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Curitiba – No fim desta semana, exatamente na próxima sexta-feira, vencerá o prazo dado pelo Conselho de Segurança da ONU para que o Irã termine com toda e qualquer atividade nuclear em desenvolvimento no país. Sob a tutela do guia espiritual Ali Khamenei e através da figura do presidente Mahmoud Ahmadinejad, o Irã declarou recentemente seu sucesso em enriquecer urânio, etapa importante no processo de fabricação de bombas nucleares. O país afirma, no entanto, que segue as regras do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (NPT), do qual é signatário, e que usará a tecnologia apenas para fins pacíficos e de energia.

A comunidade internacional, Estados Unidos e Israel à frente, desconfia do interesse iraniano com o programa, uma vez que o país é o quarto maior produtor de petróleo do mundo e, portanto, não sofrerá, a curto e médio prazos, de escassez energética. Ademais, tanto Khamenei quanto Ahmadinejad já manifestaram publicamente suas opiniões sobre o Estado de Israel: deve ser varrido do mapa. Qual discurso deve-se levar em consideração? O da paz ou o da destruição? Na dúvida,o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e sua equipe de secretários afirmam que todas as opções estão sobre a mesa. Inclusive um ataque ao Irã.

"Há um exagero de parte a parte, nos discursos, nas ameaças. Tanto Bush quanto Mahmoud jogam com seu público interno. Claro que essas coisas podem sair fora do controle", afirma o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Mattar Nasser.

O polêmico jornalista canadense Mark Steyn, conhecido na mídia norte-americana por sua posição crítica ao Islã e a favor de uma intervenção no Irã, disse em artigo publicado na última edição da revista City Journal que "bombas não bombardeiam nações, nações bombardeiam nações." Os EUA não demonstram tanta preocupação com Índia e Paquistão, ambos países nucleares e, pior, não-membros do NPT.

Mais do que discutir se um futuro Irã nuclear seria uma ameaça mundial, o que se questiona nos EUA é a necessidade do uso militar para solucionar a crise. Dan Halutz, chefe das Forças Armadas de Israel, afirmou esta semana que "ainda falta tempo para o Irã se dotar de uma capacidade nuclear". Estimativa da National Intelligence Estimate (NIE), órgão que expressa a opinião do serviço de inteligência norte-americano, prevê que deve levar dez anos até que o Irã possa fabricar uma bomba nuclear. Os dados indicam que, como defende a Rússia, há tempo para uma solução diplomática para a crise.

O atual impasse com o Irã começou a se desenhar a partir da eleição de Ahmadinejad. Seu antecessor, Muhammad Khatami, via com bons olhos uma aproximação com o ocidente, mas não conseguiu implementar reformas e lhe faltou força para lutar contra a posição conservadora dos líderes espirituais iranianos, guiados por Khatemei. A vitória de Ahmadinejad, um ultra-conservador que fechou lojas de fast food enquanto foi prefeito de Teerã, reforçou novamente o antigo ideal da revolução islâmica iraniana, que derrubou o regime do xá Mohammed Reza Pahlevi, em 1979.

"Ahmadinejad transformou-se no veículo da idéia que vem da revolução iraniana. A questão, no fundo, é de regime político, não de quem possui arma nuclear ou não. Do lado dos países árabes, ninguém morre de amores pelo Irã, mas podem olhar agora para o país como uma força contrária à dos EUA na região", afirma Nasser.

Uma das conseqüências possíveis das recentes atitudes do Irã seria um recrudescimento de ataques do Hezbollah e Hamas contra Israel. Apesar de possuir uma retórica contra o Estado judeu, os líderes iranianos dificilmente devem agir diretamente contra Israel, que possui um Exército fartamente superior. Na última semana, o Irã anunciou uma doação de US$ 50 milhões para a Autoridade Palestina, controlada pelo Hamas desde as últimas eleições. A atitude foi uma resposta à suspensão de envio de recursos por parte dos EUA e União Européia após a vitória do grupo radical.

Na próxima sexta-feira, a divulgação do relatório de Mohamed ElBaradei, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), deve sinalizar qual vai ser a medida do Conselho de Segurança da ONU. A Rússia afirmou que só aceitará sanções contra o Irã se o relatório o indicar.

O historiador britânico Timothy Garton Ash é um dos que acredita que as sanções previstas por Washignton devem surtir o efeito contrário do desejado. Para ele, o regime do Irã vai propagar para seu povo que está sendo injustamente punido pelo ocidente. "A pressão internacional, dessa maneira, iria consolidar mais do que enfraquecer o regime", afirmou Ash num artigo no jornal inglês The Guardian.

Em sua coluna desta semana no New York Times, o jornalista Thomas L. Friedman, que apoiou a invasão no Iraque, faz a pergunta que define o grande dilema do momento. O que vocês preferem, um Iraque II ou um Irã nuclear?

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