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Mais de mil tratores bloquearam nesta segunda-feira (26) o bairro europeu de Bruxelas, local sede das instituições da União Europeia, em um tenso protesto contra as reivindicações de agricultores: sua situação insustentável e a rigidez das normas do bloco que sufocam o setor.
Desde o início da manhã, centenas de tratores bloquearam as principais avenidas da cidade para pressionar os ministros da Agricultura europeus, que se reuniram hoje para discutir como lidar com as demandas de um setor que vem se manifestando há semanas em diferentes países da UE.
A manifestação, convocada por organizações de agricultores da Valônia, foi acompanhada de incidentes, com pneus e fardos de palha queimados, fogos de artifício, além de ovos e laranjas atirados contra os prédios das instituições.
A tensão nos protestos aumentou durante a manhã, quando alguns manifestantes começaram a entrar em conflito com a polícia, que montou um perímetro de segurança em torno dos principais prédios das instituições europeias.
A violência começou com alguns manifestantes jogando garrafas de vidro na tropa de choque, que respondeu disparando canhões d'água e gás lacrimogêneo contra eles.
Durante uma entrevista coletiva no final do Conselho de Ministros da Agricultura, o vice-primeiro-ministro belga, David Clarinval, condenou o uso de violência de “qualquer tipo e em qualquer circunstância”.
“A violência parece ter sido maior do que o normal e o uso da força [policial] também foi maior do que o normal”, disse Clarinval, referindo-se aos confrontos entre alguns manifestantes e a tropa de choque da polícia.
Em 1º de fevereiro, coincidindo com a reunião de chefes de Governo e Estado da UE, centenas de agricultores também se manifestaram na capital belga com as mesmas reivindicações, mas os protestos transcorreram sem muita tensão ou confrontos.
A polícia belga estima que cerca de mil tratores bloquearam a cidade hoje, embora, de acordo com um representante da Associação Agrícola de Jovens Agricultores (Asaja), as organizações agrícolas estimem o número em 2 mil.
Setor apresenta demandas
Várias organizações estiveram presentes na manifestação, entre elas, a Federação de Jovens Agricultores (FJA) e a Federação da Agricultura da Valônia (FWA), às quais se juntaram o Comitê de Coordenação da Via Campesina, a Federação Unida de Associações de Criadores e Agricultores (FUGEA) e a Asaja.
A porta-voz da Via Campesina, Morgan Ody, disse à Agência EFE que os agricultores estão irritados porque trabalham duro para produzir alimentos e não ganham a vida com isso.
Por esse motivo, a Via Campesina defendeu o questionamento das políticas europeias de livre comércio, que acredita serem “responsáveis por preços baixos e instáveis”, a simplificação da burocracia, o fim dos acordos de livre comércio e da concorrência desleal, além do fornecimento à Política Agrícola Comum (PAC) de um orçamento “suficiente e justo”.
Ody argumentou que algumas das exigências das grandes organizações que representam os agricultores - como a de acabar com as políticas ambientais da UE - não são semelhantes às dos pequenos e médios agricultores, que querem alcançar uma “produção sustentável” que lhes permita combater a mudança climática.
“O que temos que acabar é com esse sistema neoliberal que não permite que os agricultores ganhem a vida”, disse ela, explicando que, para isso, a Europa deve tornar obrigatória a compra dos produtos dos agricultores “pagando um preço justo”.
A presidente da delegação da Asaja em Almería (Espanha), Adoración Blanque, por sua vez, denunciou o fato de que as políticas europeias são “muito restritivas”, ao mesmo tempo em que criticou os acordos de livre comércio e pediu que a PAC fosse mais flexível.
Mas, acima de tudo, Blanque enfatizou a necessidade de achar soluções urgentes para as demandas de um setor que está farto, para que os produtores europeus possam continuar produzindo e, para isso, ela pediu vontade política por parte da UE.