Robert Ethan Saylor | Foto:

Por um longo tempo depois que Robert Ethan Saylor foi morto — tirado à força de sua cadeira em um cinema por três policiais de folga, jogado no chão e teve sua laringe fraturada, vindo a falecer por asfixia — nada parecido com a justiça parecia possível para o jovem de 26 anos com síndrome de Down. O xerife do Condado de Frederick, em Maryland, onde o incidente ocorreu em 2013, disse que a conduta de seus oficiais era irrepreensível. Uma investigação interna os livrou; e o grande júri recusou-se a indiciá-los. 

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Agora, finalmente, houve uma espécie de acerto de contas: um acordo de US$ 1,9 milhão em uma ação civil conduzida pela família de Saylor expôs os horríveis custos de treinamento inadequado para agentes da lei quando lidam com pessoas com deficiências. Uma morte tão sem sentido jamais cicatrizará, mas pode haver lições aprendidas e, neste caso, houve. 

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O incidente em si é doloroso de lembrar. O “crime” de Saylor era voltar para o cinema onde ele acabara de assistir "A Hora Mais Escura", para assistir de novo, sem pagar outro ingresso. O gerente do teatro alertou os agentes de segurança — três auxiliares do xerife — no shopping onde o teatro estava localizado. Antes de intervirem, a pessoa que cuidava de Saylor, que havia saído brevemente para pegar seu carro, tentou dissuadir os policiais, advertindo-os de que o jovem, que pesava quase 300 quilos, iria surtar se fosse tocado. 

Os policiais a ignoraram, uma breve luta se seguiu e Saylor parou de respirar. Sua morte foi considerada um homicídio. 

A falta de julgamento dos policiais é inegável — o policiamento sólido enfatiza a não-agressão; eles escolheram o rumo oposto. Por isso, é imprudente permitir que os policiais substituam guardas de segurança privados, o que pode obrigá-los a tomar partido da administração, apesar das boas práticas policiais. 

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Na ação civil movida pela família de Saylor, nem os policiais, nem o estado, nem a sociedade gestora do shopping admitiram responsabilidade. Mas o acordo fala por si. Os oficiais concordaram em pagar US$ 800.000; o estado de Maryland vai receber US$ 645.000; e a Hill Management, que administrava o shopping center Westview Promenade, onde ocorreu o incidente, US$ 455.000. 

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Bem antes de os termos serem anunciados, a indignação gerada pela morte de Saylor produziu um resultado ainda mais rico para o público. Cerca de um ano depois, o escritório do condado de Frederick adotou um novo programa de treinamento para os policiais, com foco em pessoas com deficiências mentais — especificamente, aqueles com QI abaixo de 70. Maryland seguiu o exemplo, modificando o treinamento para todos os policiais. 

Não há como negar que a morte de Saylor foi desnecessária e injustificada. No entanto, é justo esperar que o seu legado possa tornar este tipo de incidente cada vez mais raro.