Grupos agropecuários do Paraguai iniciaram nesta segunda-feira (15) uma manifestação de dois dias para reivindicar "segurança e trabalho" ao governo, em um momento em que a crise rural se aprofunda com a ocupação de propriedades por camponeses em busca de terras.
Trata-se do primeiro protesto do setor -que gera cerca de 25% do Produto Interno Bruto do país - desde que o presidente Fernando Lugo assumiu o poder em 15 de agosto.
A mobilização, batizada de "tratoraço", foi convocada pela União de Grêmios da Produção (UGP), que reúne agricultores, pecuaristas, cooperativas e câmaras de exportadores, e recebeu a adesão das maiores associações empresariais e industriais do Paraguai, quarto maior exportador mundial de soja.
O protesto, que não incluirá bloqueios de estradas, acontece em 10 dos 17 departamentos do país, e tem como centro a região agrícola ao leste do país.
Os manifestantes reclamam de um suposto aumento no número de invasões. "Pedimos segurança e trabalho para todos, e a necessidade de construir um Paraguai em paz, moderno e sem enfrentamentos e violência", disse à Agência Efe Héctor Cristaldo, presidente da União de Grêmios da Produção (UGP), que engloba os organismos que coordenam a mobilização.
Imagens de televisão mostraram dezenas de produtores encostados nas principais estradas do país com máquinas agrícolas, caminhões e tratores carregando bandeiras paraguaias e cartazes com os dizeres: "chega de violência!" e "somos todos Paraguai!".
O presidente criou semanas atrás a Coordenadoria Executiva para a Reforma Agrária com a intenção de atender às reivindicações dos produtores e reafirmou que garantirá o respeito à propriedade privada.
A tensão rural cresceu nos últimos meses devido às ameaças feitas por grupos de lavradores de invadir fazendas - especialmente pertencentes a estrangeiros - e destruir maquinários e cultivos para exigir do governo o cumprimento da promessa de iniciar a reforma agrária.
A UGP afirma que a insegurança dificulta os trabalhos em centenas de propriedades em diversos pontos do país, cuja economia se sustenta pela exportação de carne e soja.
O principal ponto de conflito é o departamento de San Pedro, no centro do país, onde grupos camponeses que são contra a presença de brasileiros iniciaram mobilizações contra estrangeiros para que eles abandonem a região.
Mais de 100 mil brasileiros e descendentes se dedicam ao trabalho agropecuário no Paraguai, em regiões próximas à fronteira, no leste do país.
Em Santa Rita, no departamento do Alto Paraná, centro da migração brasileira, uma extensa fila de tratores desfilava com bandeiras paraguaias pedindo "não à xenofobia".
Em contrapartida, Luis Aguayo, da Mesa Coordenadora Nacional de Organizações Camponesas (MCNOC), um dos agrupamentos de lavradores que reivindica as ocupações, criticou o lema de "segurança e trabalho" da mobilização dos agropecuários.
Aguayo assegurou à imprensa que o setor não pode falar de segurança e o acusou de não respeitar os direitos e a segurança meio ambiental e de manter técnicas de fumigação que danificam as povoações camponesas.
Ele considerou, além disso, que os organizadores do tratoraço se contradizem ao exigir trabalho, já que, segundo o dirigente da MCNOC, os cultivos mecanizados da soja, assim como a pecuária, são os setores produtivos de menor geração de empregos no país.
A demonstração de força do setor agropecuário começou poucas horas antes que Lugo viajasse ao Brasil, onde permanecerá até a próxima quarta-feira para participar das cúpulas de líderes do Mercado Comum do Sul (Mercosul), da América Latina e o Caribe (Calc) e da União de Nações Sul-americanas (Unasul).
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