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Psicologia

Trauma

Vinte e sete anjos de madeira colocados perto da escola de Sandy Hook, em memória aos mortos em Newtown: 20 crianças, 6 adultos e o assassino | Mike Segar/Reuters
Vinte e sete anjos de madeira colocados perto da escola de Sandy Hook, em memória aos mortos em Newtown: 20 crianças, 6 adultos e o assassino (Foto: Mike Segar/Reuters)
Policiais de Newtown conduzem crianças da escola Sandy Hook, que foram orientadas a dar as mãos e fechar os olhos |

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Policiais de Newtown conduzem crianças da escola Sandy Hook, que foram orientadas a dar as mãos e fechar os olhos

Em 20 de abril de 1999, Crystal Woodman, 16 anos, estudava para uma prova na biblioteca da escola de Columbine, quando Dylan Klebold e Eric Harris entraram e começaram a atirar. Durante 7 minutos e meio, ela ficou escondida ouvindo os gritos, os tiros e os risos dos dois adolescentes.

"Eu pensei, ‘Eu não vou conseguir sair daqui viva’. Tenho 16 anos e estou diante da morte", disse a jovem, agora Crystal Woodman Miller, numa entrevista por telefone, de sua casa, em Morrison, no estado de Colorado, a 24 quilômetros de Columbine.

Quando os dois atiradores saíram da biblioteca para buscar mais munição, ela conseguiu fugir, sem sofrer nenhum ferimento físico. Mas o estado emocional em que ela ficou depois era debilitante. "Eu tive pesadelos a noite toda, todas as noites, durante 2 anos", disse Crystal, agora com 30 anos. "Eu vivia um paradoxo: queria me aproximar das pessoas e não queria ninguém perto de mim".

Como muitas vítimas de traumas, ela se via procurando saídas e formulando planos de fuga sempre que entrava em um lugar novo.

Para crianças e jovens expostos a traumas armados – como os alunos da escola primária de Sandy Hook em Newtown, Connecticut –, o caminho para a recuperação pode ser longo e tortuoso, marcado por ansiedade, pesadelos, problemas escolares e até abuso de drogas.

Segundo psiquiatras, ao presenciar cenas de violência letal, a sensação de segurança da criança é destruída, deixando um conjunto de desafios emocionais e sociais que não são fáceis de se resolver. A boa notícia é que, com certeza, a maioria dessas crianças vai se recuperar.

"Mesmo nessa idade, as crianças são muito fortes", disse Glenn Saxe, presidente da ala psiquiátrica para crianças e adolescentes do Centro Médico da Universidade de Nova York. "Os dados mostram que a maioria das pessoas consegue ficar bem após um trauma, o que inclui tiroteios em escolas."

Hoje, Crystal descreve a si mesma como livre dos pesadelos e da depressão que a assombraram nos meses após o tiroteio.

"Eu jamais serei a mesma", ela disse, "mas uma hora eu me dei conta de que podia escolher ser uma pessoa amargurada, nervosa e cheia de ódio ou podia escolher perdoar e viver minha vida apesar do que aconteceu".

Os fatores que determinam a recuperação de uma criança após um trauma variam de pessoais a ambientais. Os psiquiatras dizem que ter o apoio da família ajuda. E a resistência natural – a probabilidade das pessoas de ser capaz de processar verbalmente seus sentimentos ou de ter uma atitude positiva em relação ao futuro – tem um papel importante também.

Crianças pequenas expostas a traumas com frequência regridem, voltando a balbuciar como bebês ou a ter hábitos que já haviam abandonado, como o de carregar um cobertor favorito.

Um dos motivos pelos quais as pessoas superestimam os danos psicológicos que uma criança é capaz de suportar após um tiroteio na escola é que elas subestimam o quanto traumas na infância são comuns.

Num estudo de 1997 com adolescentes de 12 a 17 anos, conduzido pela Universidade Médica da Carolina do Sul, 8% relataram ter passado por um abuso sexual, 17% relataram ter sofrido agressão física e 39% relataram ter testemunhado cenas reais de violência.

"De certo modo, o trauma faz parte do pacote de ser humano", disse Saxe. "A maioria de nós é capaz de se lembrar de pelo menos uma experiência em que houve uma grande ameaça à nossa segurança. A maioria das pessoas consegue usar isso para superar o trauma e dar um jeito de seguir em frente depois".

Tradução de Adriano Scandolara.

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