Embora acostumados a cobrir eventos violentos no Equador, parte de seu trabalho diário como funcionários da emissora pública local TC Televisión, em Guayaquil, jornalistas, produtores e cinegrafistas nunca imaginaram que se tornariam protagonistas de notícias depois que um grupo armado os fez reféns nesta terça-feira (9).
"Nunca pensei que passaria por isso em minha vida. Foi desastroso para todos os funcionários do canal. Todos nós tivemos medo de morrer ou de que um colega fosse morto ou ferido", disse o produtor de criação Carlos Vega à Agência EFE.
Ainda visivelmente assustado, Carlos chegou à sede da emissora na manhã desta quarta-feira (10). No entanto, a ordem dada pelas autoridades que estão investigando o incidente é que "ninguém pode entrar por 48 horas".
“Além disso, os telefones celulares de todos os funcionários que estavam dentro do canal foram recolhidos para análise", explicou um policial presente no local.
Resignado, Carlos lembrou que, no dia da invasão, tinha acabado de voltar do almoço. Como seu escritório fica bem em frente ao estúdio onde ocorreu o ataque, ele viu "um grupo de homens que forçou a entrada e começou a gritar".
"Corremos para outro escritório nos fundos e nos jogamos no chão porque houve disparos. Outros colegas correram para os dutos de ar para tentar se proteger. Foi uma loucura total. Não entendíamos o que estava acontecendo", contou.
Ironicamente, eles, que estão acostumados a fazer reportagens, não sabiam que, às 14h15 (16h15 em Brasília) de ontem, um grupo de homens encapuzados entraria na TC Televisión no momento em que um programa era transmitido ao vivo e os transformaria em notícia, tanto que hoje, do lado de fora do canal, havia não apenas jornalistas do Equador, mas outros que vieram de Chile, Peru, Estados Unidos e Colômbia para registrar a crise de violência pela qual o país está passando.
Investigação
Assim que a polícia assumiu o controle da situação na terça-feira, a investigação começou.
No local, há buracos de bala em uma parede, uma porta de vidro quebrada, além de bananas de dinamite e granadas com os quais os criminosos intimidaram os funcionários da TV.
"Esse foi um ato suicida", afirmou um dos policiais que participou da operação de resgate dos reféns.
O motivo, explicou ele, foi que os 13 autores do crime, incluindo dois menores, de 15 e 17 anos, "seriam mortos ou capturados, não havia outro jeito".
Para um dos cinegrafistas do canal, que preferiu não revelar o nome, o que aconteceu foi um divisor de águas.
"Estávamos em uma cobertura e, de repente, no chat do escritório, nossos colegas começaram a pedir ajuda e para chamarmos a polícia porque tinham sido sequestrados", contou.
"Os criminosos colocaram uma banana de dinamite no peito de nosso colega José Luis Calderón. É uma imagem que não consigo tirar da cabeça e que todos nós vimos no Equador. Nos 11 anos em que sou cinegrafista, cobri roubos e situações perigosas, com as quais você se acostuma quando trabalha na imprensa, mas nunca pensei que testemunharia algo dessa magnitude", acrescentou.
Leonardo Flores, um dos repórteres da emissora, declarou que o grupo armado procurava "destaque e semear o caos em Guayaquil, porque não apenas tomou o canal, como queria invadir quartéis e universidades e transformar tudo em um caos".
O Equador viveu um dia de terror na terça-feira, com ao menos dez pessoas mortas em vários atos de violência, incluindo a invasão da emissora de televisão, veículos incendiados e ameaças a universidades, instituições estatais e empresas.