O presidente dos EUA, Donald Trump, no Salão Oval da Casa Branca: republicano prometeu retorno à “era de ouro” do país em seu segundo mandato
O presidente dos EUA, Donald Trump, no Salão Oval da Casa Branca: republicano prometeu retorno à “era de ouro” do país em seu segundo mandato| Foto: EFE/EPA/AL DRAGO / POOL
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Os EUA sofreram uma mudança drástica em sua política interna e externa nos primeiros dois meses de retorno do presidente Donald Trump à Casa Branca.

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O líder republicano havia prometido durante a campanha derrubar uma série de medidas woke implementadas por seu antecessor, Joe Biden, e "instaurar a era de ouro" do país.

Nesse curto período, ele já cortou bilhões de dólares em gastos federais, pressionou por demissões em massa no funcionalismo público e colocou Washington no centro das negociações de paz sobre guerras em curso há anos.

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O diálogo mantido com os líderes da Rússia e da Ucrânia ganhou os holofotes na imprensa internacional, nos últimos dias. Os EUA tentam alcançar um acordo para encerrar o conflito que dura mais de três anos, mas têm obviamente esbarrado em obstáculos antigos, como a insistência do ditador russo, Vladimir Putin, em manter territórios invadidos, enquanto Kiev rejeita essa possibilidade.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, durante reunião tensa com Trump, no Salão Oval da Casa Branca em fevereiro. Foto: EFE/EPA/JIM LO SCALZO / POOL| Foto: EFE/EPA/JIM LO SCALZO / POOL

Na terça-feira, Putin acabou concordando com uma trégua temporária e pontual nos ataques à infraestrutura energética ucraniana, apesar do presidente Volodymyr Zelensky denunciar que o Kremlin descumpriu o acordo no dia seguinte.

Nesta quinta-feira, o líder ucraniano disse que aguarda um documento comprovando o acordo firmado com Putin, visto que Moscou segue atacando Kiev com drones. "Enquanto não houver acordo, enquanto não houver um documento correspondente sobre um cessar-fogo parcial, haverá ataques", afirmou Zelensky.

No próximo domingo, autoridades americanas se reunirão novamente com representantes russos na Arábia Saudita, país que virou o centro das negociações sobre a guerra. Ainda não foi confirmada participação de representantes da Ucrânia nas conversas.

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Até o momento, o retorno de Trump à Casa Branca foi o movimento mais impactante que rendeu uma primeira aproximação entre os países para negociar o longo e violento conflito, mas ainda é cedo para acreditar em um cessar-fogo permanente entre as partes.

Crise interna: Executivo X Judiciário

Enquanto os assuntos externos ganham novos contornos com a volta de Trump, a política interna americana também sofreu uma mudança radical, com embates diretos entre o Judiciário e a administração republicana, observados nos últimos dias.

Desde o final de semana, o governo Trump tem sido pressionado por um juiz federal sobre a política de deportação de criminosos venezuelanos para El Salvador. O episódio tem gerado discussões sobre os limites de interferência do Judiciário nas ações do Executivo.

O magistrado James Boasberg, nomeado pelo ex-presidente Barack Obama, mas que possui apoio bipartidário, decidiu contra os planos de deportação de Donald Trump no sábado, enquanto aviões com os venezuelanos já estavam no ar em direção a El Salvador, onde seriam recebidos pelo governo de Nayib Bukele após um acordo entre os países.

Bukele e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, discutiram acordo de deportação em fevereiro. Foto: EFE/ Governo de El Salvador| Foto: EFE/ Governo de El Salvador
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Trump invocou a Lei de Inimigos Estrangeiros, de 1798, que permite a expulsão de não cidadãos sem uma audiência judicial.

Desde então, o juiz tem solicitado ao Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês) mais informações sobre os voos que levaram os deportados. O DOJ argumenta que o tribunal deve encerrar suas "intrusões contínuas" na autoridade do Poder Executivo, ignorando as determinações judiciais.

O DOJ afirmou que os questionamentos do juiz são "graves violações em aspectos essenciais da autoridade absoluta do Poder Executivo relacionadas à segurança nacional, relações exteriores e política externa".

Em meio ao impasse, o presidente Trump defendeu o impeachment do magistrado, o que provocou uma repreensão do presidente da Suprema Corte dos EUA, John Roberts.

A Casa Branca pediu ao Supremo, nesta quarta-feira, que "controlasse juízes ativistas". Segundo a secretária de imprensa de Washington, Karoline Leavitt, "temos juízes que estão agindo como ativistas partidários do tribunal. Eles estão tentando ditar políticas ao presidente dos EUA. Eles estão tentando claramente desacelerar a agenda desta administração, e isso é inaceitável".

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Trump de olho em territórios fora dos EUA

Nos dois meses em que assumiu um novo mandato, Trump também reiterou antigas ambições de controlar territórios fora dos EUA.

Um deles é o Canal do Panamá, de que o presidente disse querer "retomar o controle". Segundo ele, a infraestrutura, que corta a América Central e é considerada estratégica para o comércio global, estaria sob influência crescente da China, que desde 2017 vem fortalecendo sua presença no país centro-americano, visando expandir sua influência na América Latina e ameaçar os interesses dos EUA.

A Groenlândia também virou prioridade na agenda presidencial devido ao crescente interesse de outras potências nos recursos do território.

Plano para Gaza foi apresentado após encontro entre o presidente Trump e o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, em fevereiro. Foto: EFE/EPA/SHAWN THEW / POOL| Foto: EFE/EPA/SHAWN THEW / POOL

Mais recentemente, Trump anunciou um plano para tornar a Faixa de Gaza a "Riviera do Oriente Médio", o que provocou forte reação de países árabes em discordância, e tem feito declarações sobre a anexação do Canadá como o 51º estado americano.

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"Tarifaço" contra Europa, países vizinhos e Brasil

Outra marca dos dois meses de Trump é a série de tarifas impostas a diversos países aliados, sob o argumento de que eles apenas "sugavam" as benesses da economia americana, sem dar nada em troca ao país.

Com a medida, a administração republicana acabou gerando atrito com o Canadá, União Europeia (UE) e aumentou as tensões com a China, uma grande concorrente comercial.

No início do mês, os EUA começaram a aplicar tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio importados do mundo todo, incluindo do Brasil, o que gerou reações imediatas de Ottawa, de Pequim e dos europeus.

A UE anunciou contramedidas que serão aplicadas às exportações de bens americanos no valor de até 26 bilhões de euros. Já o Canadá impôs tarifas de 25% sobre US$ 20,7 bilhões de produtos dos EUA.

Trump afirmou aos europeus que pretende responder à decisão com novas cobranças. Entre as possibilidades expressas pelo presidente dos EUA está uma tarifa de 200% sobre vinhos e outras bebidas alcoólicas procedentes da União Europeia.

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Em fevereiro, Washington começou a cobrar uma taxa de 10% sobre todos os produtos importados da China, que posteriormente dobrou com medidas retaliatórias de Pequim sobre alguns produtos americanos, como os agrícolas.

Um dos objetivos centrais da política tarifária de Trump é o de impulsionar a indústria nacional americana e proteger empregos, por meio do aumento dos impostos cobrados a empresas estrangeiras.

O presidente também busca alcançar um "equilíbrio comercial" com seus parceiros externos, ajustando as importações e exportações dos EUA.