O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, garantiu neste sábado (16) que permanece no poder, após um grupo de militares anunciar a tomada do governo, deflagrando confrontos que deixaram 265 mortos na Turquia.
“Há na Turquia um governo e um presidente eleito pelo povo, e seu Deus quiser, vamos superar este desafio”, disse Erdogan ao convocar os “milhões” de turcos a ocupar as ruas para defender a Nação.
“Os que vieram nos tanques serão capturados porque estes tanques não lhes pertencem”, afirmou o presidente durante coletiva concedida no aeroporto de Istambul, onde foi recebido por uma multidão que agitava bandeiras turcas.
Ao menos 265 pessoas morreram, incluindo 47 civis e 41 policiais. Quase 3 mil militares foram detidos por envolvimento na tentativa de golpe.
O ministro do Interior, Efkan Ala, decretou a destituição de cinco generais e de 29 coronéis, de acordo com a Anatólia. O governo de Ancara considera agora se aplicará pena de morte àqueles que participaram da tentativa de golpe.
As tropas leais ao governo conseguiram resgatar o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Halusi Akar, capturado por militares golpistas na sexta-feira (15).
Durante a manhã, caças-bombardeiros F-16 atacaram tanques dos rebeldes em torno do Palácio Presidencial em Ancara.
Os canais de televisão turcos mostraram uma coluna de fumaça subindo do bairro de Bestepe, uma zona da capital que abriga o grande complexo onde reside Erdogan.
Rendição
Em Istambul, onde está Erdogan, um grupo de 60 militares rebeldes que ocupava uma ponte sobre o Bósforo se rendeu às forças leais ao governo, segundo as redes de TV.
Na noite de sexta-feira, os militares golpistas ocuparam duas pontes sobre o Bósforo, que unem Europa à Ásia.
Tiroteios persistiam em vários bairros de Ancara, após uma noite confusa marcada por explosões atribuídas a bombardeios aéreos.
Em sua entrevista no aeroporto de Istambul, Erdogan revelou que o hotel onde estava de férias em Marmaris, um balneário do sudoeste da Turquia, foi bombardeado após sua partida.
O premier Yildirim ordenou que as forças armadas abatam os aviões e helicópteros que estão em poder dos “golpistas”, informou um funcionário, acrescentando que “os aviões de combate decolaram da base de Eskisehir”, no oeste da Turquia, para enfrentar os aparelhos rebeldes.
A agência oficial Anatólia revelou que o Parlamento em Ancara foi bombardeado na madrugada de sábado, e o correspondente da AFP na capital turca ouviu uma violenta explosão e rajadas de metralhadora na mesma região.
Yildirim afirmou que “esta iniciativa idiota fracassou” e a situação “está amplamente sob controle”. As declarações do premier se seguiram a um comunicado dos serviços de Inteligência turcos sobre o “retorno à normalidade”.
Durante a noite de sexta-feita (15), os militares golpistas abriram fogo em Istambul sobre a multidão, em meio a um protesto contra a tentativa de golpe, e vários civis feridos foram socorridos por ambulâncias.
Na capital Ancara, dezessete policiais foram mortos em um confronto envolvendo os militares golpistas, revelou a agência oficial Anatólia, sem dar detalhes.
Ainda na capital turca, um caça F-16 da Força Aérea derrubou um helicóptero Sikorsky das forças “golpistas”, informou uma fonte ligada à presidência.
Tentativa
Na noite de sexta-feira, vários tanques do Exército cercaram o Parlamento em Ancara e o aeroporto internacional Ataturk, em Istambul.
Violentas explosões foram ouvidas na capital, acompanhadas de troca de tiros no centro da cidade, enquanto aviões sobrevoavam a metrópole sem parar, a baixa altitude.
Momentos depois, Erdogan apareceu na TV com o rosto pálido e visivelmente preocupado, para denunciar “a sublevação de uma minoria do Exército”, e exortou os turcos a “ocupar as praças públicas e aeroportos” para resistir à tentativa de golpe.
Segundo um comunicado dos militares lido no canal de televisão NTV, “o poder no país foi tomado em sua integralidade”. A mesma informação constava do site do Estado-Maior do Exército.
“Não permitiremos que a ordem pública seja alterada na Turquia (...). Foi imposto o toque de recolher até nova ordem”, segundo um comunicado firmado pelo “Conselho da Paz no país”.
Segundo os militares, a tomada do poder tem por objetivo “garantir e restaurar a ordem constitucional, a democracia, os direitos humanos, as liberdades e a prevalência da lei suprema” em todo território turco.
“Todos os nossos acordos e compromissos internacionais seguem vigentes. Esperamos que continuem nossas boas relações com os demais países”, assinala o comunicado militar.
Ao chegar a Istambul, na manhã de sábado, Erdogan acusou de “traição” o imã radicado nos Estados Unidos Fethullah Gulen, por promover o golpe militar.
Gulen reagiu condenando “nos mais firmes termos” o movimento de grupos do Exército para tomar o poder.
“Como alguém que sofreu múltiplos golpes militares durante as últimas cinco décadas, é especialmente insultante ser acusado de ter alguma relação com esta tentativa. Nego categoricamente tais acusações”.
“O governo deve ser conquistado mediante um processo de eleições livres e justas, e não pela força. Rogo a Deus pela Turquia, pelos cidadãos turcos, por todos no país e para que esta situação se resolva pacífica e rapidamente”.
Gulen, 75 anos, no passado um estreito aliado de Erdogan, vive atualmente em um povoado nas montanhas de Pocono, Pensilvânia.
As Forças Armadas turcas, as mais numerosas da Otan depois dos Estados Unidos, têm um longo histórico de ingerência política e protagonizaram três golpes de Estado, em 1960, 1971 e 1980, além de forçar um governo de inspiração islâmica a deixar o poder, em 1997.
Na maioria dos casos, os golpes foram liderados pela cúpula militar, mas o movimento iniciado nesta sexta-feira não contou com o apoio das maiores patentes das Forças Armadas.
Os principais comandantes militares - habitualmente discretos e reservados - se alternaram nas redes de televisão para denunciar o “ato ilegal” e pedir o retorno de seus companheiros aos quartéis.