O número de pessoas que fogem da Líbia tem caído nos últimos dias, e é impossível saber se eles estão sendo impedidos de viajar ou se estão com muito medo de fazer o trajeto até as fronteiras, disseram agências humanitárias na terça-feira (8).
Menos de 20% dos trabalhadores estrangeiros supostamente em condições de deixar a Líbia chegaram à Tunísia ou ao Egito.
"As coisas estão se desenrolando na Líbia de maneira muito preocupante, e precisamos estar preparados para a eventualidade de um grande êxodo acontecer. É impossível saber exatamente o que está acontecendo do outro lado," disse o alto comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, no posto fronteiriço tunisiano de Ras Jdir.
Ele afirmou que a atual calmaria pode ser apenas uma trégua antes de uma nova leva de refugiados, e que as agências humanitárias precisam estar preparadas.
William Lacy Swing, diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), estimou que apenas 15 a 20 por cento dos imigrantes na Líbia tenham deixado o país. "O fato de o fluxo ter se abrandado um pouco não significa que não haverá mais," disse.
Mais de 215 mil estrangeiros deixaram a Líbia desde que o início dos combates entre as forças governistas e rebeldes, há cerca de três semanas. Mas o fluxo diminuiu drasticamente no final da semana passada, segundo funcionários do Acnur (Alto-Comissariado da ONU para Refugiados) e da OIM em Genebra.
Os refugiados que chegam a Ras Jdir relatam uma brutal atuação das tropas leais ao dirigente Muamar Kadafi, inclusive saqueando pertences dos estrangeiros.
"Eles disseram que os nossos bens pertencem à Líbia, que nós os ganhamos à custa da riqueza da Líbia, e por isso temos de devolvê-los," disse um homem, temeroso de dizer seu nome. "Eles disseram que isso é para as pessoas da Líbia, não para aqueles que partem da Líbia quando se precisa deles."
Postos Militares
Um sudanês disse que soldados em um posto de controle ao longo do caminho perguntaram-lhe o que ele tinha "das riquezas da Líbia," e então confiscaram o único item com algum valor - um barbeador elétrico. O homem caiu em lágrimas ao cruzar a fronteira. "Podem ficar (com o barbeador). Estou feliz por ter saído, que é a coisa mais importante," afirmou.
O tunisiano Nabil, que chegou com seus dois filhos, disse que Trípoli estava tranquila na segunda-feira, mas ouviu falar de combates incessantes ao passar por Zawiyah, cidade que está sob pesado ataque das forças governistas. "Eu vi muitas casas bombardeadas em Zawiyah," afirmou.
Vários outros refugiados também relataram que a calma reinava em Trípoli, mas que havia muitos tanques e postos de controle militar ao longo da estrada para a fronteira. "Eles revistaram as malas e pegaram o que queriam," disse Saeida Sassi, que conseguiu deixar o país com suas duas filhas pequenas, mas sem seu laptop.
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