante em favor do livre comércio, recusando-se a recuar perante a ameaça de tarifas de Washington e, em vez disso, cortejando novas relações de forma agressiva.
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Mas, não importa quantas barreiras ao comércio internacional consiga derrubar, seus líderes não mudarão um fato econômico da vida: os Estados Unidos continuam a ser o maior parceiro comercial do continente. E não há como fugir dos danos da campanha de Trump contra importações de carros e de aço.
"Os Estados Unidos são um mercado muito grande; os outros acordos são reparação de danos, não compensação", afirmou Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg, banco com sede em Hamburgo, na Alemanha.
Autoridades europeias começaram a intensificar os esforços para fechar parcerias comerciais com outros países depois que a eleição de Trump desferiu o golpe de misericórdia nas negociações de um amplo acordo com os Estados Unidos. Agentes de ambos os lados do Atlântico trabalhavam desde 2013 para eliminar tarifas e harmonizar regulamentos para produtos automobilísticos e farmacêuticos, mas as tratativas foram paralisadas no final da administração Obama e indefinidamente adiadas no final de 2016.
A Europa, porém, não ficou parada, continuando a busca por outros negócios.
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Enquanto o presidente ameaçava acabar com o Acordo de Livre Comércio Norte-americano (NAFTA), a União Europeia dava os últimos toques em um pacto comercial com o Canadá, que entrou em vigor no final do ano passado.
E também negocia a atualização de um acordo de livre comércio com o México, que deve ser finalizada até o final do ano. Acordos com o Vietnã e Cingapura estão passando pelos estágios finais de aprovação.
Negociações também estão em andamento com uma longa lista de países que incluem Austrália, Chile, Indonésia, Nova Zelândia, Tunísia e os países do Mercosul – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A UE e a Índia reabriram as negociações interrompidas em 2013.
"Estamos tendo um mês muito movimentado", disse em junho Cecilia Malmstrom, comissária europeia para o comércio, depois de retornar de uma visita à Austrália e à Nova Zelândia.
Acordos comerciais levam anos para serem fechados e os trabalhos nos pactos mais recentes começaram antes da eleição de Trump: as conversações com o Japão, por exemplo, foram iniciadas em 2012. Mas Pascal Lamy, ex-diretor geral da Organização Mundial do Comércio, disse que a ofensiva diplomática da UE "se encaixa na noção de que você não precisa dos EUA para o livre comércio".
Relações com a China
O bloco está até mesmo negociando com a China, ainda que esteja adotando a mesma cautela dos americanos em relação às intenções chinesas, já que também não quer se tornar dependente desse país.
Entretanto a UE optou por uma abordagem diferente. Washington está ameaçando Pequim com tarifas que poderiam abranger quase todas as importações da China para os Estados Unidos como uma maneira de subjugar o país; as autoridades em Bruxelas, por outro lado, negociam um acordo que daria às suas empresas mais controle sobre seus investimentos, por exemplo, permitindo-lhes que sejam proprietárias de suas operações de forma definitiva, em vez da exigência de trabalho com parceiros chineses.
No entanto, a capacidade da China de se aproximar da União Europeia é limitada, graças à desconfiança que marcou as relações recentes das duas potências.
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Entre os dois, paira a questão da venda de painéis solares chineses na Europa, que pode ser configurada como dumping (prática comercial em que uma ou mais empresas vendem seus produtos por preços abaixo de seu valor justo para outro país por um tempo, visando prejudicar e eliminar os fabricantes locais de produtos similares). Além disso, em uma reunião no ano passado, não houve acordo em relação a uma declaração conjunta sobre as alterações climáticas, porque discordaram sobre se a China deve ou não ser considerada uma "economia de mercado", denominação que garantiria ao país um tratamento preferencial na OMC.
A chanceler alemã, Angela Merkel, se reuniu em Berlim com Li Keqiang, primeiro-ministro chinês para supervisionarem, juntos, a assinatura de numerosos acordos de cooperação entre empresas chinesas e alemãs. Um deles permitirá que a BASF, empresa química alemã, gaste US$ 10 bilhões construindo uma fábrica própria no sul da China.
Porém, esse negócio também ressalta como a abertura na China tem sido lenta.
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"Houve uma grande mudança nas mensagens que vêm das companhias europeias baseadas na China; elas costumavam formar um forte lobby em prol do país, mas agora se tornaram muito críticas", disse Mark Leonard, um dos fundadores e diretor do Conselho Europeu de Relações Exteriores.
Redução das tarifas no comércio com o Japão
Depois da China, o Japão é o segundo maior parceiro comercial da UE na Ásia. O acordo assinado em Tóquio pelo primeiro-ministro japonês Shinzo Abe e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, vai eliminar um bilhão de euros, ou US$ 1,2 bilhão, em tarifas que as empresas europeias pagam por ano.
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Quando o tratado entrar em vigor, em 2019, produzirá um aumento no comércio de 16% a 24%, segundo estimativas da Comissão Europeia, o braço executivo da UE. Os produtores regionais de alimentos, que estão sujeitos a duras tarifas no Japão, poderão ser os maiores beneficiários. Fabricantes japoneses também vão lucrar com uma redução das tarifas que ajudaram a impedir que a Toyota fosse tão grande na Europa quanto é nos Estados Unidos.
"É uma luz na escuridão crescente da política internacional. Tenho certeza absoluta que você sabe o que quero dizer", disse Tusk sobre o acordo comercial.