Curitiba – Depois de dez anos de discussões, os 34 países da América do Sul, da América Central e da América do Norte chegaram a um novo consenso sobre qual é a saída para os principais problemas da região. Durante a 4.ª Cúpula das Américas, que segue a série de debates iniciada em 1994, a geração de empregos será discutida como principal meta a ser perseguida pelos chefes de Estado americanos nos próximos anos. A oferta de trabalho teria potencial para combater a pobreza, fomentar o desenvolvimento social e o crescimento econômico, além de garantir a governabilidade.

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A cúpula será realizada em Mar del Plata (Argentina), 420 quilômetros ao sul de Buenos Aires, entre 4 e 5 de novembro, mas o centro dos debates já foi definido. As reuniões realizadas nos últimos dois anos garantem que é preciso "criar trabalho para enfrentar a pobreza e fortalecer a governabilidade democrática". A frase, escolhida como tema do evento, abre uma série de discussões que devem resultar num plano de ação, o documento mais importante do encontro.

O tema da cúpula vai permitir aos presidentes das Américas superar a frustração diante da falta de acordos específicos que garantam o desenvolvimento dos países mais pobres, demonstrada durante Cúpula das Nações Unidas, realizada na última semana em Nova Iorque. A maioria deve comparecer, incluindo os presidentes brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, mexicano, Vicente Fox, e Chileno, Ricardo Lagos, que criticaram o atual modelo de incentivo ao desenvolvimento na reunião da ONU. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ainda não confirmou presença. Ele estaria tentando evitar um encontro com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

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O trabalho surge como tema central depois de um longo período de debates, que vai além das discussões preparatórias. Nas três primeiras Cúpulas das Américas realizadas nos Estados Unidos, no Chile e no Canadá, as metas eram menos específicas. Em princípio, a própria integração era defendida como saída para os problemas regionais. Depois, os líderes americanos se deram conta de que seria necessário investir em educação para fortalecer a democracia. Mais tarde, concluíram que, antes de mais nada, as Américas precisavam matar a fome de seu povo e eliminar o risco da prosperidade representar injustiça social. Essa dualidade é justamente a raiz da nova discussão.

A economia mundial apresentou a maior taxa de crescimento desde os anos 70 no ano passado: 5,1%. O quadro é mais positivo nas Américas, onde as economias cresceram 5,8% em 2004. Pela segunda vez em 20 anos as seis economias mais fortes da região cresceram mais de 3%. Por outro lado, esses números não baixaram o desemprego. A estimativa da Organização dos Estados Americanos é de que 19 mil trabalhadores urbanos permanecem desocupados. Mesmo em países onde a taxa de crescimento aumentou, o índice do desemprego continua alto. No Chile, o crescimento foi de 3,3% em 2003, quando o desemprego era de 6%. O crescimento passou para 6% no ano passado; e a taxa de desemprego, para 8,8%.

A informalidade também preocupa. De acordo com dados reunidos para embasar as discussões da 4.ª Cúpula, 61% das pessoas que começaram a trabalhar entre 1990 e 2003 estão no mercado informal. Na zona rural, 46,7% não têm carteira assinada, a maioria mulheres. Uma pesquisa feita pelo Latinobarômetro, sediado no Chile, mostra que 76% dos trabalhadores têm medo de ficar desempregados nos próximos 12 meses.

Os participantes da cúpula terão a missão de definir como gerar empregos dignos e estáveis, partindo da constatação de que as políticas aplicadas nas últimas décadas resultaram num crescimento econômico sem a suficiente geração de trabalho de qualidade.

Na última reunião do Grupo de Revisão da Implementação de Cúpulas, dia 9, em Buenos Aires, os delegados dos 34 países envolvidos não chegaram a um acordo sobre o texto final da declaração a ser assinada pelos chefes de Estado. O grupo vai retomar a discussão entre 3 a 5 de outubro, em Washington.

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Nem todos concordam, por exemplo, com a receita dos Estados Unidos para a geração de trabalho. O presidente George W. Bush afirma que a ampliação do comércio é a saída para o desemprego, e também para o combate à violência e ao terrorismo. Os delegados de países como a Venezuela alegam que a globalização tem acentuado as desigualdades sociais e que a ampliação das relações comerciais não vai resolver os problemas das Américas. Por outro lado, não querem exagerar nas discussões e transformar a cúpula em uma manifestação antiglobalização, como aconteceu em Monterrey, no México, na reunião extraordinária realizada em janeiro do ano passado, quando os chefes de Estado foram recebidos com protestos.