Alto-falantes anunciaram os nomes dos mortos à medida que fileiras de túmulos eram preenchidas na cidade mineira turca de Soma, ontem, enquanto milhares protestaram em grandes cidades. A tristeza se transformou em revolta após o acidente industrial mais grave da história do país.
Equipes de resgate ainda tentavam alcançar partes da mina de carvão de Soma, 480 quilômetros a sudoeste de Istambul, mais de dois dias depois de um incêndio cortar a energia e desligar dutos de ventilação e elevadores, aprisionando centenas de pessoas na mina.
Pelo menos 282 mortes foram confirmadas, a maioria por envenenamento por monóxido de carbono. As esperanças de retirar com vida os cerca de 100 mineiros que ainda podem estar retidos diminuem.
Insatisfação
O país, que vivenciou uma década de crescimento econômico acelerado sob o governo de inspiração islâmica do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, ainda sofre com um dos piores históricos de acidentes de trabalho do mundo. Moradores furiosos atormentaram Erdogan na última quarta-feira enquanto ele visitava a cidade, revoltados com o que veem como "camaradagem" do governo com magnatas da mineração, incapacidade de garantir a segurança e falta de informações sobre o esforço de resgate.
O acesso à entrada da mina foi bloqueado ontem por barreiras da polícia paramilitar a vários quilômetros de distância para uma visita do presidente turco, Abdullah Gul, e os carros eram revistados pelos policiais.
"Viemos aqui para partilhar a tristeza e esperar que nossos amigos saiam, mas não nos permitiram. A dor do presidente é maior que a nossa?", indagou Emre, de 18 anos, que tentava chegar à mina e disse que amigos do seu vilarejo ainda estão aprisionados.
Erdogan, que declarou três dias de luto nacional, com início na última terça-feira, lamentou o desastre, mas disse que tais acidentes não são incomuns e adotou uma atitude defensiva quando foi indagado se precauções suficientes haviam sido tomadas.