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Lideranças dos países do G-7 posam para foto antes das reuniões: alegria aparente esconde tensões com o presidente americano Donald Trump | GEOFF ROBINS/AFP
Lideranças dos países do G-7 posam para foto antes das reuniões: alegria aparente esconde tensões com o presidente americano Donald Trump| Foto: GEOFF ROBINS/AFP

O presidente Donald Trump disse que a Rússia deveria ser readmitida no G-7, o grupo das maiores economias industrializadas, quatro anos após ter sido expulsa por causa da anexação da Crimeia. Isto provocou ainda mais os aliados americanos, que já estão indignados com o protecionismo do líder americano.

A declaração foi feita na Casa Branca, antes dele viajar para cúpula anual do G-7, que acontece em Quebec, no Canadá, e gerou um mal estar diplomático. Trump chegou atrasado ao encontro e planeja sair mais cedo. 

Trump admitiu que a sua declaração pode não ser politicamente correta e aparentou não dar atenção à ira dos membros do G-7, que consideram que Washington está estabelecendo barreiras comerciais injustas. “Todos estes países tem tirado vantagens dos EUA no comércio”, disse ele. Desde o começo de seu mandato, o presidente americano não tem mostrado simpatia pela organização internacionais. 

Temos grandes déficits com esses países. Nós mudaremos esta situação. E digo mais: é o que farei. Não será difícil. E, no final das contas, todos nos daremos bem.

Aparentemente, Trump se entendeu bem com outros líderes, ao chegar ao resort que sedia a cúpula. Mas chegou demasiadamente tarde para uma reunião programada com o presidente francês Emmanuel Macron, que tem sido um dos críticos mais duros de Trump em relação ao comércio exterior. 

Os comentários de Trump sobre a Rússia, entretanto, foram um repúdio à posição tomada pelo G-7 em 2014, ao excluir o país europeu devido ao que os membros remanescentes chamam de anexação ilegítima da Crimeia. Outros membros do G-7, incluindo os líderes do Reino Unido, Alemanha e França não concordam com o apelo de Trump, indicando que a sugestão poderia dividir o grupo e fazê-lo mais ineficiente. 

A primeira-ministra britânica Theresa May disse que importante comprometer-se com a Rússia. “Mas antes que as discussões possam começar sobre isto, deveríamos assegurar que a Rússia está modificando sua trajetória .” 

A posição de Trump foi apoiada por Giuseppe Conte, o novo primeiro-ministro da Itália. 

Trump quer reforçar relações com a Rússia

O presidente tenta ampliar o relacionamento entre os Estados Unidos e a Rússia desde que chegou ao poder. Entretanto, ele vem enfrentando forte resistência de parlamentares por adotar essa estratégia. O governo americano e outros países impuseram pesadas restrições à Rússia, após a anexação da Crimeia. 

Agências americanas de inteligência disseram que tem grande confiança de que a Rússia interferiu nas eleições de 2016. Um dos objetivos da cúpula do G-7 deste ano é discutir como proteger as democracias de interferências externas. 

O promotor especial Robert Mueller está investigando os esforços de interferência russa, incluindo se a campanha de Trump conspirou de alguma forma com autoridades russas. A investigação tornou-se uma obsessão para o presidente americano. 

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A sugestão de Trump sobre a possibilidade de readmitir a Rússia recebeu duras críticas pesadas de seus opositores. Charles Schumer, líder da minoria no Senado, disse que Trump está fazendo com que a política externa norte-americana se torne uma piada internacional. 

O senador John McCain, presidente do Comitê de Serviços Armados do Senado, disse que “Vladimir Putin escolheu tornar a Rússia indigna de pertencer ao G-8 ao invadir a Ucrânia e anexar a Crimeia.” O parlamentar foi um dos primeiros a pedir a exclusão da Rússia do que era o então G-8. 

Desafio à ordem internacional

Trump praticamente pôs fim à cúpula do G-7 desde ano, inclusive antes que ela começasse, ao levantar a possibilidade de assinar uma declaração conjunta com os outros líderes, que afirmavam princípios e valores compartilhados em comum.  Nos últimos meses, o presidente americano tem pressionado para anular por completo muitas das instituições criadas posteriormente à Segunda Guerra Mundial, que tem por objetivo fortalecer as relações internacionais. Criou-se uma intensa tensão antes da cúpula no Canadá e os principais lideres se questionam se estão em meio a um cenário disruptivo provocado pelos Estados Unidos. 

