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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que pressiona para incursão terrestre no sul do Líbano contra o Hezbollah
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que pressiona para incursão terrestre no sul do Líbano contra o Hezbollah| Foto: EFE/EPA/ABIR SULTAN/EPA POOL

Em dezembro do ano passado, quando a guerra de Israel contra o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza já tinha completado dois meses, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse em uma reunião do Comitê de Relações Exteriores e Defesa do Knesset (parlamento do país) que Israel enfrentava ameaças em sete frentes: Gaza, Cisjordânia, Líbano, Síria, Iraque, Iêmen e Irã.

Forças iranianas ou grupos apoiados por Teerã trocaram ataques com Israel ou aliados (como os Estados Unidos, que responderam a ataques de milícias às suas bases no Iraque) em todos esses teatros de operações desde outubro de 2023.

Na maioria dos casos, os ataques foram bombardeios pontuais, mas dois cenários escalaram para confrontos terrestres (Gaza e Cisjordânia) e um terceiro, as trocas de bombardeios entre Israel e o grupo xiita terrorista Hezbollah na fronteira com o Líbano, pode seguir esse caminho em breve.

Nesta terça-feira (17), o governo libanês e o Hezbollah culparam Israel por explosões de pagers em várias regiões do Líbano que deixaram vários mortos e feridos.

Antes disso, o governo de Benjamin Netanyahu vinha falando há semanas de uma incursão terrestre para pôr fim às hostilidades com o grupo xiita, que já provocaram centenas de mortes e o deslocamento de aproximadamente 112 mil pessoas no lado libanês da fronteira e quase 100 mil no lado israelense desde o ano passado, no pior conflito entre essas duas partes desde a guerra de 2006.

A imprensa israelense noticiou nesta segunda-feira (16) que Netanyahu até cogita demitir Gallant devido à resistência do ministro a uma ofensiva em grande escala no sul do Líbano nesse momento.

No fim de semana, as tensões já haviam aumentado com um ataque com míssil realizado pelos rebeldes houthis do Iêmen contra o território israelense, o primeiro ataque desse tipo realizado pelo grupo contra Israel – Netanyahu prometeu que os agressores pagariam um “alto preço”.

A dúvida que fica é: caso Israel passe à guerra terrestre em três ou mais frentes, terá condições de sair vitorioso?

A primeira dúvida é o efetivo que seria necessário para essas incursões. Após vencer a queda de braço do recrutamento dos ultraortodoxos, Israel estaria recrutando requerentes de asilo africanos para a guerra em Gaza em troca de residência permanente no país, segundo uma reportagem publicada no fim de semana pelo jornal israelense Haaretz, um indicativo de que está se preparando para conflitos de longo prazo.

Um segundo questionamento é a capacidade de armamentos e estrutura para manter uma guerra expandida. Israel sofre pressão crescente de aliados a respeito da ofensiva em Gaza, com o Canadá e o Reino Unido suspendendo envios de armas, o que os Estados Unidos também fizeram pontualmente com um carregamento de armas ofensivas.

A terceira questão é econômica. Yannay Spitzer, do Departamento de Economia da Universidade Hebraica de Jerusalém, disse ao jornal The Jerusalem Post que Israel poderia precisar aplicar aproximadamente 10% do PIB do país em defesa. “Isso representa uma perda substancial de riqueza, que precisará ser paga de uma forma ou de outra”, disse.

A quarta dúvida é relacionada à terceira: a população de Israel, que pressiona Netanyahu por negociações para a libertação de reféns em Gaza (um cessar-fogo segue longe de ser alcançado), apoiaria a expansão da guerra para mais frentes?

“As democracias têm mais dificuldade em manter as suas opiniões públicas favoráveis a conflitos quando estes começam a impactar as suas vidas diretamente e não se vê nenhuma solução no curto prazo”, afirmou o major da reserva e analista de riscos Nelson Ricardo Fernandes Silva, em entrevista à Gazeta do Povo.

“Para manter uma guerra, você precisa de energia, alimentação, armamento e gente. Israel tem uma população em torno de 9 milhões, o que não permite ter uma guerra que se estenda por muito tempo e com muitas baixas, a menos que contrate estrangeiros para comporem suas forças”, argumentou.

“Cada cidadão israelense lutando é menos um israelense produzindo riqueza e [mais um] aumentando o custo na folha de pagamento do Estado, e [gera-se] mais pressão na opinião pública para encurtar o conflito”, disse Silva.

Quanto aos aliados israelenses, o analista ponderou que os Estados Unidos “se desinteressam pelos conflitos à medida que eles duram indefinidamente” e que o apoio externo pode variar de acordo com a opinião pública dos países apoiadores e o alinhamento ideológico de suas lideranças, mas apontou que Israel conseguiria produzir sozinho armamentos em quantidade suficiente para manter a guerra.

“Esta situação pode perdurar por anos e com um custo gigante, vide Afeganistão. Acredito que Israel esteja levando em conta o nível do suporte externo e da opinião pública internacional neste processo de tomada de decisão”, afirmou Silva.

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