
À medida que acompanho a moderna tragédia grega que se desenrola na Europa, eu revejo os 18 anos que vivi em Atenas, indo à pé para minha escola em Plaka (a parte antiga da cidade), pelas mesmas ruas que, há pouco tempo, estavam repletas de manifestantes e de conflitos violentos.
Quando era mais nova, minha família representava um pequeno microcosmo da atual economia grega. Nós estávamos extremamente endividados; as repetidas tentativas de meu pai de possuir um jornal terminaram em fracasso e falência. Eventualmente, minha mãe pegou minha irmã e a mim, e o deixou. (Na realidade, o que levou minha mãe a partir não foi a falência, mas a promiscuidade.)
Mais austeridade estava por vir, mas minha mãe tinha certeza de uma coisa: ela cortaria tudo, exceto nossa educação e comida boa e saudável. Ela tinha apenas dois vestidos e nunca gastava com nada para si mesma. Eu me lembro de quando ela vendeu seu último par de brincos de ouro. Minha mãe pediu dinheiro emprestado para todo mundo que pôde, de modo que suas duas filhas pudessem realizar os seus sonhos de uma boa educação eu em Cambridge e minha irmã na Real Academia de Artes Dramáticas, em Londres.
Enquanto contemplava as estatísticas especialmente a taxa de desemprego de 54% entre os jovens gregos eu pensava em todas as histórias por trás desses dados apavorantes. Todos os sonhos destruídos. Todas as promessas que não foram cumpridas. E toda a culpa, a vergonha e o medo que, frequentemente, caminham lado a lado com um desemprego intratável e com a falta de esperança em um futuro melhor.
Muito provavelmente, o caminho punitivo das medidas de austeridade e a inabalável contração econômica irão levar a uma estagnação ainda mais profunda em 2013, e não se pode permitir que isso continue a acontecer. Os resultados da eleição de 6 de maio mostram que os gregos não irão permitir que as coisas continuem assim; ao invés disso, eles irão pedir mudanças por meio das urnas ou da violência nas ruas ou por uma combinação entre as duas.
Se o Banco Central Europeu não abandonar sua obsessão destrutiva pela austeridade, a Grécia não terá muitas opções além de abandonar a zona do euro. Isso traria seus próprios perigos, é claro, mas a União Europeia deixou a Grécia com poucas alternativas sustentáveis.
Sim, os gregos agiram de forma irresponsável frente ao colapso econômico assim como meu pai agiu de forma irresponsável em sua vida privada e profissional. Mas isso não é razão para punir as crianças, para destruir seu futuro como forma de remediar um passado pelo qual eles não são responsáveis.
A Grécia, assim como minha mãe, sempre foi devotada, acima de tudo, a suas crianças. Quando o futuro dessas crianças é colocado em risco, o futuro e a vida do país também o são.
E se possuir um futuro significa deixar o euro, é provável que essa seja a escolha dos gregos. Eles inventaram a democracia e, agora, é o momento de reacender o espírito grego da inovação e da engenhosidade antes que o problema econômico gere mais desespero e suas perigosas consequências nas ruas e nas urnas.
Arianna Huffington, presidente e editora-chefe do The Huffington Post Media Group e autora do livro Third World America ("América do terceiro mundo").
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