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Como se a campanha presidencial americana já não estivesse repleta de polêmicas, outubro chegou trazendo mais uma surpresa (a maior talvez) para a disputa eleitoral mais importante do planeta: o presidente Donald Trump, postulante à reeleição, anunciou que está com Covid-19 – 32 dias antes da votação. No mesmo dia do anúncio, Trump foi levado a um hospital militar onde passará alguns dias como medida de precaução, segundo a Casa Branca.
Os primeiros sintomas da doença foram sentidos pela campanha do republicano. Embora ele continue com suas funções de presidente enquanto está em quarentena na Casa Branca – junto com sua esposa, Melania Trump, que também foi diagnosticada com o novo vírus – Trump teve que cancelar seus compromissos eleitorais imediatos. Um comício na Flórida, um dos estados que deve decidir as eleições, foi cancelado. Viagens para arrecadação de fundos de campanha que estavam marcadas para os próximos dias também devem ser riscadas da agenda, já que, mesmo que o republicano esteja apenas com sintomas leves, ele deve ficar em isolamento. O próximo debate, marcado para 15 de outubro, ainda é uma incógnita.
Essa ausência do contato com o público pode prejudicar a campanha de Trump. Estar perto dos eleitores enquanto o adversário democrata adota uma postura mais cautelosa em relação a aglomerações por causa da pandemia é uma das armas políticas do candidato à reeleição. Por meses o republicano zombou que Joe Biden estava fazendo campanha “escondido em seu porão”. Agora Trump será forçado a ficar “escondido” na Casa Branca no momento mais crucial da eleição.
Essa situação está sendo apontada como uma ironia do destino por muitos críticos de Trump e certamente será explorada pela campanha de Biden. Rob Stutzman, estrategista político republicano anti-Trump, disse ao site Politico que este foi um "golpe devastador" na campanha de Trump. Outro estrategista republicano que trabalhou para George H. W. Bush disse à publicação que a notícia pode ser vista como uma validação da postura de Biden ao ficar isolado para se proteger da infecção.
A notícia também volta o foco da imprensa para a pandemia, que é um dos assuntos menos favoráveis ao incumbente da Casa Branca: os Estados Unidos são o país com mais casos (7,3 milhões) e mortes (207,6 mil) no mundo e cerca de 6 em cada 10 americanos desaprovam a resposta da administração Trump à pandemia, segundo pesquisa do instituto Gallup, conduzida no fim de setembro, embora a percepção esteja fortemente atrelada à inclinação partidária dos entrevistados. Pesquisas de opinião pública no decorrer deste ano mostraram que, sempre que a pandemia era um dos assuntos mais comentados na imprensa, a popularidade de Trump caía.
Contudo, se Trump tiver sintomas leves e uma rápida recuperação – como é esperado, segundo seus médicos – ele pode usar isso como argumento de que a doença não é tão grave – semelhante ao que fez o presidente Jair Bolsonaro. Existe também a possibilidade de que o diagnóstico cause uma onda de simpatia pelo presidente americano.
Outras variáveis derivadas desta nova situação também podem mexer com a corrida eleitoral. Embora o médico conselheiro de Trump, Dr, Scott Atlas, tenha dito que espera que o presidente e a primeira-dama tenham uma “recuperação completa e rápida” e que não há motivos para pânico, se a situação de saúde do presidente, que tem 74 anos, se deteriorar, ele pode ter que abandonar a corrida eleitoral. A hipótese é remota, mas se isso ocorrer, os 168 membros do Comitê Nacional Republicano terão que escolher um nome para substituí-lo.
Biden continua na dianteira da corrida eleitoral, embora Trump tenha conseguido, nos últimos meses, diminuir a diferença em relação ao adversário. Segundo a média desta sexta-feira no site Real Clear Politics, o democrata está na frente por 7,2 pontos percentuais em nível nacional – embora a disputa seja decidida nos estados. Ainda é preciso esperar para ver como a notícia sobre o diagnóstico de Trump vai influenciar as previsões. Biden, que esteve em contato com Trump durante o primeiro debate presidencial que ocorreu na terça-feira (29), testou negativo para Covid-19 nesta sexta-feira e até agora a campanha do democrata não anunciou alterações na agenda do candidato, que tem viagem marcada para o Michigan nesta sexta-feira.
Outro fator a se considerar: a eleição está marcada para 3 de novembro, mas muitos americanos já estão votando antecipadamente. De acordo com a Forbes, pelo menos dois milhões já haviam registrado seu voto até o fim de setembro.