“A ordem internacional está sendo desafiada”, disse o presidente da Comissão Europeia, Donald Tusk. “E o que mais surpreende, não é pelos suspeitos de sempre, mais sim pelo seu principal arquiteto e garantidor, os Estados Unidos. Não deixaremos de tentar convencer ao amigos norte-americanos de que minar esta ordem não faz nenhum sentido.” 

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Em resposta à proposta de Trump sobre a Rússia, Tusk disse que isto tornaria o grupo mais dividido. “Penso que é mais importante convencer os parceiros americanos para fortalecer nosso formato como garantidor da ordem mundial, do que olhar para algo novo, mais difícil e mais desafiador.” 

Moscou não quis se pronunciar publicamente sobre o que Trump disse. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia prefere enfatizar outras formas de conversações internacionais. 

Konstantin Kosachev, presidente do Comitê de Relações Externas da Câmara Alta do Parlamento, disse que o país só voltará ao grupo se forem respeitadas as suas exigências: “com o cancelamento das sanções e os interesses respeitados. O G-8 precisa mais da Rússia do que a Rússia necessita do G-8.” 

Ameaças comerciais

Trump voltou a reiteirar os planos de adotar uma postura firme em relação ao comércio com os aliados dos Estados Unidos. Ele ameaçou, novamente, retirar os Estados Unidos do Nafta. “Temos de muda-lo e eles (Canadá e México) têm de entender que isso acontecerá. Se formos incapazes de fechar um acordo, acabaremos com o Nafta. E faremos um acordo melhor.” 

Em um post no Twitter, Trump afirmou que os Estados Unidos emergiriam vitoriosos se outros países se recusassem a concordar com suas demandas comerciais, sugerindo que poderia adotar uma estratégia de “pegue ou deixe” nas negociações com outros lideres mundiais. 

Na quinta à tarde, quando as tensões entre Trump e os líderes da França e Canadá aparentavam estar em seu ponto mais alto, o presidente americano prometeu impor novas tarifas e outras penalidades econômicas contra a União Europeia e o Canadá se eles não permitirem mais importações americanas em seus países. 

Muitos dos lideres mundiais que estão na Cúpula tentaram convencer Trump a apoiar instituições multilaterais ao invés de adotar sua agenda protecionista, conhecida como “America First”. 

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Nas últimas semanas, há sinais de que os líderes mundiais estão mudando de abordagem e podem encarar Trump de outra forma, particularmente após a Casa Branca anunciar que começaria, neste mês, a impor tarifas sobre o aço e o alumínio importado dos aliados americanos. 

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que Trump estava isolando os Estados Unidos e sugeriu que os líderes mundiais simplesmente esperassem terminar o mandato de Trump para depois retomar a parceria com os Estados Unidos. 

Trump está envolvido em várias guerras comerciais, com numerosos países da Europa, América do Norte e Ásia. Ele quer que a Europa e o Japão reduzam as tarifas nas importações de carros. Quer que a China compre mais produtos agrícolas dos Estados Unidos e está pressionando as autoridades mexicanas a uma série de mudanças no Nafta e quer que todo esse pacto tenha validade de cinco anos. 

Seu ponto de vista é de que outros países impuseram tarifas desleais, limitando as importações americanas, enquanto os Estados Unidos permitiu involuntariamente que esses países comercializassem produtos de baixo custo, prejudicando as empresas e os trabalhadores americanos. 

Terreno instável para presidente americano

Os líderes internacionais estão cientes do terreno instável em que Trump se encontra quando faz estas ameaças comerciais, já que um número crescente de seus partidários no Congresso tem expressado sua indignação. Alguns deles estão estudando formas para limitar os poderes do presidente americano. 

Grupos empresariais americanos, preocupados com possibilidade de aumento nos custos por causa das ameaças de Trump, estão pressionando o Congresso a agir. 

Ao mesmo tempo, o Kremlin parece gostar dessa postura de uma escalada no conflito entre Trump e seus principais aliados. Frequentemente, Putin tem alertado sobre os perigos de um mundo dominado pelos Estados Unidos. Ele afirmou que com as tarifas impostas por Trump ao alumínio e o aço, os europeus estavam obtendo o que mereciam por terem dado uma excessiva deferência a Washington. 

“Nossos parceiros (a União Europeia) provavelmente pensaram que estas políticas contraproducentes nunca os afetariam”, disse Putin. “Ninguém quis escutar e ninguém fez nada para deter essa situação. Eis a situação a que se chegou.”

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