Depois de ouvir cobranças do presidente da União Brasileira de Avicultura (UAB), Zoé Silveira D'Ávila, sobre a falta de técnicos e de recursos no Ministério da Agricultura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, na noite desta terça-feira, que as pessoas preferem trabalhar na iniciativa privada porque ganham mais e porque não têm órgãos fiscalizando seu desempenho, citando o Ministério Público e as CPIs do Congresso. Lula argumentou que o Estado sofreu um "desmonte" em 1990 e que é preciso reestruturar a máquina pública.

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- E todo mundo sabe: um grande técnico hoje vai trabalhar numa empresa privada para ganhar R$ 15, R$ 20 mil, ainda tem despesa com gasolina paga, com restaurante paga, e não tem Ministério Público atrás dele, não tem CPI atrás dele. Não tem nada. A máquina pública foi desmontada em vários setores - disse Lula, que discursou de improviso na abertura do 19º Congresso Brasileiro de Avicultura.

Lula argumentou ainda que, diante dos baixos salários oferecidos no setor público, só as pessoas realmente comprometidas com um projeto político de governo é que aceitam trabalhar no Estado. O governo tem sido justamente criticado por ter "inchado" a máquina com integrantes do PT.

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- Para você convencer um técnico a vir trabalhar no governo para ganhar R$ 5mil, R$ 6mil, só se a pessoa for realmente muito, muito comprometida ideologicamente. Se não, não vem - disse Lula, acrescentando "que se deve tomar uma atitude de reestruturar o Estado, tornando-o um "Estado necessário, nem mínimo nem máximo".

O presidente disse que só as grandes estatais atraem profissionais altamente qualificados, citando Itaipu, BNDES e Petrobras. E reclamou quando o governo é atacado por realizar concursos públicos.

- Cada vez que fazemos concursos, é uma enxurrada de editoriais dizendo que inchamos a máquina - disse Lula, numa crítica à imprensa.

Mas, em mais uma resposta ao presidente da UBA, Lula disse que os ministros, como Roberto Rodrigues (Agricultura), tiveram total liberdade para formar suas equipes e que muitas pessoas não ficaram no governo simplesmente porque não quiseram.

- O governo também não pode tudo, porque tem suas limitações - disse Lula, se referindo às dificuldades de infra-estrutura para controlar, por exemplo, a questão da aftosa no país.

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O presidente ficou visivelmente irritado com várias críticas feitas por D'Ávila. Com um discurso franco, o presidente da UBA cobrou mais recursos para o Ministério da Agricultura e mais técnicos para que se controle a questão da aftosa e se evite o aparecimento da gripe do frango no país.

- Não estamos aqui para criticar ninguém, mas para sugerir. Não votei no senhor, vou ser bem franco - disse o presidente da UBA, que discursou por 40 minutos.

Nesse momento, Lula ficou com a expressão séria e foi sorrir quando D'Ávila, um gaúcho de 84 anos, chamou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de "pão-duro" por não liberar verbas para o Ministério da Agricultura.

Lula disse ainda que sempre que o Brasil está em fase de crescimento, surgem aqueles que torcem contra.

- Toda vez que a gente (o Brasil) cresce muito, aparecem aqueles que querem jogar casca de banana, que não querem que as coisas dêem certo, que querem atrapalhar - disse Lula.

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