As musas da campanha
Uma nasceu na periferia e saiu das escolas de formação do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). A outra é de família de classe média, se formou em Engenharia Industrial e tem especialização em Finanças.
Caracas - Líderes da oposição estão cantando vitória nas eleições legislativas deste domingo, mas as pesquisas mostram que dificilmente o governo perderá a maioria dos assentos na Assembleia Nacional. Há 12 anos no poder, o presidente Hugo Chávez encara a votação como um teste para a sua revolução socialista e um caminho para a corrida presidencial em 2012, quando tentará se perpetuar na Presidência.
Mesmo que não esteja em jogo o poder central, a eleição legislativa será marcada por um caráter plebiscitário. De um lado, a revolução bolivariana; de outro, os opositores a Chávez.
"A campanha entre bons e maus, passado e futuro e patriotas e entreguistas não surpreende. Vale a máxima do chavismo: ou nos aniquilam ou acabamos com eles", diz o sociólogo Andrés Stambouli, da Universidade Metropolitana, em Caracas.
Uma vitória esmagadora do governo significará a aceleração e o aprofundamento da reestruturação socialista no país. Do contrário, com um bom desempenho da oposição, estará encerrado um período em que todos os projetos de Chávez são aprovados sem nenhum debate (hoje os governistas são quase maioria absoluta no Legislativo).
Se a oposição conquistar mais de 55 das 165 cadeiras no Parlamento, o governo estará obrigado a negociar a aprovação de leis orgânicas e nomeação de representação das cortes. Isso, na visão dos oposicionistas, será um avanço para bloquear as "investidas autoritárias" de Chávez.
Do lado palaciano, a cifra mágica é 125 vagas, o que seria interpretado como um sinal para o governo acelerar as reformas.
"Não menos de dois terços (da Assembleia), esse é o calibre da vitória", conclama Chávez. "Vamos conquistar o que o país está esperando: uma Assembleia Nacional multicolor, que governe para todos", desafia Julio Borges, líder da oposição.
Na tentativa de barrar a política socializante do governo, a oposição se uniu em torno da Mesa da Unidade Democrática (MUD), um agrupamento que reúne partidos que vão do centro à direita. Em contraposição, as legendas à esquerda estão todas com o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
Os candidatos da Unidade Democrática acreditam que o descontentamento do eleitor com o estilo autoritário de Chávez, com as piores taxas de homicídio do mundo fora de uma zona de guerra, com o segundo ano de recessão e com a inflação fora de controle, propicia uma chance real de obterem maioria na Assembleia Nacional.
O principal argumento dos oposicionistas é que uma Assembleia Nacional garantirá a democracia no país. "Queremos impedir a escalada de um partido único", alardeia o governador do estado de Zulia, Pablo Perez, principal rival de Chávez.
Temores
O chamado "terrorismo político" esteve presente na campanha eleitoral. Governistas procuraram convencer a população de que "o outro lado" quer destruir tudo o que foi feito pelo governo até agora. A oposição, por sua vez, martela denúncias de que o Estado divulgou informações veladas de que o voto não é secreto, o que seria uma forma de pressionar os funcionários públicos a votar na situação. Há ainda acusações da possibilidade de fraude.
A presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, veio a público para dizer que o sistema eleitoral da Venezuela é "o mais seguro do mundo". Todos os componentes do sistema eleitoral foram submetidos a auditorias e a votação terá cerca de 150 observadores estrangeiros.
Uma enquete realizada pelo jornal El Nacional mostra que 85,5% dos eleitores afirmam saber como votar neste domingo numa lista complexa, que inclui a escolha de deputados por voto nominal, por lista de partido e candidatos indígenas e postulantes ao Parlamento Latinoamericano.
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