A tensão política e social cresce notoriamente na sexta-feira na Bolívia, a poucas horas da abertura de assembléias populares convocadas por líderes de oposição em quatro cidades para exigir autonomia em relação a La Paz.
Embora o Comitê Cívico de Santa Cruz, organizador das manifestações, descarte uma declaração de independência, em grande parte do país se multiplicam os pronunciamentos em defesa da unidade boliviana.
Na manhã de sexta-feira, pelo menos 24 pessoas ficaram feridas em um confronto entre simpatizantes e opositores dos ''cabildos'' (assembléias populares) numa colônia rural de Santa Cruz, segundo emissoras de rádio. Pelo menos oito foram feridos a bala, segundo a agência Associated Press.
- Ninguém vai manchar a festa democrática que será a assembléia, que mostrará a força da demanda autonomista - disse a jornalistas o presidente do Comitê Cívico cruzenho, Germán Antelo, assegurando por volta de 12h, quatro horas antes da instalação da assembléia, que não há mais relatos de violência na localidade de San Julián. Segundo o porta-voz do governo, Alex Contreras, os confrontos cessaram quando chegaram cem policiais ao local. Eles dispersaram a multidão usando gás lacrimogênio.
O presidente Evo Morales anunciou em visita ao sul do país que o governo decidiu aceitar o pedido da oposição de rever uma polêmica regra de votação da Assembléia Constituinte, o que deu origem aos protestos.
Com essa revisão, quase todas as decisões da Constituinte precisarão ser aprovadas por dois terços dos votos, como queria a oposição, o que obrigará a acordos entre a maioria governista e as minorias, segundo o deputado René Navarro.
- Consideramos que a aceitação dos dois terços é algo inescapável, e saudamos a abertura do governo - disse o político centrista e magnata do cimento Samuel Doria Medina, ao anunciar o fim de todas as greves de fome declaradas desde o mês passado em defesa dos dois terços.
Doria Medina havia iniciado os jejuns voluntários contra as regras da Constituinte, protesto que terminou se transformando no movimento autonomista centrado em Santa Cruz, reduto da direita política e econômica do país.
A Constituinte, antiga exigência dos movimentos sociais, foi eleita em julho para redigir uma nova Constituição e definir o alcance de um regime de autonomias, que em um referendo simultâneo foi respaldado por apenas quatro dos nove Departamentos (Estados) bolivianos.
Morales quer "refundar'' a Bolívia com a nova Constituição, dando à maioria indígena maior participação na vida pública e consolidando suas reformas econômicas e políticas.