Uma trégua entre a polícia egípcia e manifestantes durante a madrugada desta quinta-feira conseguiu aplacar a violência que matou 39 pessoas em cinco dias, e o Exército afirmou que não haverá adiamento da eleição parlamentar prevista para a próxima semana.
As manifestações de milhares de egípcios furiosos com a lenta transferência de poder por parte da liderança militar para um regime civil levaram a violentos confrontos com a polícia, em cenas semelhantes à revolta popular que derrubou o presidente Hosni Mubarak em fevereiro.
Os manifestantes prometeram não deixar a praça central Tahrir, no Cairo, que mais uma vez se tornou palco de protesto público no país árabe mais populoso.
O conselho militar, que atualmente governa o Egito e prometeu realizar as eleições parlamentares como previsto, disse estar fazendo todo o possível para impedir a repetição da violência.
Em comunicado, o conselho pediu desculpas, ofereceu suas condolências às famílias dos mortos, e prometeu uma rápida investigação para descobrir quem estava por trás dos incidentes.
Um membro do conselho dirigente, o general Mamdouh Shaheen, disse em entrevista coletiva que não haveria atraso da votação parlamentar, agendada para segunda-feira.
"Não vamos adiar as eleições. Esta é a palavra final", afirmou.
Outro membro do conselho, o general Mokhtar al-Mullah, criticou os manifestantes.
"Se olharmos para aqueles em Tahrir, independentemente do seu número, eles não representam o povo egípcio, mas devemos respeitar a opinião deles", disse ele em entrevista coletiva sobre a eleição.
Ele explicou que o Exército espera formar um novo governo até segunda-feira para substituir o gabinete do primeiro-ministro Essam Sharaf, que renunciou durante a violência desta semana sem dar uma razão.
Trégua
Manifestantes na Praça Tahrir disseram que uma trégua havia sido estabelecida à meia-noite. Ao amanhecer, a área estava tranquila pela primeira vez em dias, embora o gás lacrimogêneo permanecesse no ar.
"Desde aproximadamente meia-noite ou 1h da manhã não houve mais confrontos. Estamos aqui para garantir que ninguém ultrapasse a linha de isolamento", disse Mohamed Mustafa, de 50 anos, que estava bloqueando uma rua de acesso ao Ministério do Interior, foco de grande parte da violência.
Eles estavam protegendo a barricada construída com uma cerca de metais quebrados, uma cabine telefônica deitada de lado e parte de um poste de luz.
Na outra extremidade da rua, vidro estilhaçado, blocos de concreto e montes de lixo, e ao menos dois policiais armados bloqueavam a passagem. O grupo de Mustafa disse que havia policiais na linha de frente, e atrás deles estava o Exército.
Manifestantes na Praça Tahrir construíram barricadas semelhantes para bloquear o acesso à rua Mohamed Mahmoud, local de repetidos confrontos.
"Nós construímos um espaço para nos separar da polícia. Estamos aqui para garantir que ninguém irá violar (a barreira)", disse Mahmoud Adly, de 42.
Os protestos no Cairo e algumas outras cidades egípcias representam o mais grave desafio para os governantes do Egito desde que o conselho militar liderado pelo marechal Mohamed Hussein Tantawi assumiu no lugar de Mubarak, derrubado em 11 de fevereiro.
As manifestações parecem ter polarizado os egípcios e muitos temem que a agitação irá prolongar a estagnação econômica que aprofundou a pobreza de milhões de pessoas.
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