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Helicópteros Black Hawk dos Estados Unidos pousaram nesta terça-feira no terreno do devastado Palácio Presidencial haitiano para desembarcar tropas e suprimentos, enquanto uma enorme operação humanitária para ajudar as vítimas do terremoto de terça-feira passada finalmente ganhava um ritmo mais acelerado.

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Uma vez em terra, os soldados se mobilizaram para proteger o vizinho Hospital Geral, cujos funcionários estão sobrecarregados pelo enorme número de feridos graves. Vendo o desembarque, sobreviventes acampados no parque em frente ao palácio correram até as cercas metálicas do local para observar e implorar alimentos.

Foi a mobilização mais visível e, talvez, a mais importante até agora dos militares dos Estados Unidos, envolvidos nos esforços internacionais para ajudar milhões de haitianos que ficaram feridos ou desabrigados por causa do tremor de magnitude 7,0.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, principal crítico de Washington na América Latina na atualidade, acusou os EUA de ocuparem o Haiti sob pretexto de prestarem ajuda.

O comandante das forças norte-americanas no Haiti, general Ken Keen, disse que o principal objetivo das tropas é prestar assistência humanitária e entregar água e comida, mas que também há um elemento de segurança na operação.

Vendo o desembarque das tropas, o sobrevivente Gille Frantz disse: "Sabemos que o mundo quer nos ajudar, mas já faz oito dias (na verdade, sete) e não vi nenhuma comida ou água para a minha família."

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A multidão saudou a chegada dos soldados norte-americanos, dizendo "ótimo!" e "aí vêm eles!". Alguns pediram aos militares que controlassem os saques e os criminosos. Outros gritavam, enfurecidos: "Onde está a ajuda? Ainda não recebemos nada!".

Mas a maioria pareceu aliviada. "Não sabemos exatamente o que vieram fazer, mas acho que eles estão aqui para nos ajudar, então nós lhes damos as boas-vindas", disse à Reuters Alex Michel, um dos que observavam a cena.

"Não gostaríamos de ver o desembarque militar estrangeiro em nosso país, mas, dada a terrível situação em que nos encontramos, a presença deles é necessária", disse Moline Augustin, que também observava o movimento do lado de fora do palácio.

Uma multidão de haitianos também se aglomerava em frente à embaixada dos Estados Unidos, nas imediações do Batalhão Brasileiro (Brabatt). Mulheres com crianças de colo se escoravam sobre malas em uma fila que parecia não ter fim.

As portas da embaixada estavam fechadas, e alguns soldados guardavam o prédio. Havia ambulantes em volta vendendo água e batatas. Ninguém reclamava. Havia apenas o silêncio da espera.

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"Essas pessoas estão tentando ir para os Estados Unidos. Como tem muitos americanos aqui, elas acham que têm uma chance de viajar pra lá", disse à Reuters o soldado brasileiro Ivan Santos ao passar de carro em frente à embaixada, um prédio grande, marrom, intocado pelo terremoto.

Saqueadores à solta

Para tentar acelerar a distribuição de ajuda e desestimular os saques e a violência, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou por unanimidade o envio temporário de 2.000 soldados e 1.500 policiais estrangeiros.

Dessa forma, o contingente total da missão de paz da ONU comandada pelo Brasil, conhecida como Minustah, subirá para 12.651, em relação ao nível atual de cerca de 9.000.

Mais de 11 mil militares dos EUA estão no país, em navios na costa ou a caminho, e o presidente haitiano, René Préval, diz que as tropas dos EUA ajudarão as forças de paz da ONU a impor a ordem nas ruas cada vez mais caóticas da capital.

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O chefe da polícia local, Mario Andresol, disse que sua dilapidada força precisa da ajuda do contingente da ONU para preservar a ordem pública, e lembrou que 4.000 criminosos escaparam de prisões destruídas.

"Ontem (segunda-feira), no centro da cidade, os saqueadores simplesmente superaram em número os meus rapazes. Eles não conseguiram controlá-los", disse Andresol à Reuters.

Funcionários da ONU dizem que a situação de segurança não tem impedido a distribuição de alimentos para 270 mil haitianos até agora, e que outros milhares vão se beneficiar nos próximos dias.

As autoridades haitianas estimam que 100 mil a 200 mil pessoas tenham morrido no terremoto. Pelo menos 75 mil já foram enterradas em valas comuns. Em torno de 52 equipes de resgate do mundo todo correm contra o tempo para tentar retirar sobreviventes dos escombros, hipótese que fica mais improvável a cada dia. Até agora, 90 pessoas foram salvas com vida, sendo duas na segunda-feira.

Ameaça sanitária

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Equipes médicas continuam chegando a Porto Príncipe para montar hospitais móveis, mas dizem estar sobrecarregadas pelo número de pacientes e alertam que há grave ameaça de tétano e gangrena entre os feridos, além da possibilidade de surtos de sarampo, meningite e outras doenças contagiosas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que há pelo menos 13 hospitais em funcionamento em Porto Príncipe e arredores, e que está trazendo suprimentos emergenciais para atender 120 mil pessoas no próximo mês.

"Ainda não passamos a fase da emergência, mas estamos começando a olhar em longo prazo", disse Margaret Aguirre, da entidade International Medical Corps, cujos funcionários já ajudaram a realizar 150 amputações até agora.

"Há risco de cólera e tétano, e uma enorme necessidade de unidades médicas móveis", disse ela à Reuters em Porto Príncipe.

Aids, tuberculose e malária são comuns no Haiti, muitas crianças são desnutridas, e a falta de higiene já era um problema mesmo antes do terremoto no país, o mais pobre das Américas.

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Sob proteção das tropas dos EUA, água, comida e outros suprimentos começam a chegar com mais regularidade ao congestionado aeroporto local, que está sob controle norte-americano.

Oficiais militares dos EUA esperam reabrir o devastado porto marítimo local dentro de dois ou três dias, mas por enquanto dependem do lançamento de mantimentos por ar aos sobreviventes instalados em acampamentos improvisados.

O Programa Mundial de Alimentos da ONU disse que até a noite de segunda-feira 270 mil pessoas haviam recebido assistência alimentar.

A entidade afirmou que pretende despachar 10 milhões de porções de alimentos prontos para o consumo ao longo da próxima semana, suficiente para alimentar meio milhão de pessoas três vezes ao dia nesse período.

Embora alguns mercados a céu aberto tenham voltado a vender frutas, legumes, carvão, frango e porco, dezenas de milhares de sobreviventes em toda a cidade ainda imploram por ajuda.

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O preço dos combustíveis dobrou, e há longas filas em frente a postos de gasolina, formadas por carros, motos e pedestres com galões. A polícia patrulha alguns dos postos.

Líderes mundiais prometem enormes quantias para ajudar na reconstrução do Haiti, e Préval fez um apelo para que as doações se concentrem não só na ajuda imediata, mas também no desenvolvimento de longo prazo.