Vestindo a camiseta de seu time, os Javalis Selvagens, os 12 meninos e seu treinador conversaram com jornalistas depois de serem liberados do hospital| Foto: LILLIAN SUWANRUMPHAAFP

Na semana que antecedeu o resgate dos 12 meninos da equipe juvenil de futebol Javalis Selvagens, o mundo estava preocupado em saber qual estratégia seria colocada em prática para retirá-los da caverna inundada, no norte da Tailândia. Mas o que muita gente estava se perguntando também era por que o grupo havia decidido explorar o local, mesmo com uma placa advertindo sobre os perigos de entrar ali na época das monções (que acontecem durante o verão no sudeste asiático). 

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Falando pela primeira vez à imprensa nesta quarta-feira (18), o treinador Ekkapol Chanthawong, de 25 anos, respondeu que foi por mera curiosidade. “Não foi para comemorar o aniversário de Nite [um dos meninos]... Nós nunca tínhamos estado na caverna, mas postamos sobre isso Facebook”, explicou o treinador, conhecido como Ake, acrescentando ainda que todos concordaram em explorar a caverna. 

Sem alternativas

Quando voltaram, se deram por conta que estavam presos. Em coletiva de imprensa, os meninos disseram que tentaram nadar de volta, mas viram que essa alternativa era perigosa. Buscaram então cavar um caminho para sua saída perto de um local onde estava escorrendo água — mas também perceberam que não daria certo. Eles esclareceram que todos sabiam nadar e praticavam natação após os treinos de futebol. 

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O treinador então disse aos meninos para ficarem tranquilos que o nível da água diminuiria no dia seguinte e que eles poderiam sair. “No início não estávamos com medo, porque achamos que a água baixaria e alguém nos resgataria”, contou Ake. Eles não podiam ouvir a chuva lá fora, mas observavam o nível da água subindo dentro da caverna e buscavam locais seguros para ficar. 

Sem alimentos

Ao contrário do que se pensava, o grupo não havia levado nenhum alimento para a caverna. “Nós não tínhamos comida, apenas bebíamos água”, disse um dos garotos, lembrando os primeiros nove dias que ficaram na caverna, antes de serem encontrados por mergulhadores britânicos. Isso fez com que eles emagrecessem, em média, 2Kg — peso que já recuperaram no período que estiveram no hospital. 

Os meninos contaram que ficaram surpresos quando a equipe de mergulhadores os encontrou, especialmente porque não eram tailandeses. Adul, o garoto de 14 anos que se tornou o intérprete do grupo, disse que aquele momento foi um milagroso. “Lembro que respondi ‘estamos bem’... mas nossos cérebros estavam lentos naquele momento”, contou aos repórteres. 

Durante a semana que estiveram na caverna com os mergulhadores, eles criaram laços de amizade. Até mesmo se divertiram ao jogar dama. Um dos mergulhadores da Marinha tailandesa foi apelidado de “rei da caverna” por ganhar as partidas.

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Resgate e sentimento de culpa

Quando chegou a hora do resgate, nenhum dos meninos teve pressa em sair primeiro, já que estavam bastante unidos, segundo as palavras do treinador Ake. Um dos médicos que os avaliou esclareceu que todos foram considerados fortes o suficiente para sair da caverna, e que não houve uma seleção por estado de saúde. Os primeiros a sair foram aqueles que se voluntariaram. 

Durante a coletiva de imprensa, os garotos também relembraram Saman Kunan, o ex-oficial da Marinha e experiente mergulhador tailandês que morreu durante os preparativos para a missão de resgate. “Nós nos sentimos culpados pela sua morte”, contou Ake ao dizer que todos ficaram muito chocados quando ficaram sabendo da notícia. Como uma forma de homenagem, um desenho de Kunan com mensagens dos garotos será entregue para a família do mergulhador. 

Planos para o futuro

Agora que estão liberados do hospital e bem de saúde, os 13 começam a fazer planos para o futuro. Alguns sonham em ser jogadores de futebol, outros disseram que gostariam de se tornar membros dos SEALS da Marinha tailandesa — a equipe que trabalhou exaustivamente na missão de resgate. Eles também disseram ter aprendido uma lição e prometeram ser pessoas melhores. Os meninos e o treinador pedir desculpas aos pais. “De agora em diante eu vou viver minha vida cuidadosamente”, afirmou Adul. 

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Ake confirmou que eles serão ordenados como monges budistas por um curto período de tempo — na Tailândia isso é uma tradição para homens que vivenciaram tragédias. Os quatro meninos apátridas receberão a cidadania tailandesa. Segundo uma autoridade regional, os papéis para a emissão dos documentos já foram submetidos. 

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Depois de falar com os repórteres, os 13 foram para casa pela primeira vez, onde provavelmente suas famílias os esperam com suas refeições preferidas — algo sobre o que os meninos falam desde que saíram da caverna.

Como eles ficaram presos? 

Os meninos queriam explorar a caverna por apenas uma hora, em uma excursão após o treino de futebol, no dia 23 de junho. O objetivo era relaxar depois de ter realizado o exercício físico, mas começou a chover e as águas subiram. Diante desse cenário, o grupo procurou um lugar mais alto, usando as mãos para sentir as paredes e encontrar abrigo. 

Como eles foram salvos? 

A operação de salvamento começou no dia 2 de julho, uma semana depois que mergulhadores britânicos encontraram o grupo, ilhado em uma das câmaras secas da caverna. Num primeiro momento, chegou-se a cogitar a hipótese de mantê-los lá por meses até que a época de monções passasse e eles pudessem sair caminhando. Mas a queda do nível de oxigênio dentro da caverna e a possibilidade de que chuvas fortes elevassem o nível de água lá dentro fizeram com que o resgate via mergulho fosse colocado em prática. Na coletiva desta quarta-feira se soube que o resgate só foi possível depois que o grupo de socorristas conseguiu máscaras de mergulho que servissem nos pequenos rostos dos garotos. 

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 Os meninos e o treinador foram retirados da caverna com ajuda de macas, em uma operação que durou três dias. Nas partes alagadas, cada um deles fez o trajeto usando tanques de oxigênio e foram acompanhados por dois mergulhadores durante o percurso, que incluiu passagens escuras, apertadas e com água barrenta. 

Quem são eles? 

Os meninos, com idades entre 11 e 16 anos, jogam futebol para o time juvenil Moo Pa (Javalis Selvagens, em Português). O grupo inclui um goleiro, dois defensores, quatro meio-campistas e três atacantes, além de um jogador sem posição definida, de acordo com o jornal britânico The Guardian, há ainda um garoto que não faz parte da equipe e estava apenas acompanhando um amigo. Saiba mais sobre eles nesta reportagem

O treinador é Ekkapol Chanthawong, de 25 anos. Após o desaparecimento do grupo, muitos o repreenderam por ter permitido que os meninos entrassem na caverna na época de monções. Mas para muitos outros na Tailândia, Ekapol, que deixou sua vida no mosteiro há três anos e logo depois se juntou aos Javalis Selvagens para ser assistente técnico, é uma força quase divina, enviada para proteger os meninos enquanto eles passam por essa provação. Saiba mais sobre a história de Ekkapol neste artigo.