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Governo perto do fim?

Trudeau enfrenta crescente rejeição no Canadá e até aliados já pedem sua saída

Governo perto do fim? Trudeau enfrenta crescente rejeição no Canadá e aliados já pedem sua saída
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau (Foto: EFE/ Mariscal ARCHIVO)

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O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, enfrenta o momento mais crítico de sua carreira política. Após quase uma década no poder, sua popularidade despencou: cerca de 67% dos canadenses desaprovam sua gestão, segundo pesquisa da Ipsos de setembro. A insatisfação, antes restrita à oposição, agora se estende até mesmo ao próprio Partido Liberal, liderado por ele, onde aliados, temendo uma derrota expressiva nas próximas eleições, já pedem pela sua saída. Mesmo pressionado por correligionários a renunciar, Trudeau tem resistido e insiste que estará à frente de seu partido na disputa eleitoral de outubro de 2025.

Na semana passada, mais de 20 deputados do Partido Liberal, que no Canadá aglutina políticos da ala mais progressista do país, manifestaram abertamente seu desejo pela saída de Trudeau. Durante uma reunião a portas fechadas em Ottawa, capital do país, o parlamentar Patrick Weiler, da base progressista, leu uma carta apoiada por cerca de 24 membros do partido, pedindo que Trudeau renuncie ainda este ano para evitar uma derrota histórica no próximo pleito. Na ocasião, fontes afirmaram à agências internacionais de notícias que o premiê teria falado sobre o “custo pessoal” da atual crise que envolve seu governo, mas rejeitou as críticas e, com lágrimas nos olhos, teria pedido “união entre os colegas”.

A situação política de Trudeau se deteriora em meio à crescente insatisfação pública com questões econômicas e sociais. Pesquisa recente da empresa Abacus Data indica que apenas 20% dos canadenses desejam que ele dispute a reeleição, enquanto mais de 60% da população prefere que o primeiro-ministro abandone o cargo imediatamente. Os motivos apontados incluem o aumento do custo de vida, a falta de moradias acessíveis e a deterioração dos serviços públicos.

Além dos motivos citados acima, a política migratória de Trudeau, antes vista como uma resposta humanitária e econômica para o Canadá, também passou a ser duramente criticada. O país passou a aceitar mais de 200 mil imigrantes por ano, com a expectativa de que isso impulsionaria o crescimento econômico. No entanto, a medida teve efeito contrário. Os altos níveis de imigração estão sendo associados ao aumento dos preços de moradia e à sobrecarga dos serviços sociais, o que afeta diretamente a qualidade de vida da população. Em resposta às críticas, Trudeau anunciou recentemente que seu governo reduzirá o número de residentes permanentes aceitos no país nos próximos três anos, sendo uma redução de 21% já para 2025.

A insatisfação com o primeiro-ministro também encontra eco em problemas econômicos mais amplos. Nos últimos anos, o custo de vida no Canadá aumentou drasticamente, afetando principalmente os cidadãos de baixa e média renda. Os preços elevados de moradia e bens de consumo também são algumas das queixas recorrentes, com muitos apontando que as políticas econômicas de Trudeau não têm sido eficazes para enfrentar esses problemas. Além disso, questões relacionadas ao sistema de saúde e à segurança pública também geram críticas à gestão progressista.

O país está até observando sua economia crescer, mas de forma bem lenta. Desde 2022, a economia canadense cresceu a uma taxa muito inferior à dos Estados Unidos, por exemplo. Segundo informações da revista britânica The Economist, historicamente, a economia canadense e a americana mostraram um crescimento relativamente similar, especialmente entre 2009 e 2019, quando o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 27% e o do Canadá aumentou 25%. No entanto, desde a pandemia de Covid-19, as duas economias começaram a divergir. Enquanto a dos EUA acelerou após a pandemia, a canadense ficou para trás. A queda no crescimento econômico do país é atribuída ao enfraquecimento do setor de serviços e à desaceleração da indústria de petróleo e gás, bem como aos intensos lockdowns promovidos pelo governo durante a pandemia. Segundo o banco central canadense, a pressão financeira sobre as famílias está em níveis recordes, com uma média de 15% da renda comprometida com dívidas.

Além dos desafios econômicos, Trudeau ainda carrega o peso de escândalos que abalaram sua credibilidade. Em 2019, foi acusado de violar leis de conflito de interesse ao tentar influenciar a então procuradora-geral do Canadá, Jody Wilson-Raybould, a paralisar um processo de corrupção contra a construtora SNC-Lavalin, que disputa contratos milionários no país. Ainda há os problemas envolvendo as acusações de interferência estrangeira - principalmente da China -, a favor dos progressistas em eleições recentes. Embora o Partido Liberal tenha conseguido vitórias eleitorais em 2019 e 2021, ambas foram com governos minoritários e menos apoio popular.

Outro fator que contribui para a crescente desaprovação é a percepção de que Trudeau está desconectado das preocupações reais dos canadenses. Seus críticos afirmam que o primeiro-ministro tem priorizado questões ideológicas e internacionais em detrimento de demandas locais. Em um contexto de aumento da insegurança e das dificuldades econômicas, essa postura é vista por muitos como um descompasso com as necessidades da população. Esse afastamento das questões cotidianas tem sido explorado pela oposição, especialmente pelo Partido Conservador, que tem capitalizado em cima do desgaste do governo progressista.

Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador, tem emergido como favorito para substituir Trudeau no cargo de primeiro-ministro. Segundo a pesquisa da Ipsos, realizada em setembro, 45% dos canadenses preferem que Poilievre seja o próximo premiê, enquanto apenas 26% querem Trudeau. Poilievre tem se destacado por críticas contundentes ao governo progressista, principalmente em relação ao aumento do custo de vida. Em discurso na Câmara dos Comuns, o Parlamento canadense, Poilievre disse que, se chegar ao poder, vai “cortar a burocracia, o desperdício e os contratos de consultoria”, bem como “limitar os gastos do governo com uma lei que exige a economia de 1 dólar para cada novo dólar gasto”.

Em setembro, o Partido Conservador apresentou uma moção de censura contra Trudeau, para removê-lo cargo, mas a medida foi rejeitada por 211 votos. Ainda em setembro, a legenda Novo Partido Democrático, que tinha um acordo com o partido de Trudeau até o final de seu governo, deixou a base aliada, em mais um sinal de descontentamento com o atual momento político do país.

Na reunião em Ottawa, Trudeau tentou minimizar as tensões dentro de seu partido, afirmando que “sempre tivemos discussões robustas sobre o melhor caminho a seguir”. No entanto, analistas afirmam que o desgaste da imagem de Trudeau e do Partido Liberal pode ser irreversível. Lori Turnbull, professora de ciência política da Universidade de Dalhousie, acredita que o cansaço dos eleitores é o principal desafio enfrentado pelo primeiro-ministro. “Quando a pessoa se torna desagradável, é isso. É muito difícil mudar de direção”, disse ela em entrevista ao jornal americano The Wall Street Journal.

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