O presidente americano Donald Trump (E) e o procurador especial Robert Mueller, que entregou o relatório final de sua investigação sobre possível interferência russa nas eleições americanas de 2016. Fotos: Saul Loeb / AFP| Foto:

O procurador especial Robert Mueller entregou nesta sexta-feira (22) um relatório confidencial ao procurador-geral americano William Barr, marcando o fim de sua investigação sobre a possível interferência russa nas eleições presidenciais dos EUA 2016 e possível obstrução à justiça pelo presidente Donald Trump, disse uma porta-voz do Departamento de Justiça.

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O Departamento de Justiça notificou o Congresso nesta sexta-feira que recebeu o relatório de Mueller, mas não descreveu o seu conteúdo. Barr deve resumir as descobertas para os legisladores nos próximos dias.

Em uma carta aos líderes dos Comitês Judiciários da Câmara e do Senado, Barr escreveu que Mueller “concluiu sua investigação sobre a interferência russa nas eleições de 2016 e assuntos relacionados”.

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Barr escreveu que Mueller submeteu um relatório a ele explicando suas decisões de acusação. O procurador-geral disse aos legisladores que estava revisando o relatório, e que terá condições de aconselhá-los sobre as principais conclusões do procurador especial já neste fim de semana.

O procurador-geral escreveu que iria consultar o procurador-geral adjunto Ros Rosstein e Mueller “para determinar que outras informações do relatório podem ser divulgadas ao Congresso e ao público em conformidade com a lei”.

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Barr disse que, no decorrer da investigação, não houve casos em que uma decisão de Mueller fosse vetada por seus superiores no Departamento de Justiça.

A apresentação do relatório de Mueller marca o ponto culminante de sua investigação, um caso que envolveu a administração Trump desde o seu início e levou a várias declarações de culpa de ex-assessores do presidente. Com o encerramento de sua investigação, o Congresso e a nova Câmara de maioria democrática poderão em breve avaliar as descobertas – e determinarão quais medidas serão tomadas em seguida.

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Bem antes de sua conclusão, o relatório de Mueller era um assunto muito debatido. Os legisladores procuraram obter garantias do Departamento de Justiça de que o procurador especial faria um relato público completo do que ele encontrou no inquérito de dois anos.

De acordo com os regulamentos do Departamento de Justiça, o relatório do procurador especial deve explicar as decisões de Mueller – quem foi acusado, quem foi investigado mas não acusado, e por quê.

O trabalho de Mueller consumiu Washington e, às vezes, o país, enquanto ele e sua equipe investigavam se algum parceiro de Trump conspirou com autoridades russas para interferir nas eleições.

Não está claro o quanto das descobertas de Mueller será divulgado no resumo de Barr para o Congresso. Os democratas do Congresso, antecipando um relato incompleto, já enviaram pedidos ao Departamento de Justiça de documentos que detalham o que Mueller descobriu.

Resultados da investigação

O trabalho de Mueller levou a acusações criminais contra 34 pessoas, incluindo seis antigos parceiros e assessores de Trump.

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Cinco pessoas próximas ao presidente se declararam culpadas: o ex-presidente de campanha de Trump, Paul Manafort; o ex-vice-gerente de campanha Rick Gates; o ex-assessor de segurança nacional Michael Flynn; o ex-advogado pessoal Michael Cohen; e o ex-assessor de campanha George Papadopoulos.

Um sexto, o amigo de longa data de Trump, Roger Stone, foi indiciado em janeiro e acusado de mentir ao Congresso. Ele se declarou inocente.

Mais de duas dúzias das pessoas acusadas por Mueller são russas e, como os Estados Unidos não têm um tratado de extradição com a Rússia, é improvável que elas passem por um tribunal nos EUA.

Nenhum dos americanos acusados ​​por Mueller é acusado de conspirar com a Rússia para interferir na eleição – a questão central do trabalho de Mueller. Em vez disso, eles se declararam culpados de vários crimes, incluindo mentir para o FBI.

Do início até aqui

A investigação do procurador especial foi lançada em 17 de maio de 2017, em um momento de crise para o FBI, o Departamento de Justiça e o país.

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Dias antes, o presidente Trump havia demitido o diretor do FBI, James Comey. O motivo alegado foi o comportamento de Comey na investigação de 2016 da ex-secretária de Estado Hillary Clinton, mas Trump disse em uma entrevista à NBC News logo após a demissão que ele estava pensando sobre a investigação da interferência russa quando decidiu demitir Comey.

