Os engarrafamentos nas mal asfaltadas ruas de Díli, capital do Timor Leste, foram monumentais na quarta-feira. Sob os olhares vigilantes das forças internacionais armadas ostensivamente com enormes fuzis 556 e pistolas Colt 45 carreatas barulhentas de vans e caminhões, com timorenses apinhados pelo teto e nas carrocerias, deram um clima de balbúrdia ao penúltimo dia de campanha dos oito candidatos que concorrem, no próximo domingo, ao primeiro turno das eleições para presidente do país, as primeiras após a independência formal do Timor Leste, em 2002, após séculos como colônia de Portugal e 25 anos de ocupação indonésia.
Apesar de certo clima de festa cívica, com timorenses de caras-pintadas abraçados às bandeiras do país e dos partidos, há um clima de tensão no ar. Algo como o enfrentamento de grupos de torcidas organizadas. Durante todo o dia, os integrantes que apóiam os vários candidatos a governar a metade independente da ilha do Timor se provocam e chegam mesmo a jogar pedras uns nos outros quando uma carreata, por acaso, cruza com outra.
Aqui, não há financiamentos para campanha e a disputa eleitoral ainda é feita basicamente nos comícios de rua e um ou outro cartaz diz o conselheiro Jairo Collier, da Embaixada do Brasil em Díli. O que significa que conflitos são inevitáveis.
Desde o início do mês, segundo Polícia Nacional de Timor Leste (PNTL), mais de 30 pessoas ficaram feridas em confrontos entre eleitores. Às 19h (hora local), a ONU determinou um toque de recolher para seus funcionários e membros das embaixadas. Pouca gente circula à noite pelas ruas da capital, que ficam praticamente às escuras.
Nada que desanime os oito candidatos à Presidência do pequeno país de 925 mil habitantes, a maioria católicos (herança da colonização portuguesa), que é hoje o mais pobre da Ásia. Não há pesquisas eleitorais sobre as preferências do eleitorado, mas a imprensa timorense e observadores internacionais apontam os dois mais cotados para um enfrentamento no segundo turno: Francisco Guterres, conhecido como Lu-Olo, o atual presidente da Fretilin (Frente Revolucionária do Timor Leste Independente, o histórico partido que lutou pela independência do país durante a brutal ocupação pela Indonésia, entre 1975 e 1999); e o prêmio Nobel e ex-primeiro-ministro, José Ramos-Horta.
Em seus comícios de quarta-feira, os candidatos prometeram alavancar o crescimento econômico e fazer um esforço para trazer de volta a paz a um país ainda dividido por questões étnicas e assolado por brigas de gangues juvenis, no melhor estilo da guerra de quadrilhas do tráfico nas favelas do Rio de Janeiro e de São Paulo.
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