Os Estados Unidos enviaram nesta segunda-feira mais soldados para ajudar a proteger a enorme operação de assistência humanitária no Haiti, enquanto dezenas de milhares de sobreviventes do terremoto esperavam, desesperados, pelos alimentos e pela assistência médica prometida.
Gangues de saqueadores ainda perambulavam pelas ruas do centro de Porto Príncipe roubando produtos das lojas destruídas em meio à fraca presença policial. Alguns sinais de normalidade, no entanto, voltaram, com o surgimento de vendedores de frutas e verduras nas ruas.
"Não temos capacidade para arrumar esta situação. O Haiti precisa de ajuda...os norte-americanos são bem-vindos aqui. Mas onde eles estão? Precisamos deles aqui nas ruas conosco", disse o policial Dorsainvil Robenson, enquanto perseguia saqueadores.
Cerca de 2.200 fuzileiros navais munidos de equipamentos pesados, assistência médica e helicópteros chegariam nesta segunda-feira, informou o Comando do Sul norte-americano, que planeja estacionar 10 mil soldados norte-americanos na área para a operação de salvamento.
Líderes mundiais prometeram grandes quantias de assistência para reconstruir o Haiti depois que o terremoto de terça-feira matou até 200 mil pessoas e deixou a capital do país, Porto Príncipe, em ruínas.
O Brasil enviará mais militares ao Haiti caso seja necessário, disse nesta segunda-feira o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pouco depois de o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, anunciar que pedirá o envio de mais policiais e militares ao país devastado por um terremoto na semana passada.
"De imediato, o Brasil já tem 1.300 homens lá, mais que um batalhão... Não excluo a possibilidade de que, a medida que as coisas evoluam, se for necessário mais (militares), enviaremos", disse o chanceler a jornalistas no Rio de Janeiro.
O Exército brasileiro confirmou que foi encontrado o corpo de um tenente-coronel que estava desaparecido, elevando o número de brasileiros mortos na tragédia para 18, sendo 16 militares.
O Brasil comanda as tropas da Minustah, missão de paz da ONU no Haiti, e, antes do terremoto, tinha 1.266 militares no país.
As instituições e os países membros da União Europeia ofereceram mais de 400 milhões de euros (575,6 milhões de dólares) em assistência emergencial e de longo prazo ao Haiti, que mesmo antes do desastre já era o país mais pobre das Américas.
Trabalhadores que faziam a assistência humanitária se esforçavam para levar alimentos e auxílio médico aos sobreviventes, muitos deles feridos, famintos e sedentos e vivendo em acampamentos improvisados nas ruas entulhadas de destroços e corpos em decomposição.
"A situação é muito difícil no local, incluindo para as agências e para os países que se apressaram em ajudar. A sobrevivência mínima mesmo para os funcionários lá é uma questão", disse a chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, em Genebra.
Com quase uma semana de crise, a ajuda internacional começava apenas agora a chegar aos necessitados, tendo sido atrasada por problemas logísticos e preocupações com segurança.
Segurança crítica
O presidente haitiano, René Préval, disse no domingo que as tropas norte-americanas ajudarão os integrantes da força de paz da ONU a manter a ordem nas ruas cada vez mais sem lei do Haiti, onde policiais e soldados da ONU sobrecarregados têm sido incapazes de proporcionar segurança plena.
As ruas tomadas por destroços dificultavam a entrega de medicamentos e alimentos, mas havia sinais de progresso à medida que as equipes médicas internacionais assumiam os hospitais danificados, onde as pessoas feridas com gravidade haviam permanecido sem tratamento durante dias.
As equipes de resgate também corriam contra o tempo para encontrar pessoas vivas sob os escombros dos prédios que desmoronaram e novos regastes bem-sucedidos de sobreviventes foram registrados no domingo.
Caminhões lotados transportavam corpos para covas coletivas escavadas às pressas nas imediações da cidade, mas se acredita que dezenas de milhares de vítimas ainda estejam soterradas sob os escombros.
Com o desespero tomando cada vez mais pessoas dia a dia, vândalos saqueavam lojas danificadas no centro de Porto Príncipe, lutando uns contra os outros com facas, martelos, quebradores de gelo e pedras, enquanto a polícia tentava dispersá-los com tiros. Ao menos dois supostos saqueadores foram mortos a tiro no domingo, afirmaram testemunhas.
Integrantes de quadrilhas fortemente armados retornaram à favela de Cité Soleil depois de escaparem da prisão com o terremoto.
"Se as coisas vão explodir depende de a ajuda da comunidade internacional chegar ou não", disse o comandante de polícia Ralph Jean-Brice, encarregado do Departamento Ocidental do Haiti, cuja força foi reduzida à metade por causa do terremoto.
Prefeitos, empresários e banqueiros disseram a Préval que o restabelecimento da lei e da ordem era essencial para retomar ao menos parte da atividade comercial.
Apesar de algumas feiras terem começado a vender verduras, carvão, frango e porco, dezenas de milhares de sobreviventes do terremoto ainda pediam ajuda por toda a cidade.
As pessoas disputavam alimentos e água, enquanto os caminhões da ONU distribuíam pacotes de comida e os helicópteros militares dos EUA lançavam caixas com garrafas de água e ração.
"Nós não nos movemos há quatro dias, só Deus sabe quanto tempo podemos sobreviver assim, mas não há empregos nem casas", disse Marie Gracieuse Baptiste, mãe solteira de quatro crianças, que se abrigava num acampamento improvisado de sobreviventes.
Em um cartaz na entrada do acampamento, lia-se: "Pessoas precisam de água e comida."
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