O presidente dos EUA, Donald Trump, surpreendeu, em discurso na noite desta segunda-feira (21), ao anunciar uma nova estratégia para o Afeganistão, sem especificar quantos militares enviará ao país agora ou prazos para a futura retirada das tropas. Segundo ele, não falar sobre números de contingente ou datas é parte da sua nova diretriz para a mais longa guerra dos Estados Unidos, que já dura 16 anos.
"Um pilar fundamental da nossa nova estratégia é a mudança de uma abordagem com base no tempo para uma com base nas condições [em campo]", disse o presidente.
"Já disse muitas vezes o quão contraproducente é para os EUA anunciar antecipadamente quando pretendemos começar ou terminar operações militares. Não vamos falar sobre números de soldados ou sobre nossos planos para as próximas atividades militares", completou.
O envio de mais soldados é uma demanda do Pentágono desde o início do seu governo, diante da deterioração da situação de segurança, com as tropas afegãs não conseguindo conter o avanço talibã e de facções ligadas ao Estado Islâmico.
Além das alegadas questões de segurança, no entanto, não estabelecer uma data para a retirada é também uma tática de autoproteção de Trump para o caso de possíveis mudanças de planos -como ocorreu por várias vezes com Barack Obama, que chegou a prever uma retirada total até 2016.
Guerra ao terror
Hoje, há 8.400 militares americanos no Afeganistão, sendo que 6.941 fazem parte das forças da Otan (aliança militar ocidental), e o restante, de missões de contraterrorismo.
Em 2013, Trump era crítico ferrenho da presença americana do Afeganistão e defendia uma "retirada acelerada". "Por que continuamos gastando nosso dinheiro? Vamos reconstruir os EUA!", escreveu Trump em janeiro de 2013.
No discurso, realizado no forte ao lado do cemitério militar de Arlington, onde estão enterrados veteranos de guerra, o presidente reconheceu ter mudado de ideia sobre a retirada.
"Meu instinto original foi sair [do Afeganistão] e, historicamente, gosto de seguir os meus instintos. Mas durante toda a minha vida eu escutei que as decisões são muito diferentes quando você está sentado atrás da mesa no Salão Oval", disse.
Agora, Trump diz considerar que "uma retirada apressada criaria um vácuo que terroristas -incluindo o Estado Islâmico [EI] e a Al-Qaeda- ocupariam instantaneamente, como ocorreu antes do 11 de Setembro". O presidente, que até hoje culpa a decisão de Obama de sair do Iraque pela ascensão do Estado Islâmico, afirmou que os EUA "não podem repetir no Afeganistão o erro que foi cometido no Iraque".
'Microgerenciamento'
Outra mudança anunciada por Trump é uma maior autonomia para as Forças Armadas americanas para "mirar as redes terroristas e criminosas que semeiam a violência e o caos em todo o Afeganistão".
"O microgerenciamento de Washington não vence batalhas. Elas são conquistadas em campo com base no julgamento e na experiência dos comandantes da guerra e dos soldados da linha de frente que atuam em tempo real e com uma clara missão para derrotar o inimigo", disse o presidente.
Para "ajudar" na sua nova estratégia, Trump mandou recados ao Afeganistão, ao Paquistão, à Índia e aos seus aliados na Otan.
Ao governo afegão, disse que o apoio americano não é um "cheque em branco". "Os EUA vão trabalhar com o governo afegão até que vejamos determinação e progresso. Nosso compromisso não é ilimitado e nossa ajuda não é um cheque em branco. O povo americano quer ver reformas e resultados reais", afirmou, destacando que os EUA não estarão lá para "construir uma nação", mas para matar terroristas.
Paquistão
Trump anunciou que um dos importantes pilares da nova estratégia para o Afeganistão é mudar a política americana em relação ao Paquistão. Segundo ele, é hora de o país mostrar que seu "compromisso com a civilização".
"Não podemos mais nos calar sobre os locais seguros que o Paquistão garante para as organizações terroristas, os talebans e outros grupos que representam uma ameaça para a região e além dela", disse. "O Paquistão tem muito a ganhar com a parceria com o nosso esforço no Afeganistão. E tem muito a perder se continuar abrigando criminosos e terroristas."
O presidente também instou a Índia, "a maior democracia do mundo", a se juntar aos esforços contra o terrorismo na região, e os países da Otan, a aumentarem sua contribuição financeira e militar no país. Os EUA representam hoje 51% do efetivo da aliança no Afeganistão.
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