Um festival sobre crime em Buenos Aires deve atrair cerca de 30 mil pessoas para ouvir investigadores, policiais, juízes, ex-criminosos, jornalistas e escritores falarem sobre assassinatos, meninos soldados da África, roubos e outros tipos de delitos -o tema mais recorrente do evento, diz o organizador Ernesto Mallo, é o tráfico.
A ideia do "Buenos Aires Negra" é misturar histórias reais de crimes com as da ficção. "O que faz sucesso é a combinação", afirma.
Mais de 90 pessoas farão palestras. Há análises sobre temas, como violência doméstica e descrição de casos, como o da gangue do seguro -nos anos 1990, na Argentina, um grupo de criminosos fazia seguros de vida no nome de terceiros, sem que esses soubessem, e se colocavam como os beneficiários das apólices. Depois matavam os segurados e ficavam com o dinheiro. Os bandidos foram condenados em 2003.
Mallo conta que os palestrantes que mais chamam público são investigadores. "Eles são as estrelas. Como o tema que tem mais aparecido é o tráfico, eles falaram de como operam os sicários, os matadores de aluguel que os traficantes contratam."
Segundo Mallo, alguns grandes narcotraficantes estão perdendo espaço na Colômbia e no México e encontraram na Argentina uma boa opção para se instalar.
As falas dos ex-criminosos também atraem muita gente, afirma ele. Essas sessões são encontros nos quais os palestrantes relatam suas histórias.
Um deles foi o canadense Brian O'Dea, 64. Ele era um grande traficante de maconha nos anos 1970 e 1980, e conta que, em 1991, foi condenado a uma pena de 10 anos nos EUA (depois foi transferido ao Canadá, e conseguiu cumprir uma parte em regime semiaberto).
O'Dea diz que começou levando maconha do México aos EUA, depois mudou-se para a Colômbia e levava a droga de lá e da Jamaica aos EUA até, finalmente, estabelecer contatos com produtores do sudeste asiático, principalmente do Vietnã.
Ele afirma nunca ter visto nenhuma arma e nem ter precisado praticar nenhum ato violento nos anos em que trabalhou traficando maconha.
"Eu dirigia meu trailer até a região central de Nova York, estacionava e um desconhecido se aproximava com malas com milhares de dólares. Nós nos cumprimentávamos, ele me passava o dinheiro e nos despedíamos. Nunca houve nada remotamente violento", afirma.
O ex-traficante conta que foi preso quando já não estava mais no negócio -havia desistido depois de uma overdose de cocaína. Mas a polícia tinha uma investigação com muitas confissões e testemunhos que o colocaram na cadeia.
Ele publicou um livro relatando suas histórias e negocia direitos para um filme.
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