O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumentou ainda mais a tensão com o México nesta quinta-feira (26), quando aconselhou o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, a cancelar sua visita a Washington caso não pretenda pagar pelo muro que será construído na fronteira entre os dois países.
Pouco depois desta ameaça, Peña Nieto anunciou o cancelamento da visita, programada para a próxima terça-feira, 31 de janeiro.
“Esta manhã informamos à Casa Branca que não participarei da reunião de trabalho programada para a próxima terça-feira com o @POTUS (presidente dos EUA)”, escreveu Peña Nieto em sua conta oficial no Twitter, em reação à mensagem de Trump.
“Se o México não quiser pagar o muro tão necessário, melhor que cancele sua próxima visita”, afirmou o presidente americano no Twitter.
Antes mesmo de Trump tornar oficial a intenção de erguer o muro entre os EUA e o México, Peña Nieto já havia dito que o país não iria assumir as contas da obra. Nesta quarta, ele lamentou e reprovou o decreto assinado pelo novo presidente dos EUA.
“Lamento e reprovo a decisão dos Estados Unidos de prosseguir com a construção de um muro que há anos, distante de nos unir, nos divide (...). E afirmo mais uma vez: o México não pagará por qualquer muro”, declarou Peña Nieto em uma mensagem publicada durante a noite em sua conta no Twitter.
Trump assinou na quarta-feira dois decretos sobre fortalecimento da vigilância migratória, sendo que o primeiro deles determina o início “imediato” dos passos necessários para construir um “muro físico” na fronteira.
Em declarações à rede de TV ABC News,ele insistiu que o México pagará pela gigantesca obra, cujo custo pode alcançar até 50 bilhões de dólares, segundo diversas fontes.
Nessa entrevista, Trump admitiu que os Estados Unidos vão ter que pagar pela obra, mas apontou que “mais adiante” o México ressarcirá o dinheiro “mediante qualquer transação que faremos” com esse país.
Esse mecanismo para fazer com que o México pague aos Estados Unidos pode ser “complexo”, indicou Trump, que, no entanto, não deixou dúvidas de que isso acontecerá.
O decreto assinado por Trump também determina destinar recursos e tomar medidas como “construir, operar ou controlar instalações para deter estrangeiros em ou perto da fronteira com o México”, além de firmar o congelamento de fundos às cidades e distritos que se negarem a prender migrantes ilegais.
Trump prometeu durante sua campanha expulsar milhões de mexicanos ilegais, e o governo mexicano multiplicou suas campanhas nos Estados Unidos para orientar os migrantes sobre seus direitos.
Clima de apreensão
Este aumento da tensão nas relações bilaterais em razão do muro coincide com a intenção do presidente americano de renegociar o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), que os dois países integram junto ao Canadá.
Trump disse que os Estados Unidos têm um déficit comercial com o México da ordem de 60 bilhões de dólares.
“Foi um acordo de apenas um lado desde o início do Tratado de Livre Comércio da América do Norte, com enorme número de empregos e empresas perdidas”, disse Trump.
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Leia a matéria completaOs “santuários” reagem
Internamente, as reações de indignação às medidas anunciadas por Trump não se limitaram apenas aos manifestantes que tomaram as ruas de Nova York para protestar.
Os prefeitos de Los Angeles e Nova York, as duas maiores cidades “santuário” nos Estados Unidos - aquelas que têm algum tipo de proteção aos refugiados - condenaram publicamente os decretos e asseguraram que vão continuar a proteger os imigrantes que vivem lá.
“Vamos proteger toda a nossa gente, independentemente de onde eles vêm e, independentemente do seu estatuto migratório”, garantiu o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, em coletiva de imprensa.
Enquanto isso, Eric Garcetti, o prefeito de Los Angeles, disse que sua cidade permanecerá tolerante e vai acolher todas as pessoas, “independentemente do que acontecer em Washington DC”.
Os prefeitos de quatro outras cidades da Califórnia - San Francisco, Oakland, San Jose e Berkeley - também denunciaram o decreto de Trump em uma declaração conjunta.
O prefeito de Chicago, Rahm Emanuel, também foi claro: “Mesmo se você for da Polônia, Paquistão, Índia, Irlanda, Israel, México ou Moldávia, será bem-vindo em Chicago.”