Se Donald Trump não concorrer às eleições presidenciais de 2024, há grandes chances de que um candidato apoiado por ele esteja na disputa pela Casa Branca contra os democratas. Apesar do recente processo de impeachment, o ex-presidente deu uma demonstração de força política neste fim de semana durante a Convenção Anual de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês) e mandou um recado para seus críticos republicanos: ele continua sendo o líder do partido e os políticos que não seguirem a agenda “America First” correm o risco de perder as próximas eleições.
Trump, que recebeu a honra de encerrar a convenção conservadora neste domingo, foi ovacionado diversas vezes durante seu discurso. Em determinado momento, a audiência entoou “nós te amamos”. O evento contou até com uma estátua dourada em homenagem a ele, obra do artista Tommy Zegan, que despertava nos visitantes a vontade de tirar uma foto.
Críticas ao ex-presidente não tiveram espaço na convenção. Aliás, políticos que apoiaram o segundo impeachment, como o senador Mitt Romney e a deputada Liz Cheney, sequer estavam presentes e foram atacados por Trump, que disse que os “republicanos apenas no nome” vão destruir o partido com sua desunião.
A postura do então presidente durante a invasão do Capitólio em 6 de janeiro causou uma onda de dissidências no partido republicano. A ideia da fundação de um terceiro partido começou a ser aventada por políticos conservadores que não se identificam com a agenda proposta por Trump. Mitch McConnell, senador republicano aliado de Trump durante os quatro anos de governo, criticou veementemente o ex-presidente, apesar de ter votado contra o impeachment.
Trump acredita que esse movimento contra ele só tende a enfraquecer o partido, mas aparentemente não opta por um caminho de conciliação com seus críticos. Como ainda é amplamente apoiado pelo eleitorado, espera que, no devido tempo, eles voltem a apoiá-lo ou a ignorar seu discurso inflamatório em nome de um bem maior: a retomada da maioria republicana nas duas casas do Congresso e a vitória na Casa Branca – McConnell já deixou claro que este é realmente o seu principal objetivo, dizendo que deve haver um cuidado para que os nomes escolhidos nas primárias republicanas a cargos legislativos não sejam radicais e defensores de teorias conspiratórias que terão poucas chances de vencer contra um democrata.
A ideia de que Trump também poderia fundar outro partido caiu por terra. O empresário fez questão de salientar que ele não precisa disso, pois detém a liderança no Partido Republicano. “Não vamos começar um novo partido. Eles ficam falando que ‘Trump vai começar um partido novo’. Nós temos o partido republicano. Ele será unido e forte como nunca antes. Não vou começar um partido novo”, salientou.
Depois, Trump sugeriu que poderia ser o candidato dos republicanos em 2024: “Primeiro vamos retomar a Câmara, e depois um presidente republicano fará um retorno triunfante à Casa Branca. Eu me pergunto quem será”. Uma pesquisa de opinião realizada durante o evento mostrou que o ex-presidente foi o nome mais citado pelos visitantes para concorrer a presidente nas próximas eleições pelo Partido Republicano – 55% o escolheram.
Embora a sondagem no evento não seja um bom parâmetro para as primárias presidenciais republicanas, ainda mais pelo fato de que o início do próximo ciclo eleitoral está bem longe, ela mostra que as demais opções de candidatos também são nomes ligados a Trump. O governador da Flórida, Ron DeSantis, bastante alinhado à agenda trumpista, foi o segundo nome mais citado na pesquisa (21%). Ele recebeu elogios dos conservadores pela forma como lidou com a pandemia do coronavírus, sem realizar lockdowns amplos – um dos motivos pelos quais a CPAC foi realizada em Orlando.
Além disso, 95% dos entrevistados da convenção disseram que querem que o Partido Republicano dê seguimento às políticas de Trump. Muitos deles se sentem enganados com a resposta dos governos à pandemia – um exemplo é o uso de máscaras, que inicialmente foi descartado pelas autoridades sanitárias dos EUA –, acreditam que elas afrontam os direitos dos americanos. Segundo análise da jornalista conservadora Tomi Lahren, que acompanhou o CPAC neste fim de semana, os políticos republicanos que devem se destacar nos próximos anos são aqueles que estão se colocando ao lado desses eleitores, defendendo, principalmente, a reabertura da economia e a defesa dos direitos individuais, em detrimento de medidas que visam controlar a disseminação do novo coronavírus.
Considerando o eleitorado geral republicano, o ex-presidente continua sendo a figura mais importante do partido. Uma pesquisa recente da Morning Consult mostrou que cerca de 60% dos entrevistados afirmam que Trump deve continuar desempenhando um papel importante dentro do partido.
É mais um indicativo de que o “trumpismo” – definido pelo próprio Trump como uma agenda que abrange uma política de imigração restrita, a aplicação da lei, o direito ao porte de armas e o conservadorismo fiscal e cultural – deve continuar firme e forte entre os republicanos.
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