A delegação chinesa chefiada por Yang Jiechi (C), diretor do Gabinete da Comissão Central de Relações Exteriores e Wang Yi (de máscara), Ministro das Relações Exteriores da China, conversam com seus hmólogos americanos em um encontro bilateral no Alasca| Foto: Frederic J. BROWN / POOL / AFP
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Diplomatas dos Estados Unidos e da China trocaram farpas no primeiro encontro bilateral realizado entre as partes após a posse do presidente americano Joe Biden.

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Nesta quinta-feira (18), no Alasca, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e Yang Jiechi, membro do corpo dirigente do Partido Comunista da China foram bastante combativos em suas declarações iniciais, indicando que, pelo menos aos olhos do público, a relação já tensa entre eles não tem espaço para melhorar.

Essa reação em frente às câmeras já era esperada, mas foi ainda mais intensa do que previam os analistas e a imprensa. Na abertura do encontro, Blinken listou uma série de políticas e atividades da China que os EUA reprovam: a repressão às minorias étnicas em Xinjiang, a intervenção na autonomia política de Hong Kong, as ameaças militares a Taiwan, as estratégias de coerção econômica contra aliados americanos e os ataques cibernéticos dos EUA.

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Vários dos problemas listados por Blinken são vistos pelo governo chinês como questões internas sobre as quais os Estados Unidos não devem interferir. Contudo, Blinken disse que “cada uma dessas ações ameaça a ordem baseada em regras que mantém a estabilidade global”.

“É por isso que essas não são meramente questões internas, e por isso nos sentimos na obrigação de levantar essas questões aqui hoje”. O conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, que também participou do encontro, disse ainda que a China está empreendendo um "ataque aos valores básicos".

À essa altura, já está bem claro que EUA e China têm visões muito diferentes sobre “valores básicos”. Para o governo chinês, a liberdade, um dos princípios fundamentais dos EUA, passa longe de ser um valor básico de uma sociedade, vide a perseguição aos uigures e tibetanos no oeste da China e as recentes restrições impostas a políticos pró-democracia em Hong Kong.

Yang disse, em uma longa resposta a Blinken, que os americanos deveriam “mudar sua própria imagem” e parar de “promover sua versão da democracia” no resto do mundo, citando conflitos internos dos EUA, como o racismo, para demonstrar as falhas do sistema americano. “Os Estados Unidos não representam a opinião pública internacional e nem o mundo ocidental”, afirmou. “Muitas pessoas nos Estados Unidos, na verdade, têm pouca confiança na democracia dos Estados Unidos”.

“A China não aceitará acusações injustificadas por parte dos EUA”, concluiu.

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Embora a agenda do encontro não tenha sido revelada pelas autoridades, especulava-se na imprensa que os dois lados pudessem demarcar suas diferenças e estabelecer uma base de entendimento comum sobre a qual seria possível avançar e melhorar o relacionamento bilateral – que já não era bom por causa das tensões comerciais e práticas agressivas de espionagem da China, mas que piorou definitivamente com a pandemia de Covid-19.

Esta base de entendimento poderia ser sustentada por dois temas caros à gestão de Joe Biden: cooperação para enfrentar a pandemia e a crise econômica decorrente dela, já que a nova administração adotou uma retórica muito menos combativa do que a anterior ao, por exemplo, parar de chamar o coronavírus de “vírus chinês” e ao lançar uma recente campanha de combate ao crime de ódio contra asiáticos nos EUA; e cooperação para uma resposta à emergência climática.

Ainda não há informações sobre o que foi conversado a portas fechadas, mas um diplomata americano contou ao South China Morning Post que a “conversa que se seguiu”, após a saída dos jornalistas, “foi substantiva, séria e direta”. “Na verdade, a discussão foi muito além das duas horas que havíamos reservado. Usamos a sessão, exatamente como havíamos planejado, para delinear nossos interesses e prioridades, e ouvimos o mesmo de nossos colegas chineses”.

Contudo, por parte dos EUA, parece não haver interesse em avançar nessas parcerias enquanto o público americano estiver firmemente posicionado contra os abusos da China. A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse a repórteres em Washington nesta quinta-feira que “uma grande parte da estratégia é abordar nosso relacionamento com a China de uma posição forte”.

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No início do ano, enquanto uma reavaliação da posição americana em relação à China era esperada sob o novo presidente, discutia-se a possibilidade de que os EUA pudessem se aproximar de seu principal parceiro comercial, diminuindo as tensões. Mas, até agora, Biden manteve as sanções da era Trump e, em decorrência da recente interferência de Pequim no sistema eleitoral de Hong Kong, impôs sanções contra 24 autoridades da ex-colônia britânica. Um dia antes do encontro com os diplomatas chineses no Alasca. Além disso, Blinken, acompanhado do secretário de Defesa, Lloyd Austin, visitou o Japão e a Coreia do Sul antes de se encontrar com os diplomatas chineses, deixando claro que os Estados Unidos estão fortalecendo suas alianças estratégicas na região do Indo-pacífico.

Em resposta às sanções, a China afiou seu discurso contra os Estados Unidos. “Esta é uma decisão dos Estados Unidos para tentar obter alguma vantagem no trato com a China?”, perguntou Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China, que também estava na reunião. “Certamente isso foi mal calculado e apenas reflete a vulnerabilidade e fraqueza dentro dos Estados Unidos e não abalará a posição da China ou resolverá essas questões”.

O encontro bilateral continua nesta sexta-feira, mas autoridades americanas já afirmaram que não planejam divulgar uma declaração conjunta. Também é incerto que mais conversas de alto nível diplomático sejam estabelecidas a partir desta reunião, segundo informou o Wall Street Journal, apesar do interesse dos chineses em criar uma estrutura para discussões anuais entre os governos sobre questões econômicas, de segurança, entre outras.

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