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Entrevista

Tropas brasileiras no Haiti podem ser reduzidas até o fim de 2011

"É preciso ter uma perspectiva correta do que é um ato de maior violência contra as Nações Unidas, ou contra o próprio país, e o que são manifestações de desagrado com o processo político." | Antônio Costa/Gazeta do Povo
"É preciso ter uma perspectiva correta do que é um ato de maior violência contra as Nações Unidas, ou contra o próprio país, e o que são manifestações de desagrado com o processo político." (Foto: Antônio Costa/Gazeta do Povo)
Família de haitianos numa rua da capital Porto Príncipe: instabilidade social |

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Família de haitianos numa rua da capital Porto Príncipe: instabilidade social

Porto Príncipe, Haiti - O slogan dos militares brasileiros que atuam no Haiti é: "Nós provemos segurança para a reconstrução". Com efeito, a presença maciça de tropas em Porto Príncipe a tornou uma das capitais mais pacatas da América Latina. Por outro lado, a instabilidade política impede que a sonhada estabilidade se concretize, e, como consequência, atravanca a reconstrução. Hoje mesmo são esperadas novas manifestações contrárias ao resultado da recontagem de votos da eleição presidencial no país, como ocorreu em dezembro após o primeiro turno (leia quadro ao lado). O comandante das tropas militares da missão de pacificação da Organização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), general Luiz Guilherme Paul Cruz, falou sobre isso com a Gazeta do Povo, em seu escritório em Porto Príncipe.

Que providências foram tomadas para evitar mais violência relacionada às eleições?

Somos encarregados de manter a estabilidade e a segurança no país. É claro que temos um planejamento e providências para toda ordem de manifestações, mas temos completo discernimento sobre o que é uma manifestação política e o que é um ato de violência que poderá trazer consequências indesejáveis. Por exemplo: você pode até queimar um pneu na rua, mas não pode explodir um posto de gasolina. É preciso ter uma perspectiva correta do que é um ato de maior violência contra as Nações Unidas, ou contra o próprio país, e o que são manifestações de desagrado com o processo político.

O senhor citou a hostilidade que as tropas enfrentam. Os militares brasileiros têm maior facilidade de atuar, dada a paixão dos haitianos pelo Brasil?

Sim. O Brasil é muito querido aqui, e isso facilita, e muito, o trabalho das tropas brasileiras quando saem pelas ruas. Não se pode esperar que alguém goste de uma tropa estrangeira em seu país. Mas as instruções que são dadas a nossos soldados, a forma como eles têm se portado, a contribuição que têm dado ao país tem sido muito grande, e as pessoas entendem que milhares foram salvos. Milhões de quilos de alimentos, barracas, medicamentos... e não estou errado em dizer milhões: foram mais de 10 toneladas de material que o Brasil mandou para cá para o atendimento à crise do terremoto, e nossos soldados participaram da distribuição, foram às ruas entregar. Isso traz uma aceitação. Além disso, todo soldado é treinado para dialogar com as pessoas, entender quais são os problemas... não há a intenção de se chegar impondo tudo. Há muita troca de conhecimento entre a tropa e a população.

Em que estágio está o treinamento da polícia haitiana pelas tropas da ONU?

Tem melhorado muito. A polícia nacional do Haiti tem apenas 15 anos, é muito recente. E foi reconstruída a partir de 2004. A polícia da ONU veio junto com a missão e uma de suas atribuições é treinar os haitianos. Tem melhorado muito a qualidade da polícia, e, como consequência, o respeito da população com a polícia. É claro que ainda há muito a fazer. O efetivo está em 8.500 pessoas, e deve chegar a 14 mil.

O contingente militar brasileiro deve mudar neste ano?

Trabalhamos com o desencadeamento dos eventos. Temos ainda o segundo turno da eleição, a passagem do poder para o governo legítimo... Quando ele assumir, teremos uma avaliação se as tropas devem ou não diminuir. É natural que, se você tem um governo legítimo aceito pela população, com projetos em estágio avançado de implantação, há que se esperar mais estabilidade, e pode-se propor a diminuição das tropas, que seria o natural, a partir do fim de 2011. Mas, se não houver melhoria das condições, seguiremos o que for decidido na renovação do mandato da Minustah, em outubro, pelo Conselho de Segurança da ONU.

Com a maior estabilidade e muita necessidade por re­­construção, existe a previsão de se ampliar as tropas de en­­genharia do Exército?

Não. Mas, se houver redução de tropa, será reduzida primeiro a infantaria, e não a engenharia, que ajuda em diversos trabalhos de reconstrução do Haiti. Aqui aconteceu de tudo. Fu­­racões, terremotos, enchentes, doenças, e estávamos presentes em todos. E eu posso afirmar pessoalmente para todas as famílias auxiliadas: "Foram nossos soldados que salvaram a sua filha, a sua mãe". As pessoas humildes sabem disso. Agora, existe todo tipo de complicadores. As pessoas criticam a lenta retirada dos escombros, mas enfrentamos barreiras relacionadas até mesmo à propriedade do material. Você começa a recolher e alguém chega dizendo: "Ei! Esse ferro é meu". É complicado.

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