Tropas da Guarda Nacional dos Estados Unidos preparam-se para começar, nesta quinta-feira, uma caçada a pessoas que insistem em ficar na cidade inundada de Nova Orleans, enquanto as águas que baixam começam a revelar a extensão já imaginada da tragédia. Pelo menos 30 corpos foram achados num asilo de um dos bairros mais pobres da cidade, e há relatos de que 25 mil invólucros para corpos foram enviados para Nova Orleans. Um necrotério montado na periferia da cidade está pronto para receber mais de cinco mil corpos.

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Cadáveres em decomposição continuam espalhados pelas ruas. "Um corpo na Union Street pode não chocar. Depois do furacão da semana passada, há certamente centenas, provavelmente milhares. O que é extraordinário é que, numa rua do centro de uma grande cidade americana, um cadáver possa se decompor durante dias, apodrecendo, e isso seja aceitável", relata o jornal "The New York Times" desta quinta-feira, descrevendo a situação surreal em que a cidade se encontra. Pelo corpo em questão, passaram vários soldados enquanto o repórter observava - e o máximo que fizeram foi o sinal da cruz. "Bem-vindo à Nova Orleans pós-apocalipse, meio cozida, meio alagada, pestilenta, assustadora e artificialmente quieta".

Mais de 30 corpos foram achados no asilo Saint Rita, de Saint Bernard Parish, uma das áreas mais pobres da cidade e das mais duramente atingidas pelo alagamento. Segundo o xerife Jack Stevens, 40 a 50 pessoas foram resgatadas do local - dez dias depois da passagem do furacão Katrina.

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Autoridades estimam que talvez 10 mil pessoas continuem na cidade inundada, numa sopa de lixo, óleo, esgoto e corpos boiando. Os sobreviventes estão sem água e eletricidade, sob calor intenso, por mais de uma semana. E muitos deles não estão dispostos a cooperar, apesar de o prefeito Ray Nagin ter autorizado, pelo menos em uma comunidade, o uso de força na retirada de quem não estiver envolvido no socorro.

- Os que não querem que os encontremos se escondem - contou Gregg Brown, voluntário numa equipe de socorro.

Robert Johnson, de 58 anos, diz que não tem dinheiro, não tem para onde ir e quer ficar em casa para proteger o que lhe restou.

- Se vou ser miserável, melhor ser um miserável bem aqui - disse ele.

Por outro lado, segundo o chefe de polícia de Nova Orleans, Eddie Compass, ainda há pessoas desejosas de deixar a cidade, que as equipes de resgate ainda não puderam ajudar.

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