Julgamento do líder do cartel de Sinaloa, El Chapo Guzman, está acontecendo em Nova York, nos EUA| Foto: RONALDO SCHEMIDT/AFP

Um ex-sócio de Joaquin "El Chapo" Guzman declarou nesta terça-feira (15) que o chefão do cartel de drogas se vangloriava de subornar o ex-presidente mexicano Enrique Peña Nieto com uma recompensa US$ 100 milhões.

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Descrito como ex-braço direito de Guzman, Alex Cifuentes afirmou em um tribunal de Brooklyn, onde Chapo está sendo julgado, que o dinheiro foi entregue através de um intermediário, enquanto o narcotraficante estava foragido e por volta da época em que Peña Nieto se tornou presidente, em dezembro de 2012, de acordo com os relatórios. 

Cifuentes falou sobre o suposto pagamento ilícito pela primeira vez em 2016, a procuradores americanos, quando começou a cooperar com o governo dos EUA, mas a alegação tornou-se pública durante o depoimento desta semana. 

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Peña Nieto não foi encontrado para comentar as acusações. Quando elas foram mencionadas pela primeira vez no julgamento, um porta-voz disse que eram "falsas e difamatórias". 

Peña Nieto deixou a presidência do México em dezembro após um mandato de seis anos marcado por acusações de corrupção e incompetência –  a fuga de Guzman de uma prisão de segurança máxima através de um túnel marcou um dos pontos mais baixos de sua gestão. O ex-presidente presidiu a recaptura de Guzmán duas vezes, tuitando "missão cumprida" na segunda ocasião, em janeiro de 2016, quando Guzmán foi preso em um hotel decadente. 

O ex-presidente não é o primeiro funcionário público a ser acusado de irregularidades por testemunhas no julgamento de Guzmán. Jesús Zambada García, ex-contador de Guzmán, disse que pagou propinas ao ex-secretário de Segurança Pública, Genaro Garcia Luna, tentdo entregado a ele, em duas ocasiões, uma mala contendo pelo menos US$ 3 milhões. Garcia Luna chamou as acusações de "mentiras, difamação e perjúrio". 

Quem é El Chapo

Tendo conseguido escapar de prisões mexicanas duas vezes, Guzman, de 61 anos, passou de uma infância pobre para a liderança do cartel de Sinaloa, responsável pelo contrabando de toneladas de cocaína da Colômbia aos Estados Unidos através de túneis sob a fronteira e supostamente subornando funcionários públicos em todo o país. 

Sua habilidade para fugir das autoridades e aparentemente zombar de suas tentativas de capturá-lo evidenciou a impunidade no México e as dificuldades do país na repressão aos cartéis de drogas e ao crime organizado, que já fizeram mais de 200.000 vítimas fatais e deixaram mais de 30.000 desaparecidos desde 2006. 

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Guzmán foi extraditado na véspera da posse do presidente dos EUA, Donald Trump, em janeiro de 2017 para enfrentar acusações de tráfico de cocaína, heroína e outras drogas para os Estados Unidos. 

Repercussão no México

As acusações contra Peña Nieto chamaram a atenção no México, onde o índice de aprovação do ex-presidente despencou no fim de seu mandato, de acordo com as pesquisas, e seu partido é tão impopular que considerou mudar de nome. 

"Isso mereceria uma investigação para saber se é verdade. O governo de López Obrador deve levar isso a sério. O problema é... nós sabemos não vão fazer nada", tuitou o jornalista e colunista Mario Campos.

O presidente Andrés Manuel López Obrador venceu as eleições prometendo limpar o país da corrupção. No entanto, ele tem chocado muitos no México dizendo que prefere não processar funcionários públicos acusados de corrupção. 

López Obrador tem uma história de equiparar as ações de políticos supostamente corruptos aos da "máfia". Ele percorreu o país nos últimos 12 anos, visitando todos os mais de 2.400 municípios do México, incluindo muitos deles comandados pelo crime organizado. 

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Em tour por Sinaloa, logo após a prisão de El Chapo em 2016, ele disse a uma multidão: "Nada é dito sobre o cartel que mais rouba: o Cartel Los Pinos" – uma referência ao palácio presidencial no qual Lopez Obrador se recusa a viver – "que é comandado por Enrique Peña Nieto".