Ouça este conteúdo
O prefeito democrata de Nova York, Eric Adams, acusado na semana passada de agressão sexual, enfrenta outra pendência na Justiça: uma investigação federal sobre suposto financiamento ilegal da sua campanha de 2021 com dinheiro do exterior.
Adams, que ainda não foi acusado formalmente, teve em novembro celulares e um iPad apreendidos por agentes do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos.
A suspeita é que doações de campanha teriam sido feitas por três membros de uma fundação criada por filhos do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.
Outra revelação é que funcionários da construtora KSK, sediada no distrito nova-iorquino do Brooklyn e cujos fundadores seriam originários da Turquia, fizeram doações para a campanha de Adams em 2021.
Adams disse não ter “nada a esconder” e que os membros da sua equipe estão cooperando com as investigações.
Porém, revelações feitas nas últimas semanas mostram que o prefeito da maior cidade dos Estados Unidos tem um grande histórico de ligações com a Turquia.
Esta semana, o site nova-iorquino The City informou que Amaris Cockfield, uma das assessoras de imprensa de Adams, se registrou no Departamento de Justiça americano como “agente estrangeira” em 2021, um ano antes de começar a trabalhar para o prefeito, para fazer relações públicas em nome do Conselho Empresarial Turquia-Estados Unidos, grupo comercial relacionado ao governo de Erdogan.
O site Politico fez um levantamento que apontou que, quando Adams foi presidente do Brooklyn, entre 2014 e 2021, ele participou de aproximadamente 80 eventos relacionados à Turquia: entre eles, uma cerimônia de hasteamento da bandeira em 2015, um baile de caridade em 2018 e outro em homenagem à Turkish Airlines em 2019.
O jornal New York Times revelou que em 2021, quando Adams já havia vencido as primárias do Partido Democrata para concorrer à Prefeitura de Nova York, ele contatou o então comissário do Corpo de Bombeiros, Daniel Nigro, e o pressionou a permitir temporariamente que o governo turco abrisse as portas do seu novo consulado na cidade para a cerimônia de inauguração, apesar de a obra, que custou US$ 300 milhões, ainda não ter sido liberada por questões de segurança.
Deu resultado, e a cerimônia aconteceu, inclusive com a presença de Erdogan. Adams alegou que, como presidente do Brooklyn, seu trabalho incluía “notificar as agências governamentais” sobre questões em nome dos munícipes e entidades que operam localmente. Porém, o consulado fica em Manhattan, distrito do qual ele não era presidente.
Não parou por aí: segundo a imprensa americana, Adams fez diversas viagens à Turquia, e em ao menos uma oportunidade, em agosto de 2015, suas despesas foram pagas pelo consulado do país eurasiático.
Em 2011, quando era senador estadual em Nova York, o hoje prefeito fez lobby para uma oferta da montadora turca Karsan para projetar uma nova frota de táxis para a cidade – disputa que foi vencida pela Nissan.
“Tal como a cidade de Nova Iorque, a Turquia sempre foi um ponto de encontro de muitas culturas e um lugar dinâmico para fazer negócios”, disse Adams no ano passado.
As investigações do FBI sobre o financiamento da sua última campanha vão apontar se esses laços tão fortes com a Turquia são apenas fruto de admiração mútua ou se há algo mais por trás deles.