| Foto:  RONALDO SCHEMIDT / AFP

O traficante mexicano Joaquín Guzmán Loera, conhecido como El Chapo, foi considerado culpado nesta terça-feira (12) por dez acusações criminais, entre elas tráfico de drogas, e agora pode ser sentenciado à prisão perpétua, no fim de um julgamento que durou quase três meses em Nova York. 

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A condenação encerra um reinado de violência e corrupção de um traficante que passou anos escapando da lei enquanto acumulava poder e riqueza com o império que construiu ao longo dos anos e por meio do qual enviou toneladas de drogas aos Estados Unidos. 

El Chapo, 61, ficou conhecido pelo alcance do Cartel de Sinaloa, que, segundo os procuradores responsáveis pelas acusações, era a “maior e mais prolífica organização de tráfico de drogas do mundo”. 

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Ele também protagonizou fugas ousadas de prisões mexicanas, entre elas a vez em que escapou de um presídio de segurança máxima, em 2015, após cavar um túnel de dentro de sua cela. 

O criminoso foi perseguido e preso novamente, e então extraditado aos EUA, onde enfrentava diversas acusações federais em vários locais. 

Crimes brutais

A decisão do júri foi tomada depois de mais de uma semana de deliberações na corte distrital federal do Brooklyn, onde os procuradores apresentaram inúmeras evidências contra o líder do cartel, entre elas 200 horas de depoimentos de 56 testemunhas –14 das quais trabalharam com El Chapo em algum momento. Durante a leitura do veredicto, os jurados encararam o chão, sem olhar para o traficante. 

O julgamento teve início em 13 de novembro do ano passado. Desde o começo, os procuradores buscaram mostrar El Chapo como o autor de vários crimes brutais. Eles também o responsabilizaram por espalhar terror ao longo da fronteira de EUA e México. 

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Já a defesa do traficante sustentava que ele era apenas um bode expiratório. Os advogados de Guzmán pediram que o júri desconsiderasse os depoimentos de testemunhas que estavam colaborando com o governo, afirmando que estavam mentindo para se salvar ao buscar acordos com as autoridades. 

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Jeffrey Lichtman, advogado de defesa do traficante, afirmou que deve recorrer de alguns pontos da decisão e disse que o traficante estava bem, apesar do veredito.“Ele é um cara muito otimista”, afirmou. 

“Ele sempre foi um cavalheiro, sempre foi motivador, sempre foi feliz e apreciou todos os nossos esforços.” Desde o início, o julgamento de El Chapo chamou muita a atenção da imprensa e exigiu o reforço da segurança da corte, com atiradores de elite e especialistas com sensores de radiação. 

Ao longo dos quase três meses, os presentes ouviram sobre como era o financiamento e a logística do cartel, e escutaram histórias sangrentas sobre a atuação do grupo, que teria lucrado bilhões de dólares com o envio de grandes quantidades de heroína, cocaína, maconha e drogas sintéticas aos EUA. 

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A principal acusação era de que ele liderava uma organização criminosa responsável por comprar drogas de fornecedores na Colômbia, Equador, Panamá e México, em uma área que incluía os estados de Sinaloa, Durango e Chihuahua. 

Mas ele também foi acusado de estuprar adolescentes, entre elas uma jovem de 13 anos. Ao longo de sua trajetória como traficante, El Chapo teria obtido até US$ 14 bilhões ao enviar até 200 toneladas de drogas pela fronteira dos EUA. 

Ele usava iates, barcos de pesca, aviões, submarinos semi-submersíveis e outros meios para embarcar os entorpecentes para o país vizinho. A ascensão do traficante, nos anos 1980, foi explorada pelos procuradores na corte nova-iorquina, que mostraram como ele continuou expandindo seu império, mesmo dentro de uma prisão de segurança máxima no México. 

Assassinato

El Chapo entrou na mira das autoridades mexicanas após ser responsabilizado, em 1993, pelo assassinato de um cardeal católico, Juan Jesús Posadas Ocampo, no aeroporto de Guadalajara. 

O traficante foi condenado no mesmo ano pela morte do religioso e enviado à prisão, de onde fugiu em 2001 –ele teria escapado escondido em um cesto de roupa sujas. Ele passou a década seguinte escondido em montanhas e fugindo de operações policiais e militares. 

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Em 2012, ele escapou de ser preso pelo FBI (polícia federal americana) e por agentes mexicanos ao fugir pela porta dos fundos de sua mansão em Los Cabos e se jogar em meio a arbustos. 

Dois anos depois, foi capturado em um hotel em Mazatlán e preso, mas fugiu em 2015 ao escavar um túnel em sua cela. Após sua última prisão, foi extraditado ao Brooklyn, onde havia sido indiciado inicialmente em 2009. 

Entre as testemunhas ouvidas no julgamento estavam funcionários de El Chapo, um de seus secretários pessoais, um fornecedor-chefe de cocaína da Colômbia, um distribuidor americano, um assassino de seu grupo e uma amante. 

Durante o julgamento, uma testemunha afirmou que El Chapo pagou ao ex-presidente Enrique Peña Nieto uma propina de US$ 100 milhões. "O senhor Guzmán pagou uma propina de US$ 100 milhões ao presidente Peña Nieto?", perguntou o advogado de defesa Jeffrey Lichtman a Alex Cifuentes, narcotraficante colombiano que foi sócio do mexicano e que agora colabora com a Justiça. 

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"Foi assim", respondeu Cifuentes, para, a seguir, dizer que não estava certo do valor. A propina teria sido paga durante a campanha eleitoral para as eleições de 2012 no México. Apesar de a condenação ser um baque para o Cartel de Sinaloa, o grupo continua a operar, comandado pelos filhos de El Chapo. 

Em relatório, a DEA (Agência de Combate às Drogas dos EUA) afirmou que a organização e outro cartel, Nova Geração de Jalisco, eram “as maiores ameaças criminais” envolvendo o tráfico de drogas aos EUA.