Londres Os britânicos despertaram ontem diante de uma suposta ameaça terrorista muito mais ambiciosa do que os ataques de 7 de julho do ano passado contra o sistema de transportes de Londres e comparável aos ataques de 11 de setembro de 2001.
Desta vez, no entanto, a ação conjunta de forças de segurança do Reino Unido e dos Estados Unidos parece ter sido capaz de frustrar o seqüestro e a explosão de até dez aviões que, segundo a Scotland Yard, "poderiam ter causado um assassinato em massa numa escala inimaginável".
A tensão tomou conta do país logo de manhã. Às 6h30, após chefiar uma reunião de emergência do gabinete britânico, o secretário do Interior, John Reid, anunciou a descoberta de um plano para a explosão de aviões que decolariam do país com destino aos Estados Unidos.
Antes, às 2 horas da manhã, o Centro de Análises de Terrorismo do Reino Unido já havia elevado seu alerta de "severo" para "crítico" pela primeira vez. Isso significava, segundo o governo, que "um ataque iminente é esperado".
Simultaneamente, foi iniciada uma megaoperação policial, que resultou na prisão de 24 suspeitos em Londres e em outras cidades da Inglaterra. Até o final da noite de ontem, a caçada empreendida pela forças de segurança continuava em vigor. Mas fontes policiais revelaram que cinco suspeitos de terem ligação com o grupo preso ainda não tinham sido localizados ontem a noite.
A polícia britânica não forneceu maiores detalhes sobre os objetivos da ação terrorista. Mas segundo emissoras de televisão britânicas e norte-americanas, eles pretendiam embarcar em aviões de pelo menos três companhias aéreas, todas norte-americanas United, American Airlines e Continental , levando em suas bagagens de mão explosivos líquidos escondidos em garrafas de refrigerantes. Segundo a emissora Sky News, o objetivo era explodir os aviões sobre cinco cidades dos Estados Unidos, entre elas Nova Iorque, Washington e Los Angeles.
As 24 pessoas detidas já vinham sendo vigiadas há meses pela polícia britânica, com o auxílio dos Estados Unidos e outros países. Entre elas, havia um funcionário do aeroporto de Heathrow, que trajava seu uniforme de trabalho ao ser preso. A decisão de realizar a ação antiterrorista foi repentina e estimulada por um aviso de Washington, que alertava que os suspeitos tinham desconfiado estarem sendo monitorados e haviam decidido antecipar os ataques para os próximos dois dias.
O primeiro-ministro Tony Blair, em férias no Caribe, e o presidente George W. Bush discutiram sobre o assunto no domingo e na noite de quarta-feira. Peter Clarke, chefe da unidade antiterrorista da Scotland Yard, disse que a extensão da operação foi "inédita" e envolveu a ajuda internacional. A polícia evitou revelar detalhes sobre a nacionalidade dos presos mas segundo o jornal The Guardian, os líderes do grupo são cidadãos britânicos, de classe média e com grau universitário, e alguns têm ligação com o Paquistão. O governo paquistanês confirmou ter colaborado com as forças de segurança britânicas. Uma ligação dos suspeitos com o Al Qaeda obviamente é cogitada pela polícia, mas por enquanto, apenas nos bastidores.
As críticas às férias de Blair no Caribe durante um grave conflito no Oriente Médio foram acentuadas ontem com a revelação da ameaça terrorista. Algumas vozes isoladas na oposição e imprensa levantaram a hipótese de que a operação policial de ontem foi exagerada e alertaram sobre o risco da repetição de erros como o da morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto por engano pela Scotland Yard em julho do ano passado numa operação antiterrorismo. Mas os fatos de ontem sinalizam que a polícia britânica recuperou sua credibilidade.