Damasco e beirute - Tropas de segurança do governo da Síria abriram fogo, ontem, contra opositores que participavam do funeral de manifestantes mortos na sexta-feira durante protestos contra o ditador Bashar Assad. Ao menos nove morreram, segundo testemunhas, elevando o número de vítimas fatais para pelo menos 121 nos últimos dois dias.
Os disparos teriam ocorrido em dois enterros: em Douma (perto da capital Damasco) e no vilarejo de Izraa.
O banho de sangue no sábado segue um padrão visto nos tumultos que varreram o Oriente Médio nos últimos meses. As mortes têm gerado grandes funerais, onde mais pessoas são mortas pelas forças de segurança do país, empenhadas em sufucar a dissidência contra os líderes autoritários. O recrudescimento da violência na Síria é um indicativo de que o país pode estar entrando em um longo período de turbulência, em que manifestantes ganham força para desafiar quatro décadas de ditadura do presidente Bashar Assad e de seu pai, Hafez, morto em 2000.
A estratégia de Assad para conter as manifestações tem sido uma combinação de concessões e coação. Na quinta-feira, por exemplo, o governo da Síria anunciou o fim da lei de emergência em vigor há 48 anos no país, atendendo a uma das principais reivindicações dos manifestantes. No dia seguinte, o país teve o seu dia mais sangrento desde o início dos protestos, há cinco semanas.
O número de pessoas nas ruas ainda não atingiu o patamar visto na Tunísia e no Egito, onde a rebelião popular derrubou os governantes, mas à medida que cresce o número de mortos é possível que aumente também o número de sírios simpáticos à causa dos manifestantes.
Mortes
As informações sobre a violência durante os funerais de ontem são de testemunhas de diferentes cidades sírias. Há dificuldade para a confirmação dos relatos porque a Síria expulsou e restringiu o acesso a jornalistas no país. Fontes da agência Reuters disseram que, a exemplo do ocorrido na sexta-feira, quando 112 morreram, manifestantes entoaram cantos contra o ditador Assad, pedindo abertura política e reformas no regime. As pessoas gritavam "o povo quer a queda do regime" e "Bashar, seu covarde, leve seus soldados para Golã", numa referência às colinas de Golã, na fronteira com Israel, local pacífico desde um cessar-fogo em 1974.
O desdobramento da crise política na Síria atrai grande interesse na região. O país é um dos principais aliados do Irã, mas mesmo Israel com quem Damasco tem contenciosos vê com desconfiança as revoltas, temeroso de que um novo líder seja mais hostil aos seus interesses.
O presidente dos EUA, Barack Obama, qualificou a violência da repressão no país de "revoltante e disse que o regime recorre a Teerã para conter os oposicionistas.