A torcida organizada de futebol que teve papel de destaque na derrubada de Hosni Mubarak escolheu agora como alvo o marechal Mohamed Hussein Tantawi, atual homem forte do país.
"Queremos sua cabeça, Tantawi, seu traidor. Você poderia ter gravado seu nome na história, mas foi arrogante e acreditou que o Egito e seu povo poderiam dar um passo atrás e esquecer a sua revolução", escreveu a torcida organizada Ultras da Praça Tahrir em sua página do Facebook.
A raiva desses "ultras", como são conhecidos os torcedores inveterados, foi desencadeada pelo distúrbio dentro de um estádio que matou 74 pessoas e deixou mais de mil feridos na quarta-feira, ao final da partida al-Masry x Al Ahli, em Port Said.
Para os ultras, assim como para muitos políticos e egípcios comuns, a indignação não é com a briga de torcedores, e sim com a aparente falta de empenho das forças de segurança para impedi-la. O fato se soma à crescente frustração com a incapacidade do Exército para restaurar a lei e a ordem quase um ano depois da derrubada de Mubarak.
"Hoje, o marechal e os remanescentes do regime nos mandam uma mensagem clara. Ou temos liberdade, ou eles nos punem e nos executam por participarmos de uma revolução contra a tirania", disse o grupo na sua nota, que ganhou grande repercussão na Internet.
Moradores de Port Said, alguns políticos e os próprios ultras acham que o grupo foi o alvo do incidente.
"Os ultras são muito populares e respeitados entre os revolucionários", disse o comerciante Ahmed Badr, de 45 anos. "Os ultras foram o alvo (do incidente de quarta). Isso foi armado contra eles, um massacre. O conselho militar e as forças de segurança são os únicos responsáveis por esses fatos."
Aproveitando seus muitos anos de experiência em lidar com a polícia nos estádios, os ultras - geralmente adolescentes e jovens - foram cruciais na resistência à violência policial quando as forças de Mubarak tentaram esmagar a revolta popular do ano passado.
Essas torcidas não formam um corpo coeso. Como em outros países, cada time tem suas torcidas organizadas - caso da Ultras Al Ahli e da Ultras Cavaleiros Brancos, do Zamalek. Mas, no caso do Ultras da Praça Tahrir, que colocou Tantawi na sua mira, são torcedores de vários times que se uniram na praça do Cairo que simbolizou a revolução de 2011.
Desde então, os ultras continuam na linha de frente, envolvendo-se em frequentes confrontos com a polícia e o Exército durante manifestações pela imediata transferência do poder aos civis.
Há meses os ultras entoam cânticos contra os militares nos estádios, passando seu recado aos egípcios que assistem aos jogos pela TV. "Polícia militar, vocês são cães, como o Ministério do Interior. Escreva nas paredes das prisões, abaixo, abaixo o regime militar", diz um refrão entoado nos estádios.
Na quinta-feira, outro grito de guerra refletia a radicalização no país. "O povo quer a execução do marechal", gritavam milhares de egípcios na principal estação ferroviária do Cairo, aonde os torcedores desembarcavam vindos de Port Said.
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