Nesta cidade, logo depois das placas de boas vindas com o selo presidencial, as pessoas ainda o chamam de “Mr. Jimmy”.
Por isso, no começo deste mês, quando esta localidade da Geórgia com menos de 800 habitantes recebeu a informação de que o ex-presidente Jimmy Carter está com um câncer, a notícia não dizia respeito apenas a um ex-presidente que está doente. A pessoa doente é o “seu Jimmy”, o professor da escola dominical que, aos 90 anos, às vezes para no Mimmie’s Diner para comer legumes, pão de milho e um copo de leite de manteiga.
Em uma curta nota, Carter anunciou que se submeteria a tratamento na Universidade Emory, em Atlanta.
“Plains está triste, mas nossa fé é forte”, disse Jan Williams, que ajuda a organizar as aulas da escola dominical de Carter na Igreja Batista Maranatha. “É uma coisa que deixa você sem ar.”
Em Plains, ao sul de Atlanta, é difícil escapar das alusões a Carter, um homem muito ligado a este lugar que se ergue sobre uma antiga plantação de amendoim.
Em frente à farmácia, se você espiar do outro lado da rua, verá a estação ferroviária que sediou a campanha presidencial de Carter em 1976. Perto dali há uma parada na Trilha Rosalynn Carter Butterfly, batizada em homenagem à mulher dele. A loja Plains Trading Post está abastecida com souvenires políticos, e outra loja vende amendoins e copinhos, a US$ 2,99, onde se lê: “Plains, Geórgia. Terra de Jimmy Carter”.
Em Plains, uma sensação de desespero contido vai se estabelecendo.
“Estou extremamente preocupado e apreensivo”, disse Philip Kurland, dono da Plains Trading Post. “O presidente Carter está com 90 anos, mas ele é muito resistente. Se houver alguma maneira de prolongar ou de derrotar isso, eu aposto nele. Basta ver tudo o que ele enfrentou na sua carreira política.”
É essa carreira política, numa trajetória que levou um menino que vendia amendoim cozido a atingir o topo do poder político, que há quase quatro décadas mantém esta cidade presente na consciência global.
A cada ano, Plains atrai milhares de turistas, incluindo muitos que param para escutá-lo na Maranatha. Num fim de semana, Williams contou nove ônibus chegando a Plains.
No entanto, com a doença de Carter, surge a pergunta: o que será de Plains quando ele não fizer mais parte da comunidade? “Ele é a vida desta cidade”, disse Willie Raven, cozinheiro do Mimmie’s, restaurante inaugurado em 2013 com a presença de Carter.
Num lugar tão pequeno como este existem poucos segredos, mas muitas fofocas.
Mesmo antes da divulgação da notícia, já se especulava que Carter estaria doente. Ele falou na Maranatha em 2 de agosto e em seguida viajou para Atlanta, onde fica a sede do Centro Carter, a ONG que ele ajudou a criar em 1982 e que se tornou uma das mais importantes organizações mundiais de direitos humanos.
No dia seguinte, o escritório de Carter anunciou que os médicos da Emory haviam removido “uma pequena massa” do fígado de Carter.
Na época, seus assessores disseram que o prognóstico para o ex-presidente era “excelente”, mas a desconfiança persistiu.
Para quem estava aqui quando soube da notícia, Plains tornou-se inesperadamente comovedora.
“Ele deixará um legado”, disse Gretchen Houseman, que mora no Arizona, depois de visitar a escola que Carter frequentou. “Sinto como se eu estivesse acompanhando o final de uma era histórica.”