Como os diretores do FBI são nomeados para mandatos de 10 anos para garantir sua independência política, a demissão de Comey agitou Washington. Isso desencadeou alarmes no Departamento de Justiça e no Congresso, onde os legisladores temiam que o presidente estivesse determinado a encerrar a investigação sobre a Rússia antes de sua conclusão.

Depois que o então procurador-geral Jeff Sessions se retirou da investigação russa, Rosenstein escolheu Mueller como procurador especial em parte para frear a crescente crise política.

Mueller, um veterano da Guerra do Vietnã, procurador e ex-diretor do FBI, era altamente respeitado. Políticos de ambos os lados – bem como veteranos federais da polícia e da inteligência – já admiravam e confiavam em Mueller, um republicano.

A passagem do controle da investigação sobre a Rússia para o procurador especial deixou muitos dos maiores críticos do presidente mais confiantes de que Trump não seria capaz de parar a investigação antes que Mueller obtivesse respostas.

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Embora fosse sabido publicamente desde o verão de 2016 que o FBI estava investigando tentativas russas de interferir na campanha presidencial, as autoridades mantinham em segredo que havia também uma investigação, desde julho, para ver se conselheiros da campanha de Trump estavam conspirando com os russos.

Depois que Trump ganhou a eleição, essa investigação se tornou pública.

No final de 2016 e início de 2017, o FBI estava investigando se alguém próximo a Trump havia ajudado a Rússia nesses esforços, mesmo quando Trump já havia tomado posse da presidência.

A investigação de Mueller seguiu uma série de pistas investigativas, inclusive se o comportamento do presidente antes e depois da demissão de Comey equivalia a uma tentativa de obstruir a justiça.

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Ao longo de 2017, a equipe de Mueller, trabalhando em um prédio de escritórios em Washington, perseguiu Manafort por causa de suas finanças. Esse caso também foi herdado do trabalho feito anteriormente pelo Departamento de Justiça e pelo FBI, mas sob Mueller ganhou nova vida. Em outubro de 2017, Manafort e Gates, seu braço direito, foram acusados ​​de uma série de crimes financeiros.

Dois meses depois, Flynn se declarou culpado de mentir para o FBI.

'Caça às bruxas'

A oposição política de republicanos ao trabalho também cresceu, encorajada em parte pelas repetidas declarações do presidente de que a investigação era uma “caça às bruxas”.

À medida que a investigação avançava para o seu segundo ano, ela mirou diretamente em Moscou. Em fevereiro de 2018, 13 russos foram acusados ​​como parte de uma “fazenda de trolls” online acusada de semear divisão política e desconfiança entre os americanos por meio das mídias sociais. Cinco meses depois, o escritório de Mueller indiciou uma dúzia de oficiais da inteligência militar russa, dizendo que eles conspiraram para invadir contas de computador dos democratas e divulgar os arquivos roubados.

No ano passado, Mueller se concentrou na questão da obstrução. Um dos principais objetivos do trabalho de Mueller era saber se Trump ou seus assessores tinham procurado paralisar o inquérito da Rússia. Mueller questionou as pessoas mais próximas de Trump sobre as declarações particulares do presidente sobre a investigação, sobre seus tweets que atacaram autoridades policiais e sobre documentos internos da Casa Branca que poderiam lançar luz sobre seu comportamento.

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Provar a intenção de um suspeito é um elemento importante de qualquer caso de obstrução, e havia uma testemunha que Mueller nunca conseguiu questionar: Trump. Depois de negociar durante meses, os advogados do presidente concordaram em enviar respostas por escrito às perguntas do procurador especial. Pelo fim, Mueller e o Departamento de Justiça não intimaram o presidente, o que poderia ter levado a uma briga na Suprema Corte.

Em agosto, a equipe de Mueller ganhou uma condenação de Manafort em um tribunal da Virgínia ao mesmo tempo em que Cohen, o ex-advogado e “faz tudo” de Trump, se declarava culpado como parte de um acordo com promotores federais em Nova York. Cohen acabaria se declarando culpado duas vezes, e em sua sentença, ele culpou Trump por sua queda.

Em janeiro, a equipe de Mueller acusou Stone de obstruir os esforços do procurador especial e de mentir ao Congresso sobre seus esforços em 2016 para saber quando e-mails potencialmente prejudiciais à campanha presidencial de Clinton seriam divulgados pelo WikiLeaks.

A última acusação pública de Mueller foi emblemática de boa parte de sua investigação – uma pessoa próxima do presidente foi presa e acusada de crimes, mas não por conspirar com o Kremlin.