Um transplante de medula óssea usando células-tronco de um doador com uma resistência genética natural ao vírus da Aids livrou um paciente HIV-positivo de sua infecção por quase dois anos, afirmaram pesquisadores alemães.
O paciente, um norte-americano que mora em Berlim, apresentava o vírus da Aids e também uma leucemia. O melhor tratamento para a leucemia era um transplante de medula óssea, que usa as células-tronco do sistema imune de um doador saudável para substituir as células cancerosas do doente.
Os médicos Gero Hutter e Thomas Schneider, da Clínica para Gastrenterologia, Infecções e Reumatologia do hospital Berlin Charite disseram nesta quarta-feira (12) que a equipe de cirurgiões buscou um doador de medula que possuísse uma mutação genética responsável por tornar o corpo resistente à Aids.
A mutação afeta um receptor, uma porta de entrada celular, chamado CCR5, receptor esse usado pelo HIV para invadir as células que contamina.
Quando descobriram o doador com a mutação desejada, os médicos usaram essa medula óssea para tratar o paciente. Desapareceram não apenas a leucemia, mas também o vírus da Aids.
"Até o dia de hoje, mais de 20 meses depois do transplante bem-sucedido, não detectamos nenhum traço do HIV no paciente", disse a clínica em um comunicado.
"Nós realizamos todos os testes. Não apenas com o sangue mas também nos reservatórios (do vírus)", afirmou Schneider em uma entrevista coletiva. "No entanto, não podemos excluir a possibilidade de o HIV ainda estar lá."
Os pesquisadores ressaltaram que a alternativa nunca poderia se transformar em um tratamento padrão contra a Aids. Os transplantes de medula óssea são procedimentos severos e delicados. E exigem antes que a medula óssea do paciente seja totalmente destruída.
Os doentes correm o risco de morrer se adquirirem a menor infecção que seja porque seu sistema imunológico ficará desativado até as novas células-tronco crescerem e substituírem as antigas.
A Aids é uma doença incurável e sempre fatal. Coquetéis de medicamentos são capazes de conter o vírus, algumas vezes em níveis que impossibilitam detectá-lo. No entanto, pesquisas mostram que o HIV nunca desaparece por completo - ele sobrevive nos chamados reservatórios do corpo.
A equipe de Hutter disse não ter conseguido encontrar nenhum traço do vírus no paciente de 42 anos de idade, cuja identidade não foi revelada. Mas ressaltou que isso não significava a supressão total do HIV.
"O vírus é cheio de truques. Ele sempre pode regressar", afirmou o médico.
A mutação no CCR5 surge em cerca de 3 por cento dos europeus, disseram os pesquisadores. Segundo os cientistas, a terapia genética, uma tecnologia ainda altamente experimental, pode vir a ser usada algum dia para curar os pacientes HIV-positivos.
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