O Conselho de Supervisão do jornal Le Monde anunciou na noite desta segunda-feira, em Paris, que o consórcio formado pelos empresários Pierre Bergé, Xavier Niel e Matthieu Pigasse (BNP) deverá se tornar o novo acionista majoritário do grupo, um dos mais importantes da imprensa do mundo. A decisão favorável aos investidores conta com apoio de 90% dos funcionários - até aqui os principais acionistas. A partir de agora, o grupo Le Monde e o trio farão negociações exclusivas para a venda do controle em troca da injeção de recursos estimada entre € 80 milhões e € 100 milhões para saldar dívidas e reorganizarem-se para sobreviver à crise.

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A decisão do conselho aconteceu na tarde desta segunda-feira em duas reuniões. Na primeira, o Conselho de Supervisão do grupo Monde S.A. aprovou a oferta de Bergé-Niel-Pigasse por 13 votos a favor, contra cinco abstenções. A seguir, o Conselho de Supervisão do Monde Partenaires et Associés, que detém 60% do capital do Monde S.A., confirmou a opção por 11 votos a favor e nove abstenções.

Assim, fica virtualmente descartada a proposta de compra feita pelo consórcio integrado pelos grupos de mídia Nouvel Observateur e Prisa - proprietário do jornal espanhol El País - e pela operadora telefônica Orange, controlada pelo governo francês. A opção dos funcionários pela proposta de Bergé-Niel-Pigasse, todos identificados com a esquerda, ficou clara nas últimas semanas, depois que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, convidou o diretor-executivo da publicação, Eric Fottorino, para uma reunião no Palácio do Eliseu. De acordo com a mídia francesa, Sarkozy teria informado Fottorino que, caso o consórcio de empresários fosse escolhido, Le Monde poderia não contar com uma linha de financiamento de € 27 milhões criada pelo Estado para ajudar a mídia impressa a sair da crise.

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Após essa reunião, Orange associou-se a Nouvel Observateur e Prisa, consolidando o consórcio concorrente. A inclusão da companhia telefônica no grupo foi apontada na França como uma tentativa nítida de Sarkozy de domar o diário, o principal da oposição de centro-esquerda no país. A repercussão negativa levou os funcionários a se manifestarem já na sexta-feira em favor da proposta de Bergé-Niel-Pigasse. Domingo (27) pela manhã, Claude Perdriel, diretor-presidente da Orange, informou a desistência em nota oficial. "Orange e Nouvel Observateur concordaram em retirar sua proposta ao fim do conselho, qualquer que seja sua decisão, em respeito ao voto desfavorável da Associação de Redatores do Monde", disse, em nota.

Mesmo que seja apreciada pelos funcionários do grupo, Bergé, mecenas de arte e fundador do grupo Yves Saint-Laurent, Niel, presidente do grupo de telecomunicações Illiad, e Pigasse, banqueiro e proprietário da revista Les Inrockuptibles, devem implementar mudanças no Monde. A primeira delas, após a injeção de recursos, será a fusão das redações web e impressa. A proposta prevê ainda a criação do Pólo Independência, uma fundação pela qual os acionistas minoritários exercerão direito a veto em nome da independência editorial do grupo. Nenhuma supressão de vagas é prevista, mas o futuro da Le Monde Imprimerie está indefinido.