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Na semana passada, o regime de Nicolás Maduro realizou uma megaoperação com 11 mil policiais dentro do Centro Penitenciário de Tocorón, um dos maiores da Venezuela, para desarticular uma gangue chamada Trem de Aragua, que transformou o local em sua sede do crime.
O governo afirmou que retomou o controle da prisão, que agora passará por uma reestruturação após anos sendo "administrada" pela facção. Durante a ação policial, segundo o Ministério da Informação, foram encontradas diversas armas, granadas e munição de fuzil 762.
De acordo com relatórios da ONG Insight Crime, que investiga a atividade do crime organizado na América Latina, o Trem de Aragua é classificado hoje como a maior organização criminosa da Venezuela, possuindo cerca de 4 mil integrantes.
Mas suas atividades não cessam nas fronteiras do país: se estendem a outras regiões da América Latina, como Colômbia, Peru, Chile e até o Brasil, com supostas ligações com o PCC.
Em entrevista à emissora britânica BBC, a jornalista investigativa Ronna Rísquez, autora do livro "O Trem de Aragua: O Grupo que Revolucionou o Crime Organizado na América Latina", contou que o grupo foi criado em 2014 por três homens que estavam encarcerados em Tocorón.
Segundo ela, foi nesse período que surgiu o "pranato", uma espécie de governança criminosa dentro de alguns presídios venezuelanos, na qual os próprios encarcerados administram a prisão "com o consentimento ou cumplicidade do Estado".
Para obter mais detalhes sobre as atividades da facção, Rísquez decidiu se infiltrar no megapresídio e, ao chegar lá, se deparou com um ambiente muito distinto de um centro prisional.
No local, ela encontrou piscina, cassino, boate, bares e até um zoológico com onças, pumas e avestruzes. Tudo isso financiado pelo crime organizado, segundo afirmou à BBC depois de conversar com os prisioneiros.
De acordo com a ONG Transparência Venezuela, especializada em denunciar casos de corrupção no país, o Trem de Aragua tem como principais fontes de renda a extração ilegal de minerais, o tráfico de drogas, armas e pessoas, além de uma cobrança de "associação ao crime", que os detidos devem pagar dentro de Tocorón.
Algumas fontes de Rísquez afirmaram que é cobrada uma taxa de extorsão semanal de US$ 15 (cerca de R$ 74). Com isso, a gangue consegue arrecadar quase US$ 4 milhões anuais (cerca de R$ 19 milhões) somente dentro da prisão.
A maior liderança do grupo criminoso é Héctor Rustherford Guerrero Flores, mais conhecido como “Niño Guerrero”.
Ele foi preso diversas vezes desde os anos 2000 e enviado a Tocorón, até que, em 2016, foi condenado a 17 anos por homicídio doloso e encaminhado ao Centro Penitenciário Los Llanos. No entanto, retornou ao antigo presídio para cumprir pena, segundo a ONG Insight Crime, onde seguiu na chefia da organização.
De acordo com o Observatório das Prisões da Venezuela, antes do regime chavista realizar a megaoperação, houve uma negociação com “Niño Guerrero”, que está foragido, e outras lideranças de Tocorón, que não teriam avisado a população carcerária sobre a “empreitada militar” no local.
Logo após a ação da polícia, o ministro do Interior, Remigio Ceballos, afirmou que o local estava de volta às mãos do Estado e “membros de grupos criminosos que atuam em Aragua e em outras partes do país” foram capturados. O presídio está localizado no centro-norte da Venezuela, a cerca de 60 quilômetros de Caracas.