Após as notícias da última sexta-feira (24) de que o governo chinês interveio nas eleições federais canadenses de 2021 em favor de Justin Trudeau, o primeiro-ministro está tentando desviar a atenção sobre preferências partidárias de Pequim.
“Não se trata de um partido contra outro”, disse Trudeau, que acusou o Partido Conservador de estar tentando politizar as alegações de interferência chinesa nas eleições.
Um aliado de Trudeau fez coro à postura do primeiro-ministro, ao citar um paralelo americano de questionamentos persistentes sobre integridade eleitoral.
“É a mesma tática da linha [Donald] Trump para questionar resultados de eleições no futuro”, afirmou Jennifer O’Connell, secretária parlamentar do Ministério de Assuntos Intergovernamentais.
As agências de inteligência canadenses apuraram que diplomatas chineses fizeram doações não declaradas para campanhas políticas no Canadá e recrutaram empresários locais para contratar estudantes estrangeiros para “designá-los como voluntários em campanhas eleitorais em período integral”, informou o jornal Globe & Mail na semana passada.
“Mais importante, os relatórios de inteligência mostram que Pequim estava determinada a impedir que os conservadores vencessem. A China empregou campanhas de desinformação e terceiros ligados a organizações sino-canadenses em Vancouver e na Grande Toronto, que têm grandes comunidades de imigrantes chineses, para expressar oposição aos conservadores e favorecer os liberais de Trudeau”, apontaram os jornalistas Robert Fife e Steven Chase.
O governo de Pequim divulgou mensagens por meio da mídia chinesa, como: “O Partido Liberal do Canadá está se tornando o único partido que a RPC (República Popular da China) pode apoiar”.
Documentos do Serviço de Inteligência de Segurança do Canadá (CSIS), o equivalente no país à CIA, obtidos pelos jornalistas revelaram que o Partido Comunista Chinês “pressionou seus consulados a criar estratégias para alavancar membros e associações politicamente [ativas] da comunidade chinesa dentro da sociedade canadense".
O objetivo da intromissão da China nas eleições era obter apoio para os planos da China de anexar Taiwan, bem como minimizar os abusos contínuos dos direitos humanos em Xinjiang e Hong Kong.
Fontes do CSIS também descobriram que o antigo cônsul-geral de Vancouver, Tong Xiaoling, e seu sucessor, Wang Jin, fizeram tentativas explícitas de influenciar as organizações sino-canadenses a votar no Partido Liberal.
Na sexta-feira passada, outra agência canadense também revelou que três fontes anônimas do CSIS descobriram que Han Dong, um parlamentar recém-eleito do Partido Liberal, provavelmente era membro de uma “rede de interferência estrangeira” chinesa mais ampla. Dong foi escolhido para suceder o parlamentar Geng Tan, que teria deixado insatisfeito o consulado chinês em Toronto.
Apesar de ter sido alertado em setembro de 2022 sobre as acusações, Trudeau nada fez a respeito.
Ex-aliados de Trudeau agora exigem que o premiê abra um inquérito para investigar o assunto.
“As mudanças radicais na geopolítica e os avanços tecnológicos dos últimos anos mostram que estamos em um mundo diferente e mais perigoso, onde muitos atores estrangeiros têm interesse em prejudicar as instituições democráticas e possuem a capacidade de fazê-lo”, disse um ex-secretário de Trudeau ao Globe & Mail no domingo (26).
No entanto, Trudeau aparentemente se satisfez com uma investigação liderada pelo Comitê de Procedimentos e Assuntos Internos da Câmara dos Comuns, e refutou pedidos de inquérito público.
Em uma ação potencialmente relacionada, o governo Trudeau anunciou que o TikTok, o aplicativo de mídia social chinês, seria removido de todos os dispositivos do governo federal nesta terça-feira (28).
©2